Tudo pelo Poder e Boa Noite e Boa Sorte são dois ótimos filmes que continham sua força na excelente direção de George Clooney que, mesmo um tanto inexperiente, conduzia a narrativa com força e segurança, transformando ideias supostamente simples em verdadeiros estudos sociais (que envolviam temas sérios como política e poder ideológico). E não só isso: Clooney se mostrava eficiente ao contar histórias inteligentes e sofisticadas usando um ritmo lento, porém nunca entediante, conseguia desenvolver muito bem toda a lista de personagens que tinha em mãos e criar uma atmosfera inquietante (que beirava a tensão psicológica). São exatamente esses os motivos que fazem com que este Caçadores de Obras-primas se torne uma decepção de proporção inimagináveis, afinal Clooney parece ter ignorado o que fazia dois de seus filmes anteriores tão memoráveis (infelizmente, não tive a oportunidade de ver O Amor não tem Regras e Confissões de uma Mente Perigosa ainda).
Acompanhando um grupo de historiadores que tem a complicada missão de recuperar obras de arte das mãos dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial (premissa que poderia render o trabalho artisticamente mais rico do diretor até então), Caçadores de Obras-primas parece não saber como tratar seus personagens e, por isso, acaba simplesmente ignorando-os. O roteiro simplesmente opta por fortalecer (criar, na verdade) a relação entre as variadas figuras presentes na história sem ao menos explorar a personalidade delas. A verdade é que os “personagens” dentro da trama soam mais como caricaturas rasas e clichês do que pessoas autênticas, logo o espectador não consegue formar qualquer tipo de relação com os protagonistas. E é uma pena ver grandes atores como Bill Murray, John Goodman, Matt Damon e Jean Dujardin tentando, de alguma forma, conseguir alguma profundidade a seus papéis, mas falhando apenas por não terem um texto sólido onde apoiar. Enquanto isso, a única personagem minimamente desenvolvida pelo roteiro – e que também única do gênero feminino – é imensamente prejudicada por uma atuação mecânica e sem vida de Cate Blanchett (que aparece em tela apenas para ditar falas), algo que parece uma consequência direta da irregularidade da direção de atores.
Escrito de maneira desengonçada e sem foco, o roteiro de Caçadores de Obras-primas se perde logo no primeiro ato, quando introduz diversas sequências iniciais que pouco acrescentam à trama (o filme parece ter mais prólogos do que O Hobbit: Uma Jornada Inesperada), carregadas de diálogos supostamente expressivos, mas que na verdade não querem dizer muito. Infelizmente essa sensação perdura durante a maior parte da projeção (existem aqui e ali algumas cenas que fazem a história avançar, mas elas são raras). A verdade é que mesmo com uma excelente ideia, Caçadores de Obras-primas não tem história o suficiente para segurar a atenção do espectador por duas horas. Ficar entediado vendo o filme não é uma missão muito difícil. E os poucos momentos que tentam explorar a ação e a tensão que a trama oferece acabam se tornando frustrantes, já que são tão descartáveis quanto os intermináveis diálogos (a cena em que dois dos personagens trocam tiros com um garoto é extremamente decepcionante, e a sequência em que a vida do personagem de Damon parece estar em riso é ridiculamente longa).
Mesmo repleto de imperfeições em seu roteiro e em seu elenco, o grande problemas de Caçadores de Obras-primas se dá à partir da direção profundamente frágil de George Clooney: Exibindo o talento dos filmes citados anteriormente em alguns pouquíssimos momentos (desenvolvendo um diálogo de maneira peculiar e interessante), Clooney adota um tom equivocado e inconveniente ao inserir mais alívios cômicos do que o ideal. Na verdade, mesmo que Caçadores de Obras-primas seja classificado oficialmente como um drama, a fita é uma comédia com pequenos momentos reflexivos e introspectivos (o que é uma imensa decepção levando em conta o artifício básico do filme). Com isso, o diretor não só desfaz qualquer tentativa do público de encarar aquela história como algo dramaticamente sólido, como também transforma seu filme em uma grande piada. De uma forma ou de outra, espero ansiosamente o próximo trabalho de George Clooney, cultivando esperanças que ele consiga tirar o gosto amargo deixado por esta incógnita que é Caçadores de Obras-primas.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário