É estranho notar como a maioria dos brasileiros trata o cinema de seu país. É claro que vários filmes seguem padrões óbvios e batidos, mas é claro que de vez enquanto somos surpreendidos: Além de, recentemente, ver excelentes longas metragem que tinham como um tema já reciclado várias vezes pelos cineastas brasileiros - As Melhores Coisas do Mundo sobre adolescentes, e Tropa de Elite sobre drogas e violência – também presenciamos uma quebra de barreiras, que antes podiam ser vista claramente, com O Homem do Futuro que era uma comédia romântica com elementos de ficção científica. Foi assim que comecei a ver Os 3, uma produção do nosso país que contava com uma ideia no mínimo instigante e diferente do que estamos acostumados á ver, com a cabeça aberta e sem preconceitos:
Três adolescentes que moram juntos e são extremamente íntimos entre si, bolam um projeto para a faculdade que consiste em instalar câmeras em uma casa aparentemente normal e dar ao espectador a possibilidade de comprar os produtos usados pelos participantes – em poucas palavras: Um misto de reality-show e compras on-line. Á partir disso, a vida dos três jovens começa a entrar em uma montanha-russa onde nunca se sabe o que é real e o que não é, deixando todos eles á beira de uma explosão sentimental.
O problema é que já no primeiro ato Os 3 ignora algumas lições importantes que fazem um filme nacional ser bom: A direção mal resolvida é responsável por deixar o filme mais novelesco e esquemático do que seria o ideal, os atores não convencem em nenhum momento e ainda temos uma narração em off das mais forçadas possíveis. Porém, junto com o desenrolar da história também vemos grandes progressos em suas características – o que, obviamente, não tira a pobreza do ato inicial. A direção, talvez, seja o ponto que menos evoluí: O cineasta Nando Olival consegue usar ângulos criativos e sensuais para filmar a história dos três jovens, o problema é que o longa continua carregando aquela cara de telefilme até seu final, o que é uma pena, já que esse é o defeito que os brasileiros leigos em cinema usam para atacar os filmes nacionais.
Em contrapartida, o elenco principal se mostra eficiente, já que mesmo com cenas pessimamente interpretadas, cada ator do trio tem sua chance de provar seu talento: Juliana Schalch é de longe a fatia mais sem vida, já que Juliana surge apenas como uma ponte entre os dois rapazes. Gabriel Godoy é bem sucedido em transcrever as várias camadas emocionais que Cazé vai adquirindo conforme as situações vão se agravando, e Victor Mendes dá força ao personagem narrador (protagonista, realmente, não é a palavra mais correta), demonstrando uma sensibilidade e bom senso bem vindos. Os 3 ainda oferece o início de uma ótima e longa discussão sobre a geração atual, debatendo assuntos como invasão de privacidade e a falsidade de reallty-shows. Além disso, o texto explora e desenvolve muitíssimo bem a personalidade de cada um dos personagens, escancarando sem dó seu ponto de vista sobre o que está acontecendo no apartamento.
Mas se tem alguma coisa que faz com que Os 3 seja uma obra realmente relevante é seu jogo com o que é real e o que é ficção: Á partir de certo ponto o espectador começa a ficar perdido dentro dos acontecimentos e isso faz qualquer um se perguntar se aquela situações é encenação ou não (a cena da proprietária me enganou direitinho), e o mais interessante ainda é que depois de vários acontecimentos não só o espectador se vê perdido, como também os personagens (a declaração de amor é fenomenal e a cena do assalto funciona perfeitamente bem), o que, apesar de ser bastante improvável, é eficiente.
Porém, mesmo se apresentando como um avanço interessante dentro do cinema nacional, a história de Os 3 é um apanhado imenso de vários filmes do cinema americano e europeu, repetindo e reutilizando várias situações que já foram utilizadas com muito mais competência do que aqui. Aliás, se tirássemos a trama de reallity-show a produção não teria nada demais, sendo apenas um estudo cansativo sobre uma geração confusa e que insiste em provocar confusões sentimentais e faíscas sentimentais.
Com uma fotografia ótima e uma trilha sonora curiosa, Os 3 serve como entretenimento descompromissado e rápido, e mesmo tendo seus altos e baixos é um filme que representa um avanço narrativo e dramático dentro do cinema brasileiro. O problema é que com filmes brasileiros é assim: Junto com uma surpresa também vêm duas bombas, e como as produções boas geralmente são modestas, o público acaba se baseando nos filmes sobre pobreza e miséria (que quase sempre não fracos) e estrelados por celebridades da Rede Globo para fazer sua análise. Até quando?
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