Chega final de ano e já podemos esperar aquela safra de filmes feitos sob medida para o Oscar. Entre os diversos tipos destes tais, temos os filmes vindos de livros ou peças teatrais renomados, recheados de atores do primeiro time, os quais ficam responsáveis por segurar os já fortes textos do formato original. "Álbum de Família" entra totalmente nesta categoria.
Baseado na peça ganhadora do Pullitzer e do Tony (o Oscar do teatro), o longa conta a história da família Weston que acaba por se reencontrar novamente em razão do desaparecimento do patriarca da família, Beverly (Sam Shepard, de "Os Eleitos"). A partir daí, é um desfile de rostos conhecidos do grande público: Meryl Streep ("O Diabo Veste Prada"), Julia Roberts ("Uma Linda Mulher"), Ewan McGregor ("Star Wars"), Abigail Breslin ("Pequena Miss Sunshine"), Benedict Cumberbatch ("Sherlock"), Juliette Lewis ("Um Drink no Inferno"), Margo Martindale ("A Órfã"), Chris Cooper ("Adaptação") e Julianne Nicholson ("Law and Order: Criminal Intent").
Alguns você quase nem lembrará que passaram pela tela - McGregor, Breslin, Cumberbatch e Nicholson -, outros caem no lugar-comum irritante - Lewis - e outros se destacam - Streep, Martindale, Cooper e Roberts -. "Álbum de Família" se torna, no fundo, um filme carregado pelos atores. Na verdade, pelas atrizes.
Adaptado para o cinema pelo próprio autor da versão teatral, Tracy Letts, o roteiro do longa se mostra deficiente na transformação da peça em filme - algo que o próprio Letts já havia feito muito bem em "Killer Joe - Matador de Aluguel" -. A presença da teatralidade ali é pulsante e o texto pouco faz para amenizá-la, uma coisa que, por exemplo, "Deus da Carnificina" de Roman Polanski fez com razoável competência.
Muita da culpa disso ocorrer deve também ser creditada ao diretor do longa, John Wells ("A Grande Virada"), que num trabalho sem qualquer personalidade praticamente abdica da função de diretor, fazendo um uso de câmera absolutamente convencional e sem sal. Wells joga a responsabilidade para cima de seus time de atores - façam o filme! - e se finge de morto. Não há qualquer trabalho quanto a ângulos ou enquadramentos e deve ter sido a intenção mesmo.
Se diretor e roteirista não cumprem suas devidas funções, que reste aos atores tornar "Álbum de Família" digno de nota, né. E de certa forma é isso mesmo que acontece. Meryl Streep está over no ponto certo e entra num embate ferino com Julia Roberts para saber quem seria a dona do filme - ganhamos nós, com duas atuações espetaculares -. Já Martindale e Cooper, em composições bem mais sutis e comendo pelas beiradas, também se destacam.
No fim da sessão, fica a sensação de um longa absolutamente esquecível pela sua falta de ambição (impregnada na fraqueza do diretor e no engessado roteiro), cheio de subtramas pouco exploradas (o que se vê pela quantidade de membros da família que nem lembramos o nome), mas que compensa pela aula de atuação que recebemos de Streep e Roberts.
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