Meu primeiro comentário não poderia deixar de ser sobre este filme, que até hoje, me encanta.. por diversos fatores.
Inicialmente, o filme pode passar a impressão de prosaico, mal-filmado, com erro de sequência e corte, vide o momento em que a sombra muda de lugar no caminho em que o Willy Wonka faz com sua bengala, para abrir os portões da fábrica..
Contudo, numa segunda descrição, o filme passa a idéia de psicodelia, fortes cores e rapidez de conceitos, todos bem intruncados com a história principal, que é uma seleção para encontrar no meio do mundo todo, uma criança bondosa e que seja capaz de ser o sucessor do próprio Willy Wonka. Só que o que não é trivial, é que o percurso deste processo é marcado por sarcasmo, sinismo e uma genialidade, divinos, vividas pelo dono da fábrica.
Gene Wilder, em sua atuação brilhante, deu vida às frases e induções inteligentes e ácidas.. ao eliminar as crianças, ele não nos concede o direito de saber o que realmente aconteceu.. somos forçados a exercitar a imaginação, o que nos deixa mais intrigados e põe mais mistério no filme. Devemos isso ao próprio Roald Dahl, que criou o roteiro para o filme, a partir de seu livro, homônimo à filmagem. David Seltzer auxiliou Roald nesse processo, mas foi Roald quem deu movimento à sua imaginação.
Willi Wonka era firme, tinha propósitos e arquitetou seu plano com eficiência..
As crianças que encontraram o golden ticket, eram mistas.. cada criança tinha uma característica marcante, reprovada por Willy, e ignorada pelos pais, que incentivavam os comportamentos errados dos filhos.. Willy ensina a moral no filme de que as crianças devem ter bons comportamentos - do tipo, comer moderadamente, não ver tv o tempo todo, não ser mimado, se alimentar corretamente, pois assim, serão merecedoras de algo bom e grandioso.. isso é brilhante, e não é explorado no filme de 2005. Um ídolo infantil que promove o pensar... bom, muito bom.
Os oompa loompas complementam o mistério, já no início, quando um senhor diz ao Charlie, enquanto este 'namora' a frente da fábrica.. : 'Up the airy mountain, down the rushing glen, we dare not go a hunting, for fear of little men! You see, nobody ever goes in and nobody ever comes out!' .. dá medo, mas dá curiosidade também.. ficamos querendo saber quem são esses 'homenzinhos'.. que ao sabermos, apenas sabemos que estão ali.. não existe explicação suficiente.. e isso é ainda mais misterioso e intrigante.
Esse suspense, que dá o benefício da dúvida, que faz pensar, é a meu ver mais interessante e inteligente do que a nova versão do filme, no qual o roteiro não é do Roald Dahl... e sim do John August (Big Fish, um de seus filmes).. não é que ele seja ruim.. ele é bom!! Mas não deu.. ele junto com a direção do Tim Burton, fica aquela coisa.. filme infantil.. aliás, o Tim Burton peca muito pelo senso infantil e de querer explicar tudo no filme.. não deixa espaço pra imaginação..a meu ver.
Ainda destaco as seguintes cenas: quando da entrada da fábrica, momentos em que um corredor se afunila e torna-se pequeno, instantaneamente, me fazendo lembrar de Alice in Wonderland.. Além do que, as melodias são doces e nos trazem um quê de disney das antigas! Quando o Willy Wonka morde uma flozinha de cera no fim da música 'Pure Imagination', provando ser um excelente ator, pois ele achou que a flor era de açúcar, mas ao ver que era de cera, não esboça espanto, e continua comendo a flor.. e finalmente, quando o Willy wonka se mostra furioso no final do filme, para averiguar se de fato Charlie era um bom menino, pois frente à sua ira e injustiça, era factível que uma criança pequena se rebelasse e pegasse o doce para levar ao Slugworth.. mas ele não o fez..
Bem.. pra concluir... é preciso assistir ao filme com a nostalgia de criança, mas com o cerne de maturidade, pra compreender alguns desses momentos magníficos. . é o tipo de filme atemporal, que não funciona se for modernizado, como foi. E o mais engraçado disso tudo, é que um ano antes de anunciarem o remake, comentamos em casa que o filme, se fosse feito novamente, certamente seria pelo Tim Burton, mas não iria ficar nem um décimo do que é o original. Dito e feito.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário