Precisamos falar sobre o Kevin? Vejamos: Em 7 de abril de 2011, um Kevin abriu fogo contra adolescentes em uma escola de Realengo no Rio de Janeiro, Brasil. Matou 12 pessoas, feriu outras 9 e depois cometeu suicídio. Alguns meses depois, na Noruega, outro Kevin coordenou dois ataques que resultaram em 76 vítimas, oito em virtude de explosões em Oslo e 68 em um tiroteio na ilha de Utoya, onde acontecia um acampamento de jovens. Nos Estados Unidos, 12 anos antes, em 20 de abril, dois Kevins tiraram a vida de 13 adolescentes em Columbine, uma escola no Colorado. Após os crimes, se mataram. Há outros casos pelo mundo. No filme de Lynne Ramsay, baseado no romance homônimo escrito em 2003 pela norte-americana Lionel Shriver, outro adolescente Kevin comete um atentado escolar análogo aos reais descritos acima e mergulha sua mãe em um turbilhão de dor permeado por dúvidas sobre sua culpa pelos atos do filho. Embora seja um tema, no mínimo, desconfortável e angustiante, Precisamos Falar Sobre o Kevin (We Need to Talk About Kevin, Reino Unido, EUA, 2011).
A fita aborda a questão do ponto de vista da mãe, Eva Khatchadourian, em uma perspectiva que mistura atualidade e memória. A partir do presente, Eva revisita o passado buscando nela mesma e no filho indícios que possam, eventualmente, explicar o porquê de Kevin ter agido como um sociopata. Nessa viagem, encontra um filho que desde muito novo demonstrava alguma aptidão para a maldade e, ao mesmo tempo, uma mulher que tinha certo grau de rejeição pela maternidade desde a gravidez. A dúvida a respeito da responsalidade pelo que viria a acontecer (des)orienta todo o filme e o espectador é cúmplice da procura pela explicação.
Desde o nascimento de Kevin, a vida dele e de sua mãe é um combate. Estão sempre medindo forças e disputando o espaço e a atenção um do outro. Todos os outros personagens acabam sendo instrumentos de ataque ou defesa nessa luta. Uma comparação, talvez forçada, pode ser feita com filmes de super-heróis como Corpo Fechado (Unbreakeble, EUA, 2000) e Batman, O Cavaleiro das Trevas (The Dark Night, EUA, 2008). Neles, o protagonista descobre-se em uma jornada para enfrentar seu duplo. Se levarmos em conta a psicologia dessas histórias, podemos imaginar que Kevin, assim como os heróis e vilões, busca encontrar alguém à sua altura para duelar e, assim, encontrar alguma satisfação. Mas essa metáfora pode ser um exagero.
Existem ainda outras razões para falar do filme. A última que mencionarei é o fato da atuação de Tilda Swinton, como a protagonista Eva, ter sido reconhecida no Globo de Ouro por meio da indicação (mas não premiação) na categoria de melhor atriz dramática, mas ter sido esnobada no Oscar. Já disseram que isso é um indício de que os EUA ainda não lidam bem com os traumas dos assassinatos em massa. Outros afirmam, simplesmente, que Precisamos Falar Sobre o Kevin não é excelente. Pode até não ser, mas a atuação de Tilda é ótima e o filme é bom.
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