Nesse verão (primavera, eu sei, mas...) Pedro Almodóvar resolveu fazer algo de diferente. Resolveu ficar na Espanha, com seus atores consagrados, fazendo seus bons filme e dividindo conosco esses momentos dele. Mas isso é o que Almodóvar sempre faz, o que há de diferente nisso? Então... Se você pretende ver A Pele Que Habito (2011), o mais recente longa do diretor espanhol, quanto menos informação tiver sobre o filme, melhor. Porém, se estiver disposto a um ou outro spoiler mais ou manos crucial, #VenGentchy!
O novo é o fato do diretor de Tudo Sobre Minha Mãe (1999) ter se enveredado pelo thriller. Evidentemente, não se trata de um terror ou suspense convencional, mas diversos elementos desses gêneros estão presentes. O melodrama, marca registrada em seus últimos filmes, dá lugar a um mergulho assustador na introspecção dos personagens. As cores, em outros tempos fortes e alegres, hoje estão escuras e sombrias. Algumas das temáticas de fundo, da mesma maneira, servem bem ao imaginário da ficção científica: biotecnologia, transgenia, vingança, busca incessante por um ideal de beleza. O ineditismo dos temas nas lentes do diretor se deve ao fato de o roteiro ser uma adaptação de uma obra literária francesa, Tarântula (1995), de Thierry Jonquet.
Ainda assim, algumas constantes almodovarianas também estão na obra. O insólito travestido de comum, o extraordinário coerente e aceitável e o universo movido a sexualidade, fetiches, crimes e paixões violentas. Parte do elenco também é familiar. Marisa Paredes, em seu sexto Amodóvar, encarna a mãe-governanta do protagonista Robert Ledgard, vivido por Antonio Bandeiras. O ator retoma a parceria com o diretor depois de 21 anos - o último filme fora Ata-me (1990) - como um brilhante cirurgião plástico de passado trágico, presente misterioso e futuro incerto. O trio principal fica completo com Elena Anaya, que guarda certa semelhança com Penélope Cruz, na pele, literalmente, de uma paciente-cobaia para os experimentos do médico com uma pele geneticamene modificada.
Em meio a todos esses elementos, surge a mais importante proposição de A Pele que Habito, a subjetividade humana. O corpo, sujeito e vítima de todo tipo de modificação, representa a identidade ou apenas a abriga, sem uma relação de causa e efeito? Ou haveria ainda outras respostas para essa questão? Muito provavelmente essas perguntas soam descabidas mas, ao ver o filme, podem causar ressonância. E chega de spoilers, até porque, até aqui, foram perdoáveis.
E teve boatos (plantados por aquela gente invejosa de Cannes) de que o Almodóvar estava na pior. Se isso é estar na pior, póhan, o que quer dizer estar bem néam?
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