O ser humano em sua forma mais desesperadora e crua. Um verdadeiro estudo sobre o homem e a sociedade.
Parece irreal pensar no fim do mundo. Quando acontecerá, se acontecerá e porque acontecerá. O cinema tenta explorar de todas as formas nesse quesito, desde invasões alienígenas, até a própria natureza acabando com a humanidade. A crescente corrida armamentista que o mundo passou ao ponto de a tensão entre URSS e EUA, causarem calafrios em toda a humanidade, também já foi e conseqüentemente poderá também ter sua chance no cinema. Chegamos a um ponto quase insaturável em vários aspectos, o capitalismo sem fundamento, sem respeito ao próximo, com a única e exclusiva mentalidade de gerar lucro está destruindo tudo o que vê pela frente. “Os Fins justificam os Meios”. Será mesmo?
O interessante é que “O Livro de Eli” não está preocupado com o que aconteceu e muito menos o porque, isso para subtendido, o mundo parece caminhar para um caminho sem desvio, uma única estrada, o final do caminho está perto, e a velocidade do nosso carrinho chamado humanidade só vai crescendo. Não vamos nos apegar aqui a conscientização sobre natureza, ou nada do tipo, vamos direto ao ponto. Qual é o ponto? O ser humano.
Tudo o que eu já relatei até agora só existe um responsável, somos nós, seres racionais!? Racionais, estranho quem denominou que nós realmente somos os seres racionais, a medida que um planeta lindo nos foi dado, e olhe como estamos hoje, imagine daqui a 30, 40, 100 anos. James Cameron quis nos alertar com “Avatar” que não adianta o ser humano sempre vai dar um jeito de estragar tudo. É esse o nosso instinto, passar em cima do outro é somente o inicio de um ciclo de ganância e violência – e não é a violência física que eu me refiro. “O Homem é o presságio da morte”, vocês se lembram dessa frase?? Pois bem ela foi dialogada á exatos 42 anos atrás, na obra-prima “O Planeta dos Macacos”, vejam só estamos aqui quase meio século depois discutindo a mesma coisa. Pois bem, vamos voltar ao inicio de tudo, vamos zerar tudo, volta ao começo, só que agora teremos o que merecemos, teremos um planeta sem vida, vamos ter o caos em si. Veja “O Livro de Eli” e comprove você mesmo.
Impossível não captar todas as referencias existentes em “O Livro de Eli”, como o já citado “Planeta dos Macacos” e até “Mad Max” e porque não “Eu Sou a Lenda”. Apesar de geralmente já ficarmos com um pé atrás quando dizemos que o filme tem muitas referencias, não se assuste. Aqui o resultado é quase que impecável.
O filme tem uma direção correta e coerente. Sem querer se transpor em muitos pontos Allen Hughes e Albert Hughes realizam um trabalho extremamente convincente e competente. Nas cenas de ação fica claro toda a influencia do outro trabalho dos irmãos Hughes, o excelente “Do Inferno” com Johnny Depp, obra adaptada de um graphic novel de Alan More. Dessa vez os irmãos Hughes demonstram um trabalho mais completo. “O Livro de Eli” tem seu roteiro nas mãos do estreante Gary Whitta.
Bom, a história é centrada em um futuro não muito distante, cerca de 30 anos após o término da guerra, um homem solitário, Eli (Denzel Washington), cruza a paisagem devastada da América do Norte. As marcas da catástrofe estão por todos os lados: Cidade abandonadas, viadutos destruídos, crateras no solo, uma completa pobreza – sendo que achar alguma planta ou algo do gênero é coisa rara, e até mesmo um frasco de xampu e dado como valiosíssimo. Não há civilização e muito menos lei, as estradas estão dominadas por gangues que matariam um homem pelos seus sapatos ou por um simples copo de água.
Porém Eli tem uma missão: Levar um misterioso livro até Oeste, o porquê disso só saberemos mais adiante, porém em sua caminhada ele acaba encontrando Carnegie (Gary Oldman) um homem violento que comanda um resquício de cidade, e está destinado a tudo a encontrar um livro, detalhe, o livro de Eli.
Nos primeiros 10 minutos os irmãos Hughes já nos apresentam qual será o andamento do filme, Denzel Washington completamente solitário, lutando para sobreviver, acompanhado por um trilha extremamente sutil, o filme nos dá todo o tom sombrio e isolado vivido por Eli. Mas o que impressiona os 118 minutos é a fotografia exemplar realizada por Don Burgess. Uma das fotografias mais perfeitas que acompanhei nos últimos anos, o filme consegue intercalar tons fenomenais: No começo há um tom de verde; por horas o tom cinzento, o nublado se torna preponderante, assim como o branco e preto. Até nas mesmas cenas, conforme a tomada vai se modificando o tom preponderante também vai se alternando. Até em suas cenas de ação, claramente inspiradas em HQ’s como “Sin City – A Cidade do Pecado”. Tudo se encaixa perfeitamente, desde a ideologia do mundo pós-apocalítico, até conforme as emoções dos personagens vão se modificando, os flashes se alteram gradativamente. A edição do filme também é exemplar, não deixando o ritmo cair e muito menos extrapolar o necessário.
“O Livro de Eli” conta com participações especiais: Jennifer Beals, que ficou famosa nos anos 80 por estrelar o filme pop “Flashdance – Em Ritmo de Embalo”, ainda conta com atores consagrados como Michale Gambon, o Dumbledore de “Harry Potter”, e Malcon McDowell imortalizado com o papel de Alex DeLarge no clássico de Stanley Kubrick, “Laranja Mecânica”. Compondo o trio principal de atores aparece a apenas razoável Mila Kunis (a Jackie da extinta série “That’ 70s Show”) que não consegue ser a altura de seus parceiros, sendo uma “intrusa” no filme.
Porém o show fica guardado para Gary Oldman e Denzel Washington. Os atores apesar de inimigos na trama parecem estar juntos, passando a bola um para outro, a tabela entre os dois é coisa e craque. Gary Oldman mais uma vez demonstra sua competência, “JFK – A Pergunta Que Não Quer Calar” , “Drácula de Bram Stroker” e “Batman – O Cavaleiros das Trevas” são papéis memoráveis em sua carreira, porém que não tiveram um reconhecimento maior, talvez o papel de Carnigie possa lhe render uma indicação ao Oscar, pelo menos fica aqui a torcida.
Fica a torcida também para que mais uma vez seja premiado esse ator fantástico, chamado Denzel Washington, não só pelo seu carisma, mas pelo seu talento, magnífico em praticamente toda cenas, Denzel segura o filme todo – e não trate isso com tom depreciativo ao filme. O ator que já recebeu dois Oscar (Melhor Ator por “Um Dia de Treinamento” e Ator Coadjuvante por “Tempos de Glória”) nos proporciona a melhor atuação até agora de 2010. Simplesmente fantástico.
Podemos resumir “O Livro de Eli” como um verdadeiro estudo sobre a sociedade, desde seus primórdios, até aqui no caso, desde ao seu fim. Todas as mensagens, todas as surpresas e todas as referencias á outras obras são incrivelmente acertadas e consagradas, tendo o poder de daqui há alguns anos podermos olharmos como um filme Cult, memorável.
Basta acreditar, basta duvidar, basta observar. Basta aceitar.
Nota: 8,0
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário