Pedro Almodóvar realiza um drama forte, denso e poderoso, mostrando todo seu talento e o porquê de ser um dos melhores diretores da atualidade.
É difícil achar um diretor com tamanha sensibilidade igual ao espanhol Pedro Almodóvar. O diretor parece ter uma capacidade sobre-humana de tocar em pontos primordiais, como morte, amor, doenças…. Porém todos com muita sensibilidade e principalmente com muito talento.
Apesar de termos a impressão de que Almodóvar é novo no ramo, ele já está a um bom tempo dirigindo filmes, desde 1980 com “Pepi, Luci, Bom y Otras Chicas del Montón” , entretanto somente nos últimos anos ele vem tendo seu reconhecimento mundialmente e principalmente aqui no Brasil, com uma acessibilidade melhor as suas produções. O diretor também se notabilizou por parcerias com atores espanhóis até então desconhecidos, que mais tarde iriam se tornar celebridades mundialmente conhecidas: Antonio Banderas, Javier Bardem (vencedor do Oscar por sua atuação em “Onde os Fracos não Têm Vez”) e Penélope Cruz (vencedora da estatueta por “Vicky Cristina Barcelona”) são os maiores exemplos disso, ou seja, Almodóvar possui um olho cirúrgico para ‘descobrir’ talentos escondidos, principalmente em território espanhol.
Dentre suas principais produções estão: “Carne Tremula”, “Tudo Sobre Minha Mãe”, “Volver” e o recente “Abraços Partidos”. Todos trabalhos muito técnicos e com uma apuração emocional relevante. Pois bem, depois desta introdução a um dos melhores cineastas da atualidade, vamos falar sobre o filme em questão: “Fale com Ela”.
Almodóvar elabora duas histórias paralelas, em principio bem diferentes, porém que aos poucos vão se interligando: Benigno (Javier Cámara) é um enfermeiro de um hospital na Espanha, o jovem enfermeiro trata com muito carinho uma paciente em especial: Alicia (Leonor Watling), mas não é só o cuidado médico, Benigno tem a estranha mania de conversar com sua amiga, mesmo ela estando em coma ele dialoga com ela normalmente.
Marco (Darío Grandinetti) é um jornalista que acabara de sofrer uma dolorosa separação. Depois de uma entrevista com a toureira Lydia (Rosário Flores), Marco acaba se envolvendo e começando um relacionamento com ela. Porém um acidente acaba deixando Lydia em coma, no mesmo hospital que Benigno cuida de seu amor Alicia, também em coma.
Almodóvar elabora um painel muito bem trabalhado e com várias arestas a serem preenchidas, desde o passado dos personagens até suas ações futuras. Então aos poucos os quatro personagens – praticamente os únicos do filme, algo muito raro – vão sendo aprofundados.
“Fale com Ela” é um trabalho focado no emocional de seus personagens, todas as evoluções pertencentes á suas personalidades são tratados com exímio cuidado. A fixação de Benigno por Alicia, que a trata com se ela estivesse apenas com os olhos fechados, consciente do que lhe acontecia – e quem disse que não – conversando naturalmente com sua amada. Por outro lado Marco tem grande dificuldade de aceitar a atual situação.
Almodóvar ainda analisa os relacionamentos de hoje, onde trazendo como interlocutor o personagem Benigno ele relata que o ‘relacionamento’ de um enfermeiro e uma mulher em coma é muito mais saudável e amoroso do que um relacionamento comum. Obviamente isto é uma metáfora, maravilhosamente bem elaborada. Uma metáfora para nós, não para Benigno……
O roteiro espetacular elaborado por Almodóvar é sem dúvida um dos maiores destaque do filme. A trama começa em um tom bem agradável – apesar da situação delicada de Alicia – com toda a sutileza característica de Almodóvar o filme começa a sofrer, digamos uma metamorfose. A comédia dá lugar ao drama, que é substituído pelo suspense e que tem seu ato final numa junção de tudo que já havia sido trabalhado em tela.
“Fale com Ela” ainda possui ótimas citações, desde Tom Jobim até o fantástico cinema mudo (muito ousado por sinal) e a peça de teatro no começo do filme, impossível também deixar de mencionar a participação especial do cantor Caetano Veloso que canta a música Cucurrucu Paloma, em uma versão espanhola.
Como eu relatei anteriormente todas as mudanças de ‘cenários’ do filme tem êxito graças à excelente trilha sonora, músicas tocantes, arpejos belíssimos e acordes dignos da cultura espanhola servem como a constante de variação das cenas. Não é só a trilha sonora que se destaca nos aspectos técnicos, a fotografia utilizada por Almodóvar, apesar de simplista, consegue ter seu êxito preponderante em inúmeras colocações do cineasta. Um filme que trabalha com flashes do passado e duas linhas narrativas, precisa de uma boa montagem, então novamente Almodóvar é impecável em seu aspecto técnico. O elenco também não deixa pestanejar nada, desde o quarteto principal: Javier Cámara, Darío Grandinetti, Leonor Watling, Rosario Flores. Até as discretas participações de Cecilia Roth (“Ninho Vazio”), Marisa Paredes (“Um Simples Plano”), Paz Vega (“The Spirit – O Filme”) e Geraldine Chaplin (filha do mestre Charles Chaplin).
Toda a entrega de Almodóvar foi coroada com uma grande visibilidade. “Fale com Ela” recebeu duas indicações ao Oscar de 2003 (Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original), vencendo na segunda categoria.
O currículo de Almodóvar fala por si só, um diretor que consegue trazer o telespectador para dentro da história e se emocionar junto com ela, merece nosso respeito e admiração, basta observamos outros filme do espanhol. Vamos classificá-lo como um diretor sensível, em sua técnica, em sua história e em sua imaginação.
“Fale com Ela” é só mais uma obra-prima de um dos melhores diretores da atualidade.
Nota: 9,0
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário