“Atraídos pelo Crime” surge como uma ótima opção para amantes de filmes policiais, principalmente por apostar no drama ao invés da ação.
Deixe-me explicar melhor, como pode um filme policial não ter ação? Difícil acreditar, mas quem realmente gosta do gênero policial irá se deliciar com “Atraídos pelo Crime”, isto porque o filme todo é respirado por policiais, em todos os 132 minutos somos adentrados no cotidiano policial.
Mais uma vez fica aqui minha decepção com relação aos tradutores, novamente o filme é traduzido totalmente errado, parece uma grande má vontade…. Isso tira muito da ironia do título original, “Brooklyn’s Finest”, na tradução livre algo como “O Melhor de Brooklyn”, e adiante iremos ver quem são os melhores de Brooklyn….
O filme ganha corpo graças à parceria entre Antoine Fuqua na direção e o estreante Michael C. Martin encarregado do roteiro. Antoine vem aos poucos ganhando experiência e se aperfeiçoando em filmes policiais, ele foi responsável pela direção do sucesso “Dia de Treinamento”, que condecorou Denzel Washington ao Oscar de Melhor Ator em 2002. Fuqua iria ainda realizar filmes mais modestos, porém eficientes em sua premissa: Ação. “Lágrimas do Sol” com Bruce Willis, “O Atirador” com Mark Wahlberg e “Rei Arthur” estão em sua filmografia. Mas parece que Antoine Fuqua foi ganhando maturidade, e aprimorando sua técnica, principalmente em uma filmagem mais estética de sua parte. Então aqui em “Atraídos pelo Crime” ele realiza seu melhor filme, um filme maduro e muito mais denso do que pode parecer.
O filme acerta ao criar três linhas narrativas, sem que em momento algum haja interação entre elas, apesar dos três personagens serem policiais e aparentemente apresentarem situações diferentes, simplificando o problema destes chegaremos aos tais “Melhores de Brooklyn”.
Pois bem, Sal (Ethan Hawke) é um jovem policial que enfrenta problemas financeiros, com sua esposa grávida de gêmeos e não agüentando sustentar sua família, Sal está à beira do desespero; Paralelamente a isto somos apresentados á Eddi (Richard Gere), um policial experiente que está a uma semana de se aposentar. Entretanto por mais que pareça uma situação confortável, Eddi sofre com dúvidas, problemas no trabalho e principalmente um vazio tremendo dentro de si, para se ter idéia a melhor ‘amiga’ de Eddi é uma prostituta (que na hora fazemos uma associação com Nicolas Cage em “Despedida em Las Vegas”). Fechando o trio principal aparece o policial Tango (Don Cheadle) que está infiltrado entre os traficantes de Brooklyn sendo encarregado de passar informações para seu quartel. Aliando-se ao perigo iminente desta situação, Tango ainda permanece dividido entre o trabalho os amigos que conseguiu no tráfico, principalmente Caz (Wesley Snipes).
Temos assim as três linhas narrativas, que terão seu desfecho posteriormente, mas em momento algum irão se interligar com retidão. São praticamente três filmes dentro de um, na qual os personagens são análogos em suas dificuldades e contrapontos. Toda essa moldura foi realizada com êxito graças à ótima montagem e direção de Fuqua, e principalmente o roteiro extremamente elaborado de Michael C. Martin, mostrando um conteúdo refinado, com diálogos que nos fazem raciocinar profundamente e criar teorias, metáforas ou coisa do gênero, frases como “Não se trata do que é certo e errado, mas do que é mais certo e menos errado” e “Não há julgamento aqui (Brooklyn)”
“Atraídos pelo Crime” deixa uma idéia que a cada dia está mais difícil distinguir o bandido do policial, existe uma linha tênue entre os salvadores e os malfeitores da sociedade. Se isso é verdade ou não, basta observarmos os atos destes para comprovarmos.
Talvez o maior erro de Fuqua (não para mim) tenha sido as poucas cenas de ação, sendo muito mais um drama policial, provavelmente quem for esperando um filme policial como os clássicos “Duro de Matar” ou “Máquina Mortífera” irá se arrepender. A mim isto não afetou em nada, pelo contrario só embelezou ainda mais o filme, Fuqua aposta no teor psicológico dos policias ao invés em cenas de ação, podemos associar rapidamente com “Guerra ao Terror” que explora muito mais o soldado em si, do que as batalhas no Iraque.
Mas convenhamos… Impossível não bater o olho em “Atraídos pelo Crime” e percebemos o elenco estrelado deste: Richard Gere está excelente em cena, o policial prestes a se aposentar e completamente amargurado ganha vida em função dá ótima atuação de Gere. Don Cheadle mais uma vez é correto e realiza outra grande performance como em “Hotel Ruanda” e “O Traidor” – aqui mais discreto é verdade, porém não menos eficiente. Wesley Snipes que é um ator que não me agrada realiza aqui não só o seu melhor filme, mas também o seu melhor papel: Discreto, não querendo roubar a cena e trazendo muita segurança, uma grata surpresa. Mas o destaque vai para mais uma ótima atuação de Ethan Hawke, que foi indicado ao Oscar pelo filme “Dia de Treinamento” do próprio Fuqua e sempre realiza trabalhos seguros e eficientes. Existe ainda ótimas participações especiais como a de Will Patton (“Armageddon”) , Lili Taylor (“Os Viciosos”) e Ellen Barkin (“O Cão de Guarda”).
Em um tempo onde filmes policiais são cada vez mais raros, “Atraídos pelo Crime” surge como uma excelente opção, apesar de apostar no drama policial aposto que os verdadeiros fãs de filmes deste gênero irão adorar essa obra madura, com atores de peso e com uma crítica feroz ao cenário atual.
“Não se trata do que é certo e errado, mas do que é mais certo e menos errado”
Nota: 8,5
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