Histórias de ascensão e queda não são novidade no cinema. De obras-primas contemporâneas, como "Goodfellas" e "Casino", de Scorsese, e "O.J.: Made in America", para citar apenas os que me vêm de imediato à cabeça, a clássicos absolutos, como "Citizen Kane", de Welles - filme com o qual, aliás, "Bingo" dialoga bastante -, exemplos não faltam de projetos que investiram nesse tipo de narrativa e foram bem sucedidos. E o filme de Daniel Rezende, embora não alcance o nível dos citados, é mais um deles.
Nos dois primeiros atos, em que se assiste ao "rise" do protagonista, embora Rezende conduza de maneira excessivamente controlada - falta "pimenta", ironicamente - um filme cujo roteiro pretende comunicar anarquia e iconoclastia, não há como negar que o trabalho do diretor é, quando menos, correto e seguro, apresentando as personagens e seus conflitos de maneira um tanto engessada, é verdade, mas sempre funcional, e entregando, sobretudo por meio da trilha e da maneira como fotografa seus ambientes, uma atmosfera que evoca o espírito oitentista como poucas.
É no terceiro, porém, que "Bingo" embarca de vez na psique da sua personagem central e abraça a espiral de loucura sugerida desde o início da projeção, em planos carregados de simbolismo - a maneira como o filme trata, por meio da imagem, as relações entre o protagonista, sua mãe e seu filho, numa espécie de cadeia viciosa que precisa ser quebrada, é particularmente bela - que retratam, sem precisar se explicar, os conflitos das personagens com a necessidade de externalização e reconhecimento e com a consciência de qual é o reconhecimento que verdadeiramente importa.
Um filme que trata, sobretudo, da importância de se conhecer os próprios motivos e se guiar por eles.
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