O filme é impressionante em sua capacidade de relatar o ser humano. Em termos históricos e sociais, permite ao espectador dimensionar um pouco dos conflitos na África, com o avanço dos "muçulmanos" radicais, colocam uma tribo contra a outra, expondo, mais do que nunca, as singularidades de cada uma delas ante as ideias da jihaad. E, neste caso, como na vida real, há os oportunistas - que, em meio a embate entre tais tribos, suscitado, em grande medida, pelo colonialismo do século XIX - existem aquelas que tentam dominar os que julgam serem seus oponentes.
Uma das temáticas centrais é o avanço do autoritarismo que, mais do que nunca, produz a violência. E, por sua vez, a violência gera ainda mais violência, quando o mais pacífico dos seres humanos, um dos personagens, apela para um ato violento para resolver algo que é redimensionado pela opressão suscitada pela condição imposta pelos jihaadistas.
Uma pena que o cinema africano goze de tão pouca popularidade entre os brasileiros - e ocidentais de modo geral. Assim, perdemos a capacidade de um diretor como Sussako, que, neste filme, redimensiona o tamanho do homem ante a infinidade - constantemente evocada quando se menciona em Deus, entre as distintas vertentes do islamismo em questão. O deserto mostra como este homem é pequeno diante da grandiosidade que, consequentemente, suscita problemas igualmente grandiosos.
Uma das cenas mais bonitas (de emocionar) é quando, diante da proibição dos jihaadistas de prática de futebol na aldeia, com os habitantes escondendo todas as bolas, os jovens jogam com uma bola imaginária. A guerra, o autoritarismo, a intolerância e a violência conseguem derrubar tudo, mas a vontade do ser humano, no maior ambiente de opressão, persiste, restando a ele apelar para a imaginação.
Outra parte impactante são as chibatadas recebidas pela menina pelo simples fato de ter cantado. E como as recebe? Cantando. Não haveria outra maneira.
Destaco também o fato de um dos líderes jihaadistas depender do outro para aprender coisas banais, como, por exemplo, dirigir no deserto. O desconhecimento quanto à mecânica de um automóvel é total. Ou seja, o deslocamento pela inevitável imensidão do deserto da Mauritânia, a partir da liderança jihaadista é deficiente e praticamente dependente do outro. Sozinho, não faz nada.
Enfim, o filme mostra o quanto a África tem a ensinar ao ocidente. A repressão das vontades e desejos humanos por hipocrisias (os jihaadistas que fumam escondidos e proíbem os demais de fazê-lo) é tema candente em nossa sociedade. O filme é uma beleza para fazer-nos ver isso. Vê-lo é uma questão de oportunidade.
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