Minha Maratona Woody Allen:
BANANAS (1971)
A primeira fase de Woody Allen é marcada pelas comédias que beiram o pastelão, muito similar a Mel Brooks e Monty Python, e “Bananas” é seu segundo trabalho como diretor. O interessante sobre este filme é que, mesmo conseguindo momentos realmente hilários, o ritmo da obra parece lento, um tanto enfadonho, o que acaba cansando um pouco o espectador.
Fielding Mellish é testador de produtos industrializados. Está sempre por baixo e não tem pretensões nenhumas com relação a seu futuro. Quando sua namorada decide por um fim no relacionamento, Mellish resolve viajar para esquecer o trauma, escolhendo a fictícia República de San Marcos. O problema é que há um movimento revolucionário em andamento naquele país para derrubar um ditador e o pobre coitado acaba se vendo envolvido na revolução.
Ainda iniciando sua linguagem própria, Allen claramente se apoia naquele que, ainda hoje, é seu comediante favorito: Groucho Marx. Sendo assim, o cineasta se sai admiravelmente bem nas tentativas de humor físico, além de apresentar um timing excelente na composição de diálogos (vindo de seu vasto repertório literário). Recém-saído do ótimo “Um Assaltante Bem Trapalhão”, Allen cria situações absurdas e, em alguns casos, totalmente aleatórias (no bom sentido) apenas para provocar o riso, como o homem que pratica harpa dentro de um guarda-roupa, ou a sequência de sonho (onde, a não ser em um filme de Woody Allen, veríamos um grupo de monges católicos fazendo baliza com uma cruz?). Além disso, o roteiro é hábil ao retratar, com senso de humor afiadíssimo, a influência da mídia e do governo americanos no terceiro mundo, em um ótimo paralelo com a história de Cuba. Mas também é preciso apontar outras influências interessantes no trabalho inicial de Allen, como a estética dos filmes mais realistas e “artísticos” (entre aspas mesmo, porque todo filme é arte) da Europa. É como se o Groucho Marx citado anteriormente encontrasse a Nouvelle Vague, por exemplo. E essa fórmula seguirá pelos filmes seguintes de maneira bem irreverente.
Mas se o filme tem essas qualidades, como é possível que ele possa ser um pouco cansativo, mesmo com apenas 81 minutos de projeção? Pessoalmente, acho que pela mistura não tão bem elaborada das influências do cinema europeu com humor mais banal. Ainda que bem estruturado, esse tipo de humor não casou muito bem com o estilo de filmagem adotado pelo diretor, o que gera certo prolongamento de determinadas gags, e é aí que a montagem encontra dificuldades para amarrar as cenas. É realmente difícil apontar um culpado (se é que há um), mas creio que Allen esteja experimentando novas formas de manifestar esse humor – que funcionam maravilhosamente como material de preparação para o que viria a seguir, em especial com “Annie Hall” (Uma coisa que jamais devemos acusar Woody Allen é de ser preguiçoso).
Outro ponto interessante é ver como Woody Allen sabia, desde o início da carreira, como trabalhar com atores. Louise Lasser, mesmo limitada, está completamente relaxada e responde muito bem aos seus colegas de cena. Jacobo Morales brinca com os poucos momentos que tem em cena, mas carregando seu Esposito com mais do que apenas momentos cômicos (o que resulta em uma clara e assustadora analogia a Fidel Castro). E vale dizer também que é muito divertido ver Danny DeVitto e Sylvester Stallone em pequenas pontas. Mas é o próprio Allen que se destaca dos demais – em especial na cena de julgamento, onde ele é seu próprio advogado de defesa.
Mesmo menor, essa primeira fase de Allen foi fundamental não só para firmá-lo de vez na cena artística daquela riquíssima época do cinema americano, mas também para pavimentar seu caminho e polir seu talento que, mais tarde, produziria obras maravilhosas.
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