Quem nunca viveu momentos mágicos durante a infância e/ou adolescência, tendo como “pano cultural de fundo” alguns dos clássicos de aventura, fantasia e ficção de Steven Spielberg? E qual dessas pessoas conseguiu passar a vida adulta com imunidade ao poder nostálgico proporcionado por tais obras? Se há um convite à imersão – e revisitação - na maioria dos universos construídos pelo veterano cineasta, pode ter certeza de que o mesmo voltou a valer na sua pulsante adaptação do livro “Jogador Nº 1”, de Ernest Cline.
A história gira em torno de um futuro marcado por várias crises (políticas, ambientais, etc.) no planeta. Grande parte da população se contenta com o escapismo proporcionado pelo OASIS, um produto de realidade virtual. Nesse cenário “on line”, temos o adolescente Wade Watts (Tye Sheridan) e seus “colegas”, no meio da disputa entre a população ‘gamer’ pelos 'easter eggs' (surpresas escondidas) do jogo, que podem trazer fama e fortuna para o vencedor. Obviamente, temos nessa história o subtexto sobre pessoas “conectadas e desligadas entre si ao mesmo tempo”, o que se tornaria enfadonho nas mãos do diretor errado.
Spielberg conduz com competência as atuações de Tye Sheridan, Olivia Cooke e outros, em cima de “heróis” que, inicialmente, se mostram mais ativos e apaixonados pela vida através dos seus avatares e do próprio universo OASIS. Já o irregular vilão Sorrento, interpretado por Ben Mendelsohn, oscila entre a sagacidade e o aborrecimento – e vale citar aqui uma menção honrosa para alguns dos seus comparsas, os quais se mostram nada caricatos em suas atitudes.
Agora, temos que falar sobre o ponto mais hipnótico do filme: referências à cultura pop! Sim, temos aqui uma abundância de cores, imagens e objetos que remetem a filmes clássicos, além de grandes músicas de pop e rock do passado. As obras dos anos 80, em especial, se mostram mais presentes na narrativa do que as de qualquer outra década – com destaque para a presença marcante de elementos (visuais e sonoros) do filme “De Volta para o Futuro”, e para a arrepiante sequência dedicada a “O Iluminado”. E sim, existe propósito nessas escolhas, pois a própria “amarra” moral da história nos conecta diretamente com toda essa estética.
Apesar de pequenos deslizes em termos de plasticidade da ação nos momentos “on line”, e também na habitual insistência de Spielberg em cima de certos clichês sentimentais, o saldo de “Jogador Nº 1” é positivo. Esse é um filme feito em especial para os jovens dos frenéticos – e “Marvelizados” - anos 2010’s, mas sem abrir mão de coisas “das antigas” que não devem ser esquecidas. Os velhos vão se emocionar com as referências ao passado, e os jovens vão vibrar com esse potencial exemplar de “futuro clássico nostálgico” da sua própria época. Afinal, todo mundo merece receber um pouco daquela boa e velha (e nova) magia...
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