Charles Chaplin produziu, dirigiu, atuou e compôs as músicas da trilha sonora dessa grandiosa pérola. O cinema de Chaplin lançou base para as primeiras técnicas cinematográficas e anteviu mazelas da sociedade pós-moderna em plena década de 20; como o trabalho alienado, a mecanização do trabalhador que tem seus interesses subjugados pelo sistema, e até a L.E.R. ( Lesão por Esforço Repetitivo ). E pasmem, ele fez todas essas críticas sem falar nenhuma palavra sequer durante o filme.
Logo na cena inicial, o filme já mostra à que veio quando compara a massa de trabalhadores amontoados seguindo para as fábricas com um rebanho de ovelhas. Comparação esta que nitidamente faz alusão a um dos fundamentos da filosofia de Sócrates : A Conduta de Ovelha.
O roteiro se utiliza de um ideal latino muito utilizado pelo dramaturgo português Gil Vicente : “È rindo que se corrige os costumes.” Partindo de tal princípio, surge um personagem caricaturesco e divertido que vai protagonizar e denunciar, de forma cômica, a sofrida e precária vida dos trabalhadores fabris.
O personagem identificado apenas como um trabalhador fabril ( Não há nenhum indício que revele o verdadeiro nome do protagonista ) caracteriza perfeitamente o trabalhador fordista, especializado o bastante a ponto de conhecer apenas uma etapa da produção e desconhecer o produto final. Ele fica preso às clássicas esteiras inventadas na fábrica de Henry Ford e o único momento de “descanso” é o almoço, porém vimos como os empresários tentam minimizar o tempo do almoço para maximizar a produção. Com jornadas de trabalho elevadíssimas, o trabalhador é levado a condições extremas. Tal fato é materializado no filme quando o trabalhador fabril, esgotado do trabalho, chega a ter uma crise nervosa.
Esse trabalhador especializado ao extremo denuncia como o trabalho é capaz de robotizar o ser humano a ponto de reduzi-lo a uma mera engrenagem da máquina. E no curiosíssimo episódio em que a máquina traga o operário para suas “entranhas” - ao invés de esmagá-lo - ela o conduz à um passeio, onde lhe apresenta todas as outras engrenagens.
A sociedade sócio-economicamente desigual é representada de forma caótica, com um número exorbitante de desempregados e famintos. Estes, por sua vez insatisfeitos, vêem nas manifestações e nas greves uma maneira para questionar o sistema capitalista autoritário que devora os mais fracos.
Chaplin finaliza a produção colocando um lampejo de esperança na mente dos espectadores a respeito da nossa realidade – por mais dura e perversa – sempre deve ser encarada com um sorriso no rosto enquanto se segue adiante em busca de melhores oportunidades. Essa mensagem fica clara quando o trabalhador e garota ( Interpretada por Paulette Goddard ) conversam à beira da estrada e depois caminham em frente por uma estrada infindável, metaforicamente, a estrada da vida.
Perseguido pela movimento que combatia comunistas proposto pelo senador Joseph McCarthy denominado de “Caça as bruxas”, Chaplin foi obrigado a mudar-se dos Estados Unidos para a Inglaterra. Ele era acusado erroneamente de veicular ideologias comunistas em seus filmes. Decerto ele simpatizava com algumas idéias socialistas, porém não defendia o comunismo, apenas criticava o capitalismo.
“Tempos modernos” é um filme emblemático, que não só marcou a década de 20, como toda a história do cinema. É nele que o polivalente Charles Chaplin demonstra todo o seu infinito talento, desde o domínio de todas as fases de confecção de longas e curtas metragens até uma incrível amostra de seus dotes de patinador. Por isso Chaplin tem um lugar garantido no hall dos melhores diretores do mundo e é respeitado até hoje por sua criatividade, seu senso crítico, seu talento e carisma perante a câmera.
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