Êxodo 8:2 : "E se continuarem a negar-te a mandá-los embora, eis que encherei o território de rãs." A fragilidade humana e a busca da felicidade pela ótica confusa de P.T. Anderson, mas nem por isso irreal.
Claudia é uma garota drogada que não consegue parar de ingerir cocaína, seu pai está sofrendo de câncer, porém ela nem ao menos liga pra ele. Um policial correto a conhece e tenta cuidar dela. Enquanto isso no programam televisivo de seu pai um garoto é explorado pelo pai para que consiga ganhar dinheiro. O dono do programa está morrendo e um enfermeiro cuida dele em seus últimos momentos. O filho dele é um guru sexual que odeia o pai que é casado com uma mulher que o traiu. Enquanto isso no mesmo programa televisivo, um homem a anos atrás havia ganhado o prêmio e agora vive com a sombra do passado.
Todos os personagens de uma forma ou de outra estão ligados a personagem Claudia. E seus mais introspectivos sentimentos são expostos de forma magnífica pela diretor/roteirista Anderson. Todos estão interligados de certa forma, seria isso apenas uma mera coincidência? Não, aqui nada é coincidência. O diretor foca a fragilidade de cada um tentando nos passar sua mais fraca humanidade e seus passados, que muitas vezes, justificam seu presente.
Anderson aborda temas polêmicos no filme como incesto, homossexualimo, drogas e outros problemas e temas tabus. O roteiro muito bem escrito pelo próprio diretor desenrola a trama de uma forma com a qual, mesmo o filme tendo mais de três horas de duração, não pareça enfadonho. A edição também feita pelo diretor dá um clima de que o clímax principal da trama chegue a qualquer momento, fazendo com que não nos distraiamos. Além de que aos poucos vamos descobrindo a verdadeira estória por trás de cada um ali.
As atuações também são o ponto forte do longa. Podemos destacar logo de começo Melora Walters, interprete de Claudia. Há também Julliane Moore que entrega uma personagem perturbada e com dor na consciência e arrependimento por ter praticado atos injustos contra o marido. Na verdade todos aqui sentem um certo arrependimento de algo que tenham cometido, e agora diante de acontecimentos tristes, eles procuram a redenção. Tom Cruise faz um dos personagens mais interessantes na trama, o qual nos dá certo "nojo" logo de começo, mas com o passar da projeção identificamos o grande trauma pelo qual passou quando tinha apenas 14 anos. Destaque também para William Macy que faz um papel muito bonito e que nos mostra a fragilidade de uma pessoa que espera ser amada, é dele umas das frases mais bonitas do filme: "Eu tenho muito amor para dar, só não sei a quem destribuí-lo."
A direção de fotografia bem sombria confere ao longa o clima necessário para sua estória. Já a trilha sonora composta a maioria pela cantora Aimee Mann e pelo cantor Jon Brion (o mesmo de Brilho eterno) nos dá uma sensação única de solidão e desespero, principalmente a composta para a personagem de Claudia. O roteiro de Anderson é um dos melhores que já vi. Apesar de que o tema da fragilidade humana, hoje em dia, já é bem aproveitado. Sorte de "Magnólia" que lançou em 1999.
O filme trata da busca da felicidade de cada personagem ou a redenção dos mesmos diante de fatos que mudam toda a sua vida. Há um pouco de cada um de nós neles. Ou pelo menos não há como não se identificar com o simples desejo de ser amado e amar, a grande descoberta de muitos aqui. É mais uma vez a arte imitando a vida e a vida imitando a arte. Com respeito ao final, é uma grande metáfora que faz uma menção subliminar de Êxodo 8:2. Ou seja, o filme é mais do que apenas feito para ser visto e sim sentido e pesquisado. Afinal há uma justificativa para o nome do longa ser Magnólia, ou até do acontecimento bizarro, digamos assim, do fim. Anderson prova que é mais do que apenas um cineasta. Ele é um artista, pesquisador e antes de tudo humano como cada um de nós e os personagens do longa.
Perfeito.
Encantador.
Êfemero.
Sublime.
Magnólia: "É possivel que tenha sido uma das primeiras plantas a surgirem no planeta terra."
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