Jesus precisou cegar Paulo, para que com a cegueira ele aprendesse a ver o mundo com outros olhos e de uma outra forma, já que antes, quando ele enchergava, é quando ele estava cego. Essa é uma das passagens mais reveladoras do filme de Fernando Meireles que se baseia no livro de mesmo nome de Jose Saramago para mostrar que hoje, nós seres humanos, estamos cegos, mesmo tendo a visão em perfeita forma.
Um homem tem uma cegueira repentina em seu carro no meio do trânsito. A partir daí uma série de outras pessoas vão ficando cegas. Mas não uma cegueira comum, mas uma cegueira na qual tudo que eles veem é branco, da cor do leite. Somente uma mulher conesegue ficar enxergando e ela juntamente com seu marido vão tentar sobreviver ao caos no uqal o mundo se tornou.
O filme, assim como o livro, traz uma crítica a sociedade atual mostrando-nos o quão cegos nós estamos diante dos outros e de nós mesmos. E mesmo enchergando perfeitamente tudo o que vemos é superficial e não passa disso. Há uma crítica forte aqui com respeito a individualidade que as pessoas tomam e o egoísmo cínico que as torna mesquinhas diante de sofrimento dos outros, e pasmem, do seu próprio.
Quando estamos cegos desenvolvemos um sentimento de comunidade, de comunicação e de ajuda, pois um precisa do outro. Então, assim como Saramago mostra, é necessário que o ser humano passe por experiências desse tipo para que só assim ele desenvolva o que chamamos de interação social e deixemos de lado nossos preconceitos. Uma passagem no filme que ilustra bem isso é quando um homam branco racista é ajudado por outro homem e que se torna amigo dele, e só depois ele descobre que seu amigo é um negro - essa passagem no livro é bem mais explorada. A personagem de Alice Braga também nos mostra que nem tudo o que somos identifica nosso caráter, já que ela, uma prostituta, após ficar cega torna-se a "mãe" de um menino órfão. No final ainda podemos perceber uma mensagem quase subliminar, na qual apenas aqueles que desenvolveram um sociedade de ajuda é que sobreviveram.
Meireles dirige o filme com maestria, mostrando-nos a realidade cruel do ser humano diante de ações impensadas e problemas, na qual eles não sabem lidar. Outro ponto forte da direção foi conseguir mostrar que o ser humano tanto consegue ser ruim, como também ajundando-se consegue ser magníficos. Além disso adaptar uma obra tão complexa, e uma das mais importantes da literatura portuguesa, foi tarefa dificil, mas que ele conseguiu cumprir.
As atuações são magnificas, com destaque para Juliane Moore e Alice Braga.
No final a sensação de revelção é incrivel. É estupendo perceber a alegria de alguns cegos quando voltam a enchergar e conseguem ver pela primeira vez aqueles com quem conviveram por tanto tempo sem ao menos vê-los, porém conhecendo-os mais do que eles próprios. É uma pena o Oscar não ter reconhecido um filme tão sublime.
"Já éramos cegos quando cegamos, o medo nos cegou, o medo continuará nos cegando."
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