Lars Von Trier aproveita para criticar mais uma vez o ser humano, e agora principalmente, os americanos.
Antes de "Dogville" um dos diretores mais controversos do cinema nos presentea com uma pequena obra-prima que caminha entre drama e musical, nos mostrando o quão importante ainda é o sonho, e persistir nele.
Selma (Björk) é da Checoslováquia e vai para os EUA em busca de juntar dinheiro para pagar a cirurgia de seu filho, que assim como ela, tem uma cegueira hereditária. Selma trabalha dia e noite para poder juntar o dinheiro, enquanto se distrai imaginando-se em musicais, nos quais até os mais perversos fazem parte. Mas sua vida muda radicalmente quando seu vizinho a acusa de o ter roubado.
Trier nos apresenta uma personagem que me lembra muito (se me permitem a comparação!) Macábea, da nossa literatura - do livro "A hora da estrela" de Clarice Lispector. E o interessante é poder ver as muitas semelhanças entre as personagens e até mesmo a estória. Selma é uma mulher sonhadora capaz de fazer de tudo para salvar seu filho de uma doença. Quando é surpreendida pelo egoísmo de seu vizinho, que passa por dificuldades financeiras e acusa de ter-lhe roubado. É aí que o diretor aproveita para criticar não só a sociedade, mas incisivamente os americanos. Esses que pregam tanto o alcançar do "sonho americano" e que estão dispostos a fazer de tudo - inclusive mentir e trapaçear - apenas para realizar seus desejos ambiciosos.
Björk constrói uma personagem muito forte, talvez por isso tenha ganho a palma de ouro de melhor atriz em Cannes. Porém nada daria certo se o próprio Trier não a ajudasse. Ela é capaz de nos fazer emocionar pela sua capacidade não só de brigar pela vida, mas também por cedê-la em favor do seu filho. É também responsável pela bela voz - e também controversa no mundo musical - na maioria das partes onde há canto. Porém não há como encarar o filme, como propriamente dito um musical, pois ele vai além disso, e coloca nas passagens de canto uma fantasia que ultrapassa os limites da imaginação. Muito disso deve-se ao fato do diretor ter aberto mão de aspectos técnicos comuns ao gênero musical, porém criando uma atmosfera fantasiosa, na qual nos é apresentado os mais belos sonhos de Selma. A parte de direção de fotografia ajuda e muito nesses 'takes'.
Impossível não se emocionar com a estória de sonhos que é destroçada pela realidade cruel. Impossível também não se render a esse diretor que vem me surpreendendo e muito a cada longa dele. A sensação que fica após o filme é de que nunca devemos desistir de nossos sonhos por mais que os outros nos impeçam.
"Eles dizem que essa é a última música, mas eles não nos conhecem. Só será a última música se nós deixarmos que seja."
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