O ÍNICIO DE UMA PAIXÃO PELO ARTE CINEMATOGRÁFICA DE UM GÊNIO
Que Ingmar Bergman é um grande cineasta (tido entre os melhores de todos os tempos), eu não tinha dúvidas, mesmo sem ter visto nenhuma de suas obras. Infelizmente não conheço muito o trabalho do diretor. Vi apenas dois de seus filmes (até o momento). O primeiro foi o perturbador “A hora do lobo”, muito bom por sinal, mas pude absolver pouco (uma revisão é necessária). Ademais, eu direi que na vida a momentos em que você se apaixona ou cria um vínculo psíquico sobre algo que goste muito, ou seja, há um MARCO INICIAL por estimar muito algo ou alguma coisa. E o meu, pelo citado e renomado diretor, é justamente em “Persona”.
Quando Bergman escreveu o argumento de “Persona”, estava internado em um hospital por vários dias, após uma pneumonia. Momento este em que o diretor tenha entrado numa frustração profissional e revesse seu trabalho como artista. “Persona” assim foi concebido, na crise profissional do direto e em como seu cinema poderia de alguma forma contribuir na vida das pessoas. E não me admiro com isso, já que o diretor filmava suas obras como sendo pesadelos existências, principalmente os filmes em preto e branco. E neste filme em especial, a crise de Bergman foi transferida para uma de suas personagens, Elizabeth Vogler (Liv Ullmann).
O filme conta a história de Elizabeth, uma atriz de teatro de fama e sucesso, que em meio a uma apresentação da peça “Elektra”, fica em silêncio. Todavia, não há qualquer razão clínica para tanto. A partir daí ela vai para uma clínica para tratamento psiquiátrico. Quem está encarregada pela Elizabeth é a jovem enfermeira Alma (Bibi Andersson). Após três meses de tratamento, não houve qualquer melhora no quando de Elizabeth, então a diretora do hospital decide mandá-las para uma temporada numa casa de verão para que a recuperação da Sra. Vogler seja mais tranquila e agradável.
Durante a estadia as personagens começam a desenvolver uma relação estranha de amizade, e se mostram semelhantes em alguns aspectos de suas vidas e ao mesmo tempo completamente diferentes em suas personalidades. De um lago a jovem e ingênua Alma, com a esperança de viver uma bela vida e ao mesmo tempo com problemas do passado que a atormentam. Do outro Elisabet, uma mulher de talento, no entanto, fria e amarga. E nesse cenário, as diferenças das personagens veem a tona provocando uma gravíssima crise existencial, desenvolvendo-se uma relação de amor e ódio. Vale dizer que o trabalho realizado pelas protagonistas é excelente, dando alma a arte.
Não há como deixar de comentar sobre o excelente trabalho de Bergman, como roteirista do filme. Ele cria diálogos e monólogos inesquecíveis, criando um ambiente de mistério e sonhos quase todo tempo. A cena mais lembrada do filme, e, em minha opinião, a melhor, é o incrível monólogo de Alma sobre uma orgia na praia, da qual ela participou com uma desconhecida e com dois adolescentes. A história é contada por Alma de tal maneira que é possível imaginar tais cenas, involuntariamente, sem perder o foco narrativo da história. O filme é todo em preto e branco, gerando um contraste bem visível. A iluminação é favorecida devido à luz do sol da praia em que ficava a casa de verão. Isso sem falar na fotografia que é fantástica.
Por fim, o filme propõe uma reflexão sobre a necessidade de adequar-se aos diferentes papéis que uma pessoa exerce na vida. Em algumas passagens do filme Alma e Elisabet são posta uma em lugar da outra, já em outros momentos são colocadas como uma só pessoa. E assim suas frustrações são apresentadas e a esperança de uma vida melhor também, como os sonhos de Alma de ter um casamento feliz. Na verdade esse filme nos faz pensar em atitudes que temos na vida da qual nos arrependemos e nos frustramos de modo a carregar um peso eterno. Mostrando que não adianta convivermos com isso, pois não ajudará em nada, apenas prolongará o sofrimento. Também nos ensina que é importante o desabafo, assim como a paciência para saber ouvir. Para tanto, o filme tem que ser visto com bastante atenção e de forma reflexiva, e não como entretenimento. Assim, é cinema de Ingmar Bergman.
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