Um dos melhores momentos de Mazzaropi.
Casinha Pequenina é a segunda produção da PAM FILMES (produtora de Mazzaropi), em Eastmancolor e sua primeira superprodução.
Existem filmes melhores com o comediante, tais como As aventuras de Pedro Malazartes e O Lamparina, mas esse Casinha Pequenina chega bem perto das melhores obras do astro. Essa fita faz parte da fase de ouro (de 1959 a 1963) de Mazzaropi.
O filme foi rodado durante os meses finais de 1962 e lançado nos cinemas no inicio do ano de 1963 mais precisamente no dia 21 de Janeiro sendo um explosivo sucesso de bilheteria. Na época do lançamento, Casinha Pequenina levou para os cinemas brasileiros o magistral número de 8 milhões de espectadores sendo considerada até aquele momento, a terceira maior bilheteria do nosso cinema, só ficando atrás de O Ébrio (1946) e de outro filme de Mazzaropi Jeca Tatu (1959) que foi o seu maior sucesso. Já se passaram quase 50 anos e Casinha Pequenina se consagra no quinto lugar das maiores bilheterias brasileiras de todos os tempos.
O filme foi rodado na fazenda “Ermida” e “Nova América”, naquele mesmo ano (1963), o comediante compraria a sua própria fazenda em Taubaté. Para muitos esse é um dos melhores filmes de Mazzaropi e para outros o melhor de toda a sua carreira. Na minha opinião Casinha Pequenina não é o seu melhor filme, mas está certamente entre os sete melhores.
É uma pena que o colorido do filme seja quase inexistente, quase sem cor, quase sem vida, mas isso não é um defeito da fita e sim da Cinemagia (responsável pela coleção Mazzaropi) que não restaurou o filme deixando-o assim quase aos frangalhos.
Em níveis de superprodução Casinha Pequenina só perde para Meu Japão Brasileiro (1964). Seus cenários são dos melhores que o nosso cinema obteve na época, aliás o cenógrafo é o grande Pierino Massenzi vindo da Vera Cruz, onde construiu cenários para filmes como Ângela (1951), Tico Tico no fubá (1952), O Cangaceiro (1953) entre outros.Reparem como a escada da Casa Grande lembra e muito a escada do final de E o vento levou (1939). Falando nos estúdios Vera Cruz, Mazzaropi alugou seus espaços para as gravações internas do filme e também alugou seus equipamentos de som e mixagem.
Como em todos os filmes de Mazzaropi, os números musicais marcam presença. “O ultimo lamento” canção cantada por Edson Lopes é muito fraca e até dá vontade de dar risada de tão primário que é esse número musical. Sem essa canção o filme não perderia quase nada. Outra canção é “A dor da Saudade” essa sim muito bonita num momento antológico da carreira de Mazzaropi (ele canta no meio de um rebanho ovelhas), simplesmente nostálgico. E é claro, ela, a canção título “Casinha Pequenina” uma das músicas mais famosas da história do cinema brasileiro que é cantada no final do filme resultando no melhor The End da carreira do comediante.
O filme se inicia muito bem, com uma boa abertura e as primeiras cenas que são um primor de direção, aliás, todo o filme se desenrola muito bem, menos nas seqüências do assassinato e da prisão (que passam muito rápido, prejudicando um pouco o andar da história), voltando à boa forma no grande
final (um dos mais belos finais do cinema brasileiro).
O filme também entrou para a história como a estréia no cinema do grande Tarcisio Meira e do inicio de carreia do ator Luiz Gustavo. Marly Marley (jurada do programa Raul Gil) é Carlota a senhora que vive atrás de Chico (Mazzaropi). Roberto Duval é o temido Coronel Pedro (sua interpretação é prejudicada pelo forte sotaque carioca), Marina Freire é Dona Josefina a mulher do Coronel (o papel é muito pequeno para o seu talento). Astrogildo Ribeiro é o capataz chefe (ele seria no próximo filme de Mazzaropi O Lamparina (1963), o chefe dos cangaceiros). E Geny Prado é Fifica a mulher de Chico.
Como poucos filmes do comediante, Casinha Pequenina é repleto de cenas inesquecíveis, tais como: o garotinho roubando jabá no depósito e Chico o ajudando, o Coronel e o Capataz escolhendo um pretendente para a sobrinha falsa, o Coronel chamando Chico para conversar com os outros capangas, as cenas do casamento, Chico levando até o Coronel os capangas amarrados, a família indo embora da casinha pequenina, a família de Chico sendo apresentada para Carlota e Inês, Carlota correndo atrás do nosso herói (uma seqüência muito hilária),entre outras. Como já disse o final com os negros caminhando junto com Chico e Fifica é soberbo.
Obs: Na cena em que o Coronel conversa num canto com a família de Chico, depois de serem apresentados para a irmã e sobrinha falsas que o próprio Coronel arranjou para enganar a esposa, dá para ver no canto superior esquerdo, a sombra do microfone.
O filme conta a história de Chico, um bom capataz que tenta ajudar os negros como pode. Para isso ele enfrenta o poderoso Coronel Pedro e seus capangas. Muita ação, romance, drama e muita diversão recheiam o filme.
Casinha Pequenina é um dos melhores momentos de Mazzaropi e de sua equipe técnica. A direção de Glauco Mirko Laurelli é muito boa, os figurinos são de grande qualidade, maquiagem e figurantes adequados, a fotografia de Icsey é boa (poderia ser melhor). Destaque para a excelente trilha sonora de Hector Lagna Fietta.
Não é à toa que Casinha Pequenina é a quinta maior bilheteria do nosso cinema. O filme merece cada um dos aplausos que recebeu da imensa platéia que foi assisti-lo nos cinemas, nesse Brasil de meu Deus. Casinha Pequenina pode não ser o melhor filme do comediante, mas é certamente o mais inesquecível.
Guarde um espaço no seu coração para Casinha Pequenina.
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