O "interessante" do roteiro enigmático é que você sente na pele o que ele mostra: tédio. É torturante!
São Paulo, Sociedade Anônima, do diretor Luis Sérgio Person, cuja carreira foi breve (morreu em 1976, aos 39 anos, vítima de acidente automobilístico), costuma figurar nas listas de críticos como um dos melhores filmes aqui já feitos, a exemplo da sétima posição na lista dos 100 melhores filmes brasileiros da história eleitos pela ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema, divulgada em 27 de novembro de 2015. É, portanto, uma daquelas obras paradigmáticas do público (mais "entendido") e dos críticos.
Confesso que não gosto muito de filmes antigos (anteriores à 1970) por eles serem "precários": sem cor, teatrais, simplórios e com trilhas sonoras irritantes. Os filmes antigos brasileiros são ainda mais precários, pois soma-se a isso o fato das dublagens (os áudios não eram os originais das cenas, os atores e atrizes tinham que gravar as falas posteriormente). Assim, aos poucos vou conhecendo o cinema clássico, mais por curiosidade do que por prazer. Dias atrás resolvi assistir o filme em questão e vou recordar como isso aconteceu.
Nos últimos tempos, além das regulares sessões de cinema, tenho aproveitado para assistir filmes em outros lugares fora de minha casa, como em centros culturais (SESC), grupos de cinema ou Universidades. Fico sabendo dos eventos pelo facebook e descobri que iriam exibir São Paulo S.A na USP, curso de exatas. Imaginei que o filme seria chatinho, mas queria aproveitar a oportunidade de conhecer a obra tão elogiada e com direito a debate após a exibição. O bom de assistir filmes assim é que, caso ele seja chato, pelo menos o contexto é diferente, tem outras pessoas com você, conhece novos lugares. Já tinha assistido filmes na USP de minha cidade (Ribeirão Preto - SP), mas não no bloco de exatas. Fui até o local, descobri onde já estava sendo exibido, entro na sala e vejo apenas 3 pessoas. Um era o professor, os outros dois não sei ao certo, mas eram idosos, não alunos. Até aí tudo bem, o brasileiro não tem cultura mesmo. Sentei e comecei a assistir o filme. Em três minutos já tinha percebido que era o que eu tinha imaginado: mais um porre do cinema antigo brasileiro. Como já citado, é um filme em branco e preto, áudio dublado (com a inexorável dessincronia angustiante), mas não apenas isso. O filme é obscuro, a história é fragmentada, a narrativa é lenta, ora em primeira pessoa, ora em terceira; a trilha sonora é desagradável (e obsoleta); e até o final não se sabe a que o filme veio. Evidente, assim, que um filme com tais características é no mínimo desagradável. Mas é um desagradável que agrada os críticos de cinema. Sobre isso falarei daqui a pouco. Finalizando o causo, só posso dizer que a experiência foi traumática. Após longas e torturantes duas horas, o sofrimento chegou ao fim. Nunca desejei tanto na minha vida que um filme acabasse rápido, e nunca um filme me deu tanto sono como este. Foi uma batalha homérica manter meus olhos abertos e não cair no sono profundo. Vou além, os efeitos letárgicos que ele causa merece até estudo científico. Eu fiquei entorpecido! O "interessante" do roteiro enigmático é que você sente na pele o que ele mostra: tédio!
Mas então vem a questão: como que um filme assim é tão elogiado pela crítica? Resposta: ideologias. Ideologias políticas, artísticas e sociais. O roteiro gira em torno de um personagem amargurado no meio de uma São Paulo dos anos 60 em pleno processo de industrialização. Percebe-se uma provável visão de esquerda do diretor contrária à formação desse mercado capitalista. Para piorar, o filme atrai a ideologia infelizmente enraizada na crítica artística cinéfila de que filmes obscuros, estranhos, chatos, são artísticos e, portanto, melhores que os outros. O diferente aí viria travestido de talento, quando não passa de puro mau gosto.
Existem diversas maneiras de se contar uma história, inclusive inovando ou de forma mais sofisticada. Porém, nenhuma experimentação deve-se afastar do bom gosto e da racionalidade. Existe uma forma intuitiva e universal de contar história dá qual não dá muito para se afastar sem perder qualidade artística.
Outros diretores, como o saudoso Walter Hugo Khouri, conseguiram retratar o existencialismo de seus personagens sem tornar o filme louco e a história chata.
Para não dizer que o longa não tem qualidades, reconheço que a fotografia é boa, assim como a maneira de filmar. Walmor Chagas, em seu primeiro trabalho no cinema, também demonstra ótimo desempenho (apesar da dublagem).
O pedantismo dos críticos turvam suas visões de perceber que São Paulo, Sociedade Anônima, tinha uma boa proposta, mas que não foi bem executada. E o cinema não é o que os críticos ou público queriam que o filme fosse, mas simplesmente o que o filme é. E, acreditem, São Paulo S.A é MUITO chato.
Não sei como, fala mais da experiência dele de ter ido ao cinema, da intolerância com o cinema clássico e do desgosto com a crítica brasileira do que do filme em si.
"Confesso que não gosto muito de filmes antigos (anteriores à 1970) por eles serem "precários": sem cor, teatrais, simplórios e com trilhas sonoras irritantes" 🙄😏
C viu, Carlos Eduardo?! 😏😏😏😏😏😏😏