Uma adaptação de um livro de sucesso quase sempre se torna um filme, ao menos, confiável para se ver. Mas o que se esperar quando esse mesmo filme foi pretendido por diretores renomados como Tim Burton e Martin Scorsese? Se você pensou: um filme excelente, que é capaz de agradar a americanos e afegãos, acertou! “Perfume: a história de um assassino” (Perfume: story of a murderer, 2006) é um drama misturado com pitadas de suspense que convence em todos os aspectos, deixando poucas brechas para dúvidas e contestações.
O filme se passa na sombria e suja França do século XVIII. Jean-Baptiste Grenouille nasceu em meio a essa sujeira e caos, de uma forma inusitada: sua mãe, que não fazia questão de seu nascimento, deu à luz embaixo da barraca onde trabalhava na feira. Jean-Baptiste, em seu primeiro choro, garantiu sua vingança à mãe, fazendo com que ela fosse condenada à morte por tentativa de assassinato ao filho. Logo que Jean-Baptiste chega ao orfanato, ele sofre uma segunda tentativa de homicídio: as crianças não aceitam dividir mais o racionado espaço. Mas, assim como na primeira vez, sobreviveu bravamente.
O garoto cresceu e, com o tempo, foi se destacando das outras crianças da classe proletária da França por causa de sua inusitada e espetacular capacidade olfativa. Ele é, inclusive, visto com estranheza e temor pelas outras crianças de sua idade. Grenouille consegue sentir odores a grandes distâncias, e ainda tem a capacidade de sentir o cheiro de coisas que, para as pessoas normais, não têm cheiro, como pedras. Desde a adolescência, Grenouille (agora interpretado pelo bom ator Ben Wishaw) tem o desejo de guardar para si todos os tipo de fragrâncias e conhecer odores novos. É nessa balada que, ao conhecer uma garota na rua e se apaixonar pelo seu cheiro, Jean-Baptiste a assusta e, sem intenção, a mata por sufocamento. Esse fato o perturba e, inconformado por não conseguir guardar o aroma da mulher, Grenouille fica obcecado por aprender técnicas para guardar os odores.
E isso se torna possível quando conhece Giuseppe Baldini (Dustin Hoffman, excelente), um perfumista quase falido que vê seus negócios decolarem após a chegada do jovem e seu imensurável talento. Atento aos ensinamentos (oportunistas, é claro) de Baldini, ele aprende que todos os odores podem ser capturados e preservados, embora seus métodos não sejam os melhores. A descoberta faz com que Grenouille se mude para a cidade de Grasse, onde aprende a técnica mais eficiente e realiza sua matança. Mas, no entanto, Baldini diz que o perfume de uma pessoa é como se fosse sua alma, o que nos dá a entender que, ao preservar o perfume, ele estaria roubando a alma da pessoa. Jean-Baptiste, durante o filme, parece saber exatamente como roubar a alma de uma pessoa, o que é provado pelo fato de as pessoas ligadas a ele morrerem quase sempre.
Um dos poucos pontos negativos do filme é o exagero feito em uma cena na cidade de Grasse, em que toda a população cai aos pés de Grenouille, como se o perfume fosse capaz de dominar o mundo. A cena deixa o espectador confuso, como deixou a mim mesmo, pois sua surrealidade transpassa os limites do aceitável, do imaginável e do lógico, o que cairia bem em um conto de fadas, mas não em um drama sério como este. Apesar disso, o filme não é comprometido, pois a cena ocorre nos momentos precedentes ao fantástico apagar das luzes, que deixa todos boquiabertos.
“Perfume: a história de um assassino” conta com uma equipe técnica excelente. Os figurinos remontam com extrema beleza a França do século XVIII, tanto no aspecto da realeza quanto da pobreza. Os cenários arrebatadores representam com fidedignidade as ruas e casas da época, fazendo o espectador acreditar que o filme foi filmado mesmo na referida França. Ainda visualmente falando, o filme usa bem a nudez das vítimas de Grenouille, fazendo com que não seja sensual ou depravado, mas cadavérico e assustador. A trilha sonora, apenas correta, rege bem as cenas do filme, sem deixar cair o ritmo. O elenco, composto por nomes como Alan Rickman e sua sempre convincente cara de poucos amigos, e Dustin Hoffman como o engraçado Baldini, ajudam a história a ter o rumo certo. Grenouille é interpretado pelo jovem ator Ben Winshaw, que conduz bem as ações de seu personagem, dando grande dinamismo à sua atuação.
“Perfume: a história de um assassino” é um filme que conta a história de toda a vida de Grenouille, mas sem ser redundante nem apelativo. Sua duração de 150min (2h 30min) à primeira vista é excessiva, mas passa despercebida, tamanho é o dinamismo imprimido ao filme, fazendo com que não seja uma experiência cansativa. Muito pelo contrário, assistir a esse grande filme é uma experiência agradabilíssima e altamente recomendável. A quem gosta de coisas boas, é claro!
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