‘’It's a stinking world because there's no law and order any more. It's a stinking world because it lets the young get onto the old like you done. It's no world for an old man any more. What sort of a world is it at all? Men on the moon and men spinning around the earth and there's not no attention paid to earthly law and order no more.’’
Logo nas primeiras cenas somos introduzidos a uma nova realidade: um vocabulário extremamente esquisito, leite ‘’batizado’’ e uma estética futurista típica do Kubrick dão o tom dessa obra-prima polêmica e incrivelmente atual. A ultraviolência (outra das palavras usadas no idioma falado pelas personagens do filme) é abordada de uma forma peculiar, como uma forte crítica ao egoísmo humano e muito mais.
Alex Delarge lidera uma gangue de jovens que fazem tudo o que vier na cabeça, sem nenhuma restrição ética ou moral, pensando na própria satisfação e prazer. A diversão acaba quando a personagem de Malcolm Mcdowell, que é preso pela polícia e submetido a um método inovador que supostamente curaria a pessoa, deixando-a incapaz de praticar qualquer ato maligno.
Kubrick brilha ao levantar questões polêmicas tanto em relação à sociedade como a forma de tratamento usada para punir e ‘’recuperar’’ os malfeitores que perturbam a paz. A visão da sociedade futurista é pessimista, com jovens egoístas e sem nenhum senso humanitário, uma estrutura familiar deteriorada e incapaz de lidar com os problemas de um filho. Por outro lado, temos a visão das entidades governamentais e políticas igualmente destruídas, sem capacidade de reeducar os detentos, recorrendo a métodos experimentais que só acentuam mais a falta de uma ética da realidade moderna do filme.
O mais impressionante é como o filme se mostra atual, mesmo tendo seus quase quarenta anos de existência. Na realidade brasileira, vemos um sistema penitenciário falido, que funciona como um ensino superior para os detentos, que se tornam verdadeiros criminosos (só não tiram diploma e nem possuem reconhecimento do MEC). A violência da sociedade do filme pode ser equiparada a vivida pelo brasileiro, com a deteriorização dos valores éticos da nossa sociedade, com casos de agressão a mendigos, a pessoas alheias em saídas de festas e por aí vai (ultraviolência?).
Como o filme possui um foco central na história e no roteiro, apenas a atuação de Malcolm Mcdowell se destaca. O olhar intimidador no início do filme, a alternância de fases da personagem (antes de ser preso, em sua ‘’melhor forma’’; preso, quando se mostra submisso e acuado; solto na sociedade, indefeso) mostra uma atuação intimidadora e encantadora. Até o modo em que fala tem suas nuances, o que deixa o espectador assustados em algumas cenas e dá um tom único a trama.
O cenário e a trilha sonora também são únicos, sendo o primeiro uma das marcas registradas do diretor. Cores extravagantes e designs arrojados, Kubrick constrói uma visão bastante interessante do futuro, em perfeita harmonia com a trilha sonora clássica, dando um toque especial à história. Uma versão fabulosa de ‘’Singing in the Rain’’ é interpretada por Alex Delarge é concebida, talvez uma das interpretações mais anárquicas desse grande clássico.
Sequências, como a cena do sexo a três e a ‘’lição’’ do querido narrador em seus amigos ao som de Beethoven são memoráveis, mais uma vez mostrando todo o talento e ambição de Kubrick. Cada cena do filme parece calculada com uma precisão matemática pelo talentoso diretor, que com um orçamento baixo realizou uma obra-prima memorável. Aos que entendem além da violência e crueldade do filme, esta é uma obra-prima da sétima arte, uma forte crítica ao rumo que a sociedade vem tomando, um estudo sobre aonde a agressividade do ser humano pode chegar sem os limites éticos. Fascinante!
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