‘’Invasões Bárbaras’’ é o tipo de filme que conquista através de suas personagens bastante humanas o nosso afeto. Com um roteiro bonito, em que o Denys Arcand aborda temas polêmicos como política e religião e até eutanásia. O filme flui em meio a grandes atuações que por muitas vezes provocam lágrimas nos olhos, aliadas à poderosa história desenvolvida pelo diretor/roteirista.
Rémy (Rémy Girard) é um professor de faculdade que está com um câncer terminal e encontra-se internado em um hospital público, no Canadá. Sofre com os problemas da infraestrutura do local, precárias e mostrada com leveza pela câmera esperta de Denis. Sebastien (Stéphane Rousseau) vai até o hospital ver seu pai, com quem possuía certas desavenças e, após trocarem ofensas fará de tudo para oferecer conforto a seu pai. Rèmy ainda começará um tratamento ilegal com heroína, aconselhado por uma amigo de Sebastien e que é ministrada por Nathalie ( Marie-Josée Croze ), que ficaria responsável pelas aplicações diárias para amenizar a dor nesses últimos momentos.
Mais tarde Rèmy encontrará com seus amigos e duas de suas amantes no passado. Um tema interessante colocado é a importância dos laços fraternos para o ser humano. O diretor deixa isso claro quando faz questão de mostrar todos os amigos reunidos no quarto de Rémy, compartilhando experiências e relembrando fatos passados, numa grande roda. Após, a personagem principal ainda os levará a uma casa perto de um lago, onde decide ficar para passar os seus últimos dias do lado das pessoas que escolheu para compartilhar os seus últimos momentos.
E temos mais um tema interessante que é abordado a essa altura, que é justamente a questão de se o ser humano deve escolher quando e onde irá morrer como fez Rémy no filme. Tratado de forma belíssima, Rémy se emociona com seus amigos numa noite anterior, mostra-se assustado e com medo do que está por vir até que, finalmente, Nathalie lhe permite cumprir sua vontade através de uma dose letal de heroína.
Nathalie e Sebastien mostram-se muito parecidos em um aspecto: os dois parecem acomodados de alguma forma em suas respectivas posições. O primeiro como economista de sucesso, e a segunda como administradora de seu próprio vício. Ambos são personagens bastante interessantes, que se aproximam discretamente talvez por enxergarem uma possibilidade de quebrar esse comodismo mostrado em discursos e atitudes aparentemente seguras.
As personagens ainda abordam temas políticos com humor (sobre os ‘’ismos’’ que eles já foram durante a vida) ou mesmo em um momento, Rèmy vocifera com a freira contra a religião, disparando opiniões polêmicas e que merecem seu espaço para serem discutidas. Ou mesmo em conversas no hospital, quando começam a conversar e as personagens apresentam discursos conflitantes, mas de forma leve e não-planfetária. De forma envolvente e bastante sensível (principalmente por parte dos atores), o filme cativa e emociona, levando-nos a pensar sobre questões diversas, como a efemeridade e o significado do que fazemos, a morte e as escolhas que fazemos em nossas vidas.
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