Sempre tive um pé atrás com filmes que tratam de assuntos relacionados a guerra. Assim como a comédia romântica, é um gênero que já está bastante desgastado pela quantidade de títulos que exploram diversos conflitos que aconteceram, acontecem ou mesmo fictícios. Enfim, particularmente eu procuro obras que possuam alguma espécie de diferencial, que não sejam somente um tiroteio desordenado, com leves pinceladas de momentos emocionais superficiais. Filmes que dão ênfase ao lado psicológica e emocional dos soldados, como este exemplar, merecem ser vistos justamente porque mostram o que a guerra é capaz de fazer com quem se submete a ela.
Com a premissa ‘’A guerra é uma droga’’, ‘’Guerra ao Terror’’ começa em grande estilo, com direito a efeitos soberbos e uma câmera lenta muito bem utilizada, marcando o evento que ocasiona o desenvolvimento da trama. O sargento Matt Thompson (Guy Pearce) é morto durante uma operação, em que a bomba é acionada devido a um descuido do Especialista Owen Eldridge (Brian Geraghty), que não atira a tempo no portador do dispositivo que aciona o explosivo. A partir deste momento, entra em cena o sargento William James (Jeremy Renner), que assume a liderança do grupo.
Há uma contagem dos poucos dias que faltam para que os militares voltem para casa e o novo líder só faz com que esses pareçam um inferno. O personagem parece não gostar muito de trabalhar em equipe, o que angustia principalmente o Sargento JT Sanborn (Anthony Mackie), que reclama e troca ofensas com o oficial. Temos aqui um perfil interessante da equipe: o sargento Willian James, experiente de guerras, diz não querer substituir o líder passado e age de forma não acolhedora e até com uma atitude não coerente com os princípios do exército, de trabalho em equipe. O sargento JT Sanborn bate de frente diversas vezes com o novo líder, por considerá-lo insensato e pela proximidade da data de seu retorno aos EUA. O especialista Owen ainda é assombrado pelo erro que ocasionou a morte de seu companheiro e se submete mais facilmente com a personagem de Jeremy Jenner, provavelmente pela necessidade de se sentir acolhido por uma figura de liderança.
O especialista Owen Eldridge ainda é bastante explorado no filme, pelo seu medo da própria situação infernal no Iraque, onde qualquer objeto na rua poderia ser uma bomba prestes a ser acionada e pelo deslize com o companheiro. As conversas com o psicólogo e suas atitudes em campo de batalha refletem o grande medo que todo soldado possui, mas que talvez por ser o mais novato da equipe deixe transparecer mais: o medo de não voltar para casa, de simplesmente desaparecer em uma explosão e se perder entre as areias do Iraque.
O Sargento JT Sanborn tenta ao máximo disfarçar o que sente, apenas demonstrando raiva pelo líder da equipe. Porém seus sentimentos acabam vindo a tona quando a situação aperta e já não há como ocultá-lo.
A personagem de Jeremy Jenner, à medida que o filme se desenrola, mostra que não é somente uma figura egoísta e viciada em adrenalina, cuidando de sua equipe (na excelente cena do deserto, onde há um conflito e o sargento oferece suco a JT Sanborn e tranqüiliza Owen) e mesmo confraternizando com eles. Vemos então a desconstrução da personagem militar, que abdica de suas emoções no campo de batalha, para um ser humano atormentado pela realidade cruel da guerra. Cenas como a que William dorme com o capacete de proteção antibombas ou a que liga o chuveiro sobre sua cabeça só mostram como a guerra afeta o lado emocional desses militares.
Durante a confraternização, JT Sanborn descobre uma curiosa caixa lotadas de pedaços de bombas. Ao perguntar a seu chefe, este explica que são objetos que quase tiraram a sua vida. Interessante notar que a grande fruição de William James é se expor a essas situações extremas e sair vivo delas, levando troféus que simbolizem a sua vitória.
Como a premissa inicial nos disse e é possível notar, Willian James é um militar distinto de seus companheiros. Trata-se de um viciado em guerra, alguém que já não se vê fora de uma zona de conflitos, de situações de vida ou morte.Fazer compras num super mercado ou passar o fim de semana com a sua família já não é mais o suficiente, como deixa marcado no diálogo que tem com o seu filho. Há apenas uma coisa na vida que ele realmente se importa, que ele diz ter amor: desarmar bombas.
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