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Críticas

Cineplayers

Um bom filme de origem, que se encaixa bem na mitologia e mantém a qualidade da série.

7,5

Para o bem ou para o mal, para o deleite de alguns ou para o desespero de outros, as histórias em quadrinhos dominaram os cinemas. No entanto, esse status é recente. Até pouco tempo, as adaptações de gibis eram vistas com receio, uma vez que boa parte das tentativas até então eram produções de segundo nível (salvo exceções, claro). Tudo mudou com X-Men – O Filme (X-Men, 2000). O trabalho de Bryan Singer acertou em cheio ao trazer o universo fantástico dos quadrinhos para o “mundo real”, em uma trama inteligente, com metáforas sobre a tolerância e o preconceito, personagens carismáticos e, claro, uma produção de primeiro nível, com cenas de ação bem construídas e efeitos especiais convincentes. Logo em seguida, vieram o excelente X-Men 2 (X2, 2003), o bom X-Men: O Confronto Final (X-Men: The Last Stand, 2006) e o decepcionante spin-off X-Men Origens: Wolverine (X-Men Origins: Wolverine, 2009).

O “fracasso” deste último, aliás, fez com que a Twentieth Century Fox buscasse uma nova abordagem para o universo dos mutantes. O resultado é este X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class, 2011), que conta o início da formação do grupo de mutantes, principalmente como Charles Xavier e Magneto se conheceram e por que razão optaram por seguir caminhos distintos. Quem assume o comando é Matthew Vaughn, competente cineasta por trás de bons filmes como Stardust – O Mistério da Estrela (Stardust, 2007) e Kick-Ass – Quebrando Tudo (Kick-Ass, 2010), que consegue fazer aquilo que poucos acreditavam possível: realizar um filme de origem realmente interessante, mesmo com a plateia já sabendo o destino dos personagens. Trabalhando sobre um roteiro escrito por ele mesmo junto a Jane Goldman, Jamie Moss e Joss Schwartz, Vaughn faz da reformulação da franquia um esforço muito bem sucedido, chegando perto do nível dos dois primeiros filmes ao equilibrar com talento o desenvolvimento da história e dos personagens com cenas de ação muito bem executadas.

O ponto de partida do cineasta e dos roteiristas é estabelecer um universo crível para os mutantes, tarefa na qual são muito bem sucedidos. Novamente, o enredo posiciona os mutantes dentro de um cenário darwiniano, colocando-os como um novo estágio da evolução humana, o que gera a base de todo o conflito do filme: a aceitação ou não dos mutantes por parte da humanidade. Como se não bastasse, a obra ainda acrescenta um plano de fundo real à trama, no caso, a crise dos mísseis em Cuba, reforçando ainda mais a verossimilhança dos acontecimentos narrados. Com isso, X-Men: Primeira Classe se aproxima dos primeiros filmes e foge de obras como Thor (Thor, 2011) ao deixar de lado o universo fantástico em prol de uma narrativa mais realista, que contribui para realçar o aspecto humano dos personagens, o que é essencial para o conceito de filme proposto por Matthew Vaughn e seus roteiristas.

E esta abordagem voltada aos anseios de seus personagens é conduzida de forma quase impecável no que concerne aos dois protagonistas. Em X-Men: Primeira Classe, a plateia encontra o Professor Xavier como nunca antes viu: jovem, paquerador, cabeludo e fora da cadeira de rodas, porém com a sensatez e a serenidade que o fizeram o líder da equipe de mutantes. Interpretado de forma conscientemente contida por James McAvoy, que realmente faz o espectador acreditar que ele poderia ser o centro de inteligência do grupo, o personagem deixa claro logo no início estar em controle de seu poder e, mais do que isso, em paz com a sua mutação, sentimento que se torna fundamental não apenas para o desenrolar da trama do filme, mas até mesmo para que a obra seja bem percebida dentro da mitologia de toda a série.

Já do outro lado surge Erik Lensherr, mais conhecido como Magneto. Ex-prisioneiro de um campo de concentração nazista (o filme tem início com uma cena familiar a quem acompanha a série), Lensherr, ao contrário de Xavier, cresceu em conflito com a sua habilidade, provavelmente carregando a culpa de saber que a sua mãe foi morta exatamente pelo fato de ele ser “diferente”. Esta formação parece ter sido essencial para a sua compreensão de mundo, na qual não enxerga a possibilidade de uma convivência pacífica entre os mutantes os seres humanos. Trata-se, na realidade, de um personagem trágico que, em diversos momentos, demonstra possuir uma certa bondade – ainda que seja voltada aos seus semelhantes –, mas tem sua essência tomada por uma raiva contra a humanidade. Erik Lensherr é, indiscutivelmente, o melhor personagem do filme, construído cuidadosamente pelo roteiro e interpretado de forma impecável por Michael Fassbender, em um papel que pode transformá-lo em um astro.

E é exatamente na dinâmica entre Xavier e Lensherr que se constrói a narrativa – e de onde vêm os seus melhores momentos. As visões antagonistas que possuem sobre o papel dos mutantes na sociedade são permeadas por um grande respeito que parece existir entre os dois, uma relação até certo ponto contraditória, mas sempre interessante e bem desenvolvida. Aliás, não chega a ser nada temerário dizer que a melhor cena de X-Men: Primeira Classe é aquela na qual ambos os personagens conversam diante de um tabuleiro de xadrez sobre as suas ideias: mais do que bem interpretada, trata-se de uma sequência impecavelmente escrita, com diálogos cujas palavras transmitem exatamente o necessário. Momentos como esse realmente levam a plateia a entender como cada personagem chegou a determinada opinião e compreender os lados, o que faz o filme fugir da caricatura e da superficialidade de possuir um mocinho e um vilão bem definidos – tudo bem que Magneto não é o vilão aqui, mas é ele que detém a posição de grande nêmesis da turma de Xavier.

Em compensação, o filme também sofre com um problema recorrente em tramas envolvendo muitos personagens: é praticamente impossível dar a todos um tratamento satisfatório. Assim, enquanto Xavier e Magneto são bem desenvolvidos, os demais mutantes jamais alcançam a tridimensionalidade, sendo definidos apenas pelas suas habilidades. A única que ainda recebe uma certa profundidade é Mística, que vive um conflito com a sua forma natural – e tanto Xavier quanto Lensherr oferecem soluções opostas de como ela deve lidar com a situação. No entanto, a mudança de lado da personagem para a turma de Magneto, assim como o momento em que ela surge na cama dele, parece artificial, como se fosse mais uma necessidade do roteiro do que algo natural. Talvez isso se deva também à presença de Jennifer Lawrence, que traz uma humanidade à Mística que entra em conflito com o ódio que a personagem deve possuir para optar pelo lado de Magneto.

Da mesma forma, o roteiro ainda parece tentado a inserir subtramas de romances totalmente desnecessárias, desenvolvidas com tanta pressa que em momento algum são capazes de convencer. É o caso, por exemplo, da aproximação entre Mística e Hank e do beijo entre Xavier e a agente da CIA – uma personagem, aliás, completamente dispensável. Como se não bastasse, alguns acontecimentos da trama são abruptos demais, como se inseridos no filme com o único propósito de fazer a trama andar adiante: como a CIA descobriu o barco do vilão interpretado por Kevin Bacon? Por que, após ser brevemente torturada, Frost não podia mais se “solidificar”? Não chegam a ser pontos cruciais do roteiro, capazes de prejudicar a apreciação de toda a obra, mas são elementos que poderiam ter recebido melhor cuidado, formando um filme mais coeso. Além disso, a produção ainda carece da falta de humor – problema que não existia nas produções anteriores, principalmente graças à presença de Wolverine.

Ainda assim, mesmo com estes e alguns outros deslizes, é difícil não elogiar o roteiro de X-Men: Primeira Classe. Primeiro, porque ele consegue se encaixar muito bem dentro da mitologia da série, amarrando as pontas e realmente despertando vontade no espectador de rever os filmes originais para ver como tudo se une. E, em segundo lugar, pela já citada metáfora relacionada ao preconceito. X-Men: Primeira Classe, ao contrário da maioria dos filmes de ação, possui substância, com um subtexto capaz de gerar uma discussão relevante sobre a tolerância. Em sua essência, a obra trata de um grupo que sofre diante da sociedade por ser diferente daquilo que é visto como “normal”: troque os mutantes e seus poderes pelos negros, por exemplo, e o que sobra é um filme relacionado ao racismo. O tema do preconceito, aliás, é muito bem trabalhado por Matthew Vaughn, que demonstra habilidade ao equilibrar o conteúdo com os efeitos especiais, entregando um filme com mais a oferecer do que o esperado.

Da mesma forma, o cineasta constrói sequências de ação que fogem do padrão atual da câmera tremida e dos duzentos cortes por minuto, artifícios que tornam os acontecimentos quase incompreensíveis. Em X-Men: Primeira Classe, o espectador consegue acompanhar a ação e entender o que se passa na tela, em um trabalho de montagem eficiente e com uma inteligente utilização dos efeitos especiais, que em momento algum soam gratuitos (ainda que pareçam toscos em determinados momentos, como quando o submarino cai na praia). Algumas cenas, aliás, como o clímax e a passagem de Magneto na Argentina, são desenvolvidas de forma precisa, com todos os elementos cuidadosamente colocados para que a cena atinja os seus objetivos. Mesmo assim, o diretor aposta em artifícios datados, como a montagem exibindo o treinamento: em duas ou três cenas, os mutantes já estão com pleno domínio de seus poderes.

Contando ainda com duas participações especiais que farão os fãs vibrarem de emoção, X-Men: Primeira Classe é mais uma incursão de bom nível no universo dos mutantes, ainda que abaixo das primeiras aventuras. É um filme com dois bons protagonistas, sequências de ação bem dosadas e até um pouco de substância. Não é uma grande obra, mas, se as adaptações de quadrinhos continuarem com esse nível de competência, serão sempre bem-vindas.

Comentários (3)

Gustavo Coelho | quinta-feira, 03 de Novembro de 2011 - 13:19

Adorei a critica e gostei muito do filme! 😁

Gustavo Mendes da Silva | sábado, 24 de Dezembro de 2011 - 01:07

Boa koball, já era seu fã agora então, melhor lupinha disparado 😎

Bruno Cavalcanti | terça-feira, 26 de Junho de 2012 - 08:44

Boa koball, já era seu fã agora então, melhor lupinha disparado 😎 [2]
Primeira Classe é o melhor da série,mas isso não quer dizer nada,achei todos no máximo,bons.E esse daí,assim como Harry Potter e o Enigma do Príncipe, é demasiadamente superestimado.

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