A cena que abre Rubber (idem, 2010), segundo longa do diretor/músico Quentin Dupieux manda às favas convenções e maneirismos do cinema contemporâneo. O longa que acompanha a saga de um pneu assassino em direção às representações do comodismo social americano – incluindo a indústria do entretenimento - se sobressai por seu ideal anárquico.
Rubber serve como referência máxima na filmografia de Dupieux por confirmar o que Nonfilm (idem, 2002) e Steak (idem, 2007) ensaiaram, com a ironia como máxima de uma narrativa esquizofrênica e de teor crítico altíssimo. Já Wrong (idem, 2012), apesar de seguir o mesmo norte, parece frouxo como análise e muito mais preocupado com suas “estranhezas” e efeitos.
Enfim, Wrong Cops – Maus Policiais (Wrong Cops, 2013). Esta rápida passagem pela filmografia de Dupieux é fundamental para entender o que o longa propõe. A começar com o paralelo constante com Wrong. Dupieux costura duas tramas através dos personagens, com pequenas pontas e referências criativas entre eles.
Wrong questionava o estilo de vida dos americanos, o tempo dedicado ao trabalho e sua consequente tristeza, a comum troca de interesses, ostentações e por fim a zona de conforto que este limbo produz. Depois, a questão: Quem protege esta doentia sociedade? A resposta vem através do cotidiano de três policiais de um condado californiano.
Permissivo ao que lhe é justificado como marginal, o grupo divide além da má conduta e ambição duvidosa, o gosto pela música. Dela sai o tom de paródia do filme. Os heróis de outrora, antes da vilania, enfrentam a desmoralização que definem a falência da instituição. Como defesa – ou pura inocência -, os “heróis”, utilizam a lei como trampolim para o sucesso – sem ligar para o desvio de conduta.
Este urgente raio-x sobre a sociedade americana transparece momentos pessoais, pois Dupieux acha brechas para criticar novamente a “cultura do lucro” no mercado cinematográfico e fonográfico. O diretor cria sequências antológicas que servem como pilares para o filme. Wrong Cops está apoiado na morte em diferentes representações. A música morreu. A nação morreu. A família morreu. A segurança morreu. E como maquiar o cadáver?
Se existe alguma brecha para contrariar o discurso agudo de Dupieux em Wrong Cops, ela está no direito de exercer o prazer longe dos padrões de consumo. Aqui ele é traduzido como o enterro de uma nação, onde, enfim, toda a trupe se reúne, prontos para atuar como homens de ofício enquanto a América desce ao som de...uma marcha fúnebre? Não. Ao som de dubstep de quinta categoria.
8,0
Rubber é excelente! Diretor desperta curiosidade
Uia, sangue novo? Não conhecia esse Participante.
Nossa, eu estou gostando bastante do seu estilo de escrever críticas, pena que são um pouco curtas e, pelo menos por enquanto, em pouca quantidade. Espero que escreva para outras obras do Quentin Dupieux, que é um dos diretores que mais me desperta curiosidade.