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Wasp Network: Rede de Espiões

(Wasp Network, 2019)
5,7
Média
29 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Cinema de resultados

3,5

O cineasta Olivier Assayas chega numa encruzilhada com Wasp Network. Depois de causar uma certa estranheza com a comédia romântica Vidas Duplas (2018) e mostrar uma faceta desconhecida, mais pop e menos preocupada esteticamente, menos ambiciosa mas ainda eficiente, um dos nomes franceses mais exaltados no cinema atual sofre um novo escorregão, esse bem mais preocupante. Com uma proposta narrativa convencional, imageticamente sem viço, o filme bate na tela como um produto já visto e sem ambições, acomodado em apresentar um grupo de informações de maneira direta, sem qualquer experimentação.

Isso não seria um problema (assim como não foi com seu já citado filme anterior) não fosse esse diretor Olivier Assayas, e se esse roteiro tivesse algum charme mínimo, uma desenvoltura de estruturação de ideias e personagens, ou mesmo uma assertividade no classicismo proposto. Mas nada disso é muito bem desenvolvido, a começar pelo fato de que Assayas é um cineasta de profunda inventividade narrativa, que costuma investigar zonas cinzentas dos tipos de suas produções, quando não são filme completamente imersos no cinza. Tudo nesse novo filme é claro, até seu plot twist acaba soando como uma típica peça publicitária do mais banal filme norte-americano.

Sem aparentar preocupação com essa maneira esquemática de contar uma história que nunca havia se pronunciado antes, o dito "piloto automático" surge muito rápido em cena, sem fazer qualquer menção ao cineasta que já entregou Carlos (2010) e Personal Shopper (2016) ao cinema. Aqui, temos um cinema de investigação morno que mais se aproximaria da carpintaria de um Edward Zwick um cinema de resultado. Sem rascunhar um bom grupo de personagens, com arcos dramáticos bem desenvolvidos, ou sequências com algum impacto emocional, falta paixão a Wasp Network, mas não falta razão e alguma burocracia. Com uma história que definitivamente precisava ser contada, o filme a conta. E só.

Ao abrir mão de pontos intrinsecamente seus na mise-en-scène para entregar um trabalho de montagem problemática e diálogos expositivos, dramaturgia calcada no melodrama e insistência no fade out, Assayas veste uma carcaça burocrata sem muita timidez. Wasp Network é um filme com público alvo garantido, que confia nesse cinema de resultados para receber exatamente o que se espera na tela grande sem qualquer sobressalto ou estranhamento, típicos de um cinema mais experimental. Ao centrar seu foco na história real de um grupo de cubanos desertores e a rede do título original que os uniu nos anos 1990, Assayas se aproxima do feito de José Padilha com 7 Dias em Entebbe (2018): entregar um filme de consumo rápido e diversão ligeira sem pretensões, um lugar nunca estado anteriormente pelo diretor de Clean (2004).

Com um elenco espetacular em mãos, que vai de Penélope Cruz a Édgar Ramírez, passando por Gael García Bernal, Ana de Armas, Leonardo Sbaraglia e Wagner Moura, cada um deles tenta colocar a produção em lugar elevado, quase sempre em vão. Repetindo didatismos em diálogos, não fica muito fácil para o grupo de atores a tarefa de promover brilho. Ainda assim, Sbaraglia tem um trabalho destacado entre eles, além de Ramírez, que tem ao lado de Cruz a melhor cena do filme, quando o projeto resolve focar no humano daquelas relações, a maioria delas mecanizadas pelo roteiro. No reencontro do casal no aeroporto, com emoção abafada e uma dor minimamente constrangida em cena, vimos o lugar passional que o filme poderia ter cavado para si. Mas se a intenção era apenas contar a história, e se não investigarmos muito, o filme até se torna bem-sucedido. 

Crítica da cobertura da 43ª Mostra de São Paulo

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