Bom drama sobre as consequências da guerra consegue fugir do patriotismo.
A invasão norte-americana ao Iraque já dura anos, e os cineastas norte-americanos, preocupados com o tópico que vem fazendo o governo Bush desperdiçar bilhões das reservas de capital dos Estados Unidos todos os anos, começam a explorar o conflito antes mesmo dele se encerrar. Começou com Fahrenheit 9/11, de Michael Moore. Sam Mendes também falou sobre a inutilidade da guerra no Oriente Médio com Soldado Anônimo (mesmo que não sobre a fase atual do conflito). Este A Volta dos Bravos foi dirigido por Irwin Winkler, diretor de bons dramas, que aqui abusa do gênero para mostrar as conseqüências desse conflito para um grupo de americanos.
Trata-se de uma versão moderna, porém não tão romantizada, do clássico Os Melhores Anos de Nossas Vidas. Um grupo de combatentes que passou por experiências traumáticas volta à pacata vida nos Estados Unidos e cada um deles enfrenta vários conflitos internos e conflitos com parentes e amigos, ocasionados pela depressão, culpa, sentimento de vazio, etc. São múltiplas histórias, que se cruzam eventualmente, umas mais interessantes que outras, mas no geral são bem contadas e fazem prender a atenção. Enfim, é um filme que funciona bem como drama, não de forma especial, mas suficientemente bem para criar personagens interessantes.
Em termos políticos, A Volta dos Bravos ganha pontos por tratar os dois lados do conflito – o americano e o iraquiano. Apesar das aparências iniciais, e apesar do que se poderia imaginar a princípio, o filme é um pouco mais profundo do que uma ode aos Estados Unidos: ao mesmo tempo em que há a demonstração de orgulho e arrogância por parte de alguns, há a vergonha e a indignação por parte de outros, o que faz com que o enredo fique suportável para quem mora fora dos Estados Unidos (isso não impediu que o filme fosse lançado diretamente em vídeo por aqui).
Política à parte, vejamos o roteiro. Seu pior ponto é o fato dele apresentar flashbacks muito irritantes, sendo que a maioria deles poderia ter sido dispensada, pois subestimam a inteligência do espectador, tentando ligar imagens da guerra a sentimentos e comportamentos pós-guerra (personagem chora; mostra logo em seguida seu amigo morrendo no campo de batalha para justificar o choro). Como se fosse necessário certificar-se que o espectador realmente entendeu tal sentimento ou tal comportamento. Certamente há espectadores limitados, mas um filme que quer se levar a sério não deveria se utilizar desse recurso, tão banal e óbvio, de forma tão constante.
O elenco, um misto entre bons atores e personalidades de qualidades duvidosas, não realizou um trabalho espetacular, até por contar com 50 Cent (!) como um dos principais personagens, e com Jessica Biel que ainda precisa de mais experiência para poder ser levada a sério em um papel dramático. Há bons momentos isolados que salvam o filme da mediocridade artística. O tema possibilitaria muito mais carga emocional, não necessariamente precisando ser manipulador, algo que, felizmente, o roteiro evita com bastante sucesso e este é um dos pontos a favor do filme.
Filmado de forma bem amadora por Winkler, nota-se o orçamento apenas moderado. Talvez o objetivo tenha sido trazer mais realismo às imagens. A fotografia, bastante feia, ao menos possui variação de tons - o quente do Iraque em contraste com o frio dos Estados Unidos. Uma analogia forçada ao “calor da batalha” com a “frieza da volta para casa”. Mas de forma geral é um bom filme, principalmente por ter evitado excessos patrióticos, então por isso e por conta de alguns bons momentos, principalmente, vale ser assistido.
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