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Vingança de Jairo, A

(La venganza de Jairo, 2019)
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Críticas

Cineplayers

Avassaladora paixão pelo cinema

8,5

Funeral Siniestro. Area Maldita. Triangulo de Oro. Esses filmes foram alguns dos inúmeros blockbusters aparecidos há 40 anos atrás, arrastando multidões aos cinemas e dirigidos pelo mesmo visionário diretor, o multi talentoso Jairo Pinilla, responsável pelo Toque de Midas do período. Mas peraí... Onde estão essas pérolas do cinema de gênero, clássicos absolutos que mudaram a forma de fazer cinema? Bom, depois de anos confiscados pelo governo por acordos de distribuição mal feitos, já conseguimos encontrar a filmografia de Pinilla, que as novas gerações já conseguem dar valor a esse que é um dos mais produtivos autores do cinema... Colombiano.

Apesar do passado de glória, o diretor Simon Hernandez Estrada mostra como está Pinilla hoje, cada vez mais distante desse lugar de destaque. E que a própria Colômbia desconhece hoje da importância e da influência do cinema que o cineasta moldou para seu país, inaugurando setores de filmes mais populares, sem interferência americana e proporcionando ao povo orgulho da própria cinematografia, até então vista com desconfiança. O filme é uma viagem por uma personalidade apaixonada que obviamente nos faria lembrar de Ed Wood e Tommy Wiseau, mas que na linguagem documental conta com a voz do próprio pra expressar sua paixão pelo cinema, em momentos de profunda emoção.

O filme não apenas conta com passagens de longas de Pinilla, como contém depoimentos de cineasta do nível de Ciro Guerra (O Abraço da Serpente), também ele se assumindo como ignorante a obra do retratado. Mas o que torna A Vingança de Jairo superior são as conexões que Estrada traça entre as imagens dos filmes, os depoimentos de vários profissionais da indústria, do próprio Jairo, as filmagens de um novo filme dele e as inúmeras perdas que sofre na mesma, e as imagens captadas no todo, tudo que aproxima o espectador a Jairo e cria uma conexão graças ao olhar amoroso que os diretores (biógrafo e biografado) estabelecem com essa obra, que é muito rica e aparentemente precisa ser revista e reintegrada.

Estrada filma closes das ações de Pinilla com muita elegância, fazendo de seus movimentos um balé poético de imagens que valoriza não apenas o seu produto, como principalmente a arte na qual Pinilla é tão devotado. Seu cuidado, no entanto, rivaliza com sua forma de trabalho, porque diversas dubiedades são jogadas em cena, a respeito das responsabilidades do diretor. O personagem apresentado é acertadamente complexo e rico, abrindo portas de questões - algumas nem são apresentadas pelo filme, todas estão nas entrelinhas. Com esse material tão extenso que provoca exatamente o que deveria (curiosidade e empatia pelo homem e sua obra), o filme ressignifica as propostas apresentadas anteriormente por Tim Burton e James Franco, com camadas fornecidas pela própria matéria prima.

O trabalho de montagem vai além de impressão de ritmo, criando uma atmosfera orgânica entre as inúmeras propostas de leitura da obra em suas divisões temáticas. Também a fotografia, um aspecto que não costuma ser um diferencial em documentários tradicionais, ilumina muito bem os personagens focados e apresenta de forma ampla o jogo de posicionamento de câmera e sua eventual movimentação pelos cenários. 'A Vingança de Jairo' é, além de um filme vigoroso e carinhoso sobre a sétima arte e as novas formas de ressignificar talentos, também um produto que investiga muito bem seu protagonista e o trata sem paternalismo, ou seja, um exemplar raro. 

- Visto no 13º CineBH 2019

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