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Vingadores: Ultimato

(Avengers: Endgame, 2019)
7,9
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Críticas

Cineplayers

Fechando antes de reabrir.

8,0

Muita água correu por baixo da ponte da Marvel desde 2008, quando ao final de Homem de Ferro, em uma de suas hoje tradicionais cenas pós-créditos, revelou o Nick Fury de Samuel L. Jackson e citou pela primeira vez a iniciativa Vingadores. Os fãs foram à loucura, mas mais do que isso, era o início de um ambicioso projeto da empresa para expandir o seu universo e mudar a opinião de um público que, até então, achava super-herói “coisa de nerd”. Vamos fazer um exercício simples: quantas pessoas você conhecia que falavam abertamente sobre o tema, que andavam com roupas estampando heróis ou lotavam o cinema para um filme sobre eles em plena meia-noite de quarta-feira e quantas você conhece que fazem isso hoje? Pois é.

O paciente projeto da Marvel de construir todo um universo com filmes menores para contar uma história maior, amarrada ao longo de 11 anos culminou com a primeira parte final da saga em Vingadores: Guerra Infinita. Thanos, cansado da incompetência de seus aliados em conseguir as Joias do Infinito, resolve ele mesmo cumprir a missão e em um estalar de dedos dizima metade da população do universo. É um final melancólico para duas dezenas de filmes que, até então, eram vitoriosos e com o astral lá em cima. A Marvel que sempre fez rir dessa vez fez seu público chorar. Vingadores: Ultimato dá uma depressiva continuidade ao que Guerra Infinita deixou e cabe aos heróis remanescentes buscarem forças para a inevitável vingança (que sempre deu nome ao grupo), ao mesmo tempo em que tentam achar um jeito de reverter o que o tirano fez.

Só que os filmes da Marvel ganharam uma proporção tão grande nos últimos tempos que Ultimato tinha a ingrata missão de responder perguntas que haviam ficado no ar e ainda encontrar espaço para entretenimento do público. Consciente de seu papel, o filme vai constantemente em desencontro com as expectativas, apresentando narrativa, soluções e muitas vezes situações inusitadas que divertem pelo absurdo ou escala daquilo que está acontecendo. Aquele ritmo frenético - mas muitas vezes tedioso - de tantos efeitos especiais é deixado um pouco de lado para contar uma história que precisa chegar a algum lugar, respeitando o passado dos filmes e brincando com eles. É fã service atrás de fã service, mas dessa vez abordado de maneira positiva, feito com tanto carinho que não soa como apelação.

É claro que, com sentimentos tão a flora, o filme iria brincar com eles de acordo que o ciclo vai finalmente se fechando. Se Thanos quis equilibrar o universo, coube à equipe aproveitar os cacos de contrato para dar mais consistência a uma história entupida de tantos personagens, cada um com seus dramas e motivações. Crescem Viúva Negra e Gavião Arqueiro, que vinham sendo deixados de lado, e nomes como Thor e Hulk acabam sendo sub aproveitados com aquilo que fora construído anteriormente. Quem brilha mesmo é Tony Stark (Downey Jr.), que tem a oportunidade de deixar de se interpretar para ganhar profundidade que só a idade e situações da vida podem trazer, mas também com o arco de seu personagem, talvez quem mais mudou em todos esses anos, e Chris Evans, que começa a entender que nem sempre ser mocinho é ser herói em grande escala. Eles possuem algumas das melhores cenas do longa, que divide bem drama, homenagens e ação, até sua lacrimejante conclusão.

Bom, mas vamos um pouco mais a fundo nesse texto, né? E é claro que estamos falando de SPOILERS.

Fica um pouco difícil descrever a emoção e como Vingadores Ultimato é redondinho sem entrar nos detalhes sobre o que vimos em tela.

Ao longo de onze anos e muitos pequenos filmes, todos eles juntos serviram para criar um passado, uma história, uma intimidade com o público. Conhecemos Tony Stark egoísta, se auto-proclamando ser o Homem de Ferro para viver o gostinho de ser um pop star, estar no controle, no centro de tudo, e fechamos a saga anos depois com ele preocupado com a família, ainda pensando em si pelo que construiu (“tenho muito a perder agora”), mas agindo de forma coletiva intuitivamente (pegar a manopla e usá-la, mesmo que isso consuma seu fraco corpo). É lindo ver as duas pontas de uma linha que deixou de ser reta para fechar um círculo tanto tempo depois. Com metade dos heróis fora de cena, aqueles que não por coincidência terão futuro no MCU, ficou clara a opção de manter no filme aqueles atores já veteranos da franquia, perto de fim de contrato, pois isso torna o destino de cada um imprevisível.

E como falar do passado sem precisar ficar apelando pra nostalgia? Obviamente, com viagem no tempo.

Todo mundo já quis viajar no tempo uma vez na vida, seja para reviver um passado gostoso ou falar algo que não foi dito a alguém que já partiu. Até mesmos os heróis. Thor reencontra sua mãe, Stark o pai e o Capitão o grande amor da sua vida, que o faria desistir de um presente para finalmente viver o passado ao final de tudo, já velhinho, no banco e finalmente realizado. A Viúva Negra, personagem que até encontrar a família Vingadores era fria e calculista, agora fará de tudo, inclusive se sacrificar, pois é isso que familiares fazem uns pelos outros. Thor, este que acabou realizando o desejo de muita gente de finalmente ter um corpinho de super-herói, e Hulk foram abordados de forma mais cômica. Ainda que funcionem - e o filme é realmente engraçado - acabaram tendo suas personalidades banalizadas para encontrar um equilíbrio, já que o arco de Tony e do Capitão eram muito mais dramáticos.

Legal também o filme ter tido a coragem de não embarcar em uma caçada insana por Thanos para se tornar um filme comum sobre vingança. Thanos é resolvido nos primeiros minutos e entra em cena uma reconstrução da vida após toda a tragédia. Isso nos dá tempo para sentir a urgência da situação, e quando as viagens no tempo permitem que o Thanos de uma outra linha temporal apareça, ele nota que seu plano deu certo, mas ao mesmo tempo falhou: a Terra não prosperou como planejava, e sim entrou em profunda depressão, um mundo pós apocalíptico que não bate com aquilo que ele sonhou. Com isso, o novo Thanos não decide mais dividir a população e sim exterminá-la. Faz muito sentido dentro do que aprendemos com o personagem, que ainda é um vilão muito acima do que os filmes de heróis estão acostumados a receber. Thanos sempre tem uma resposta boa, algo de impacto a dizer e o faz de maneira natural, impositiva, sem se esforçar para isso.

Vi algumas reclamações sobre alguns personagens fortes, como Doutor Estranho e Pantera Negra terem ficado de fora praticamente o filme inteiro. É compreensivo. Suas histórias estão começando agora, há mais filmes anunciados sobre eles, então a Marvel precisava fechar aquilo que ela abriu antes de dar esse próximo passo. Foi também o motivo de equilíbrio para a Capitã Marvel, que pouco apareceu sob a (boa) desculpa de estar ajudando outros planetas também afetados, já que eles não tinham pessoas como os Vingadores para ajudarem. E quando ela aparece, também acabou balanceada pela força de Thanos, o que abre espaço para seu futuro na franquia e não apenas como uma solução para tudo - e a cena onde todas as heroínas aparecem, juntas, mostra que esse futuro pretende consertar essa quase hegemonia masculina das três primeiras fases do MCU.

Quando os créditos começaram a subir, a emoção já escorria pelo rosto não só por causa dos personagens, mas por ter tido a oportunidade de vivenciar toda essa história no cinema. Vingadores é o filme pop mais importante da década, um dos projetos mais ambiciosos da história do cinema, e ver isso começar e acabar é uma oportunidade que poucos têm; oportunidade que só quem vivenciou Harry Potter, Star Wars e Senhor dos Anéis sabem como é. Vingadores é isso. É sobre amor, trabalho em equipe, fazer o bem, mas acima de tudo, é sobre o tempo. O tempo que passaram juntos, o tempo que serão lembrados e o tempo que ficará para sempre nas nossas memórias. E ficamos lá, mesmo sem cena adicional dessa vez, só curtindo os créditos passando, apenas para prolongar o momento por uma última vez.

Comentários (10)

Carlos Eduardo | segunda-feira, 29 de Abril de 2019 - 01:19

Bela crítica Rodrigo. O filme conseguiu sim atender às expectativas. Ótimo final para a Saga do Infinito.

Robson Oliveira | domingo, 05 de Maio de 2019 - 00:47

Filmão da porra esse. Final excelente para a franquia! Com uma das melhores cenas de luta que ja vi.

Roberval | quinta-feira, 09 de Maio de 2019 - 18:44

Filme conseguiu o que nenhum tinha feito antes, criar uma série cinematográfica em que vários filmes separados se conectam para fechar em um Grande Filme em um grande fechamento mais de 20 filmes de heróis em quadrinhos e chegar a ser melhor que os quadrinhos, onde toda fantasia é possível, fazendo o imaginável, e fazer a maioria rir, chorar e vibrar em um único filme e ainda fugir do clássico herói que sempre vence o vilão mal e dar novas surpresas para este gênero, porque não é só colocar muito dinheiro e marketing em um filme, precisa também de muito talento, e esse filme está cheio de talentos, desde a direção, roteiristas e atores, parabéns Marvel.

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