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Viagem de Chihiro, A

(Sen to Chihiro no Kamikakushi, 2001)
8,4
Média
826 votos
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Críticas

Cineplayers

Um universo complexo, de criaturas fantásticas e uma aventura inesquecível do gênio da animação.

10,0

A Alice japonesa

Hayao Miyazaki, diretor de filmes de animação japonesa, é pouco conhecido no Ocidente - principalmente porque a divulgação de seu nome por este lado do mundo é um tanto quanto ineficaz. Mas foi graças a seu mais novo filme, A Viagem de Chihiro, que o diretor recebeu seu merecido respeito.

Ganhador do Oscar de Melhor Animação e do Urso de Ouro do Festival de Berlim, a história de A Viagem de Chihiro é cercada de simbologias complexas e criaturas fantásticas, tão magicamente elaboradas que parecem impressionar-se umas com as outras. A atmosfera do mundo criado por Miyazaki é vibrante e única, algo que nunca, nem com muito esforço, um estúdio como a Disney poderia imaginar.

É apenas na premissa mais resumida que o enredo do filme parece bobo e infantil: uma garota de 10 anos, acompanhada pelos pais numa viagem de mudança, vê-se subitamente encurralada numa situação desesperadora - seus pais, após comerem da comida de um restaurante desconhecido, transformam-se em porcos. A garota, então, deve fazer de tudo para reverter o acontecido. Porém, à medida que o filme avança, o espectador é lançado em uma sucessão frenética de acontecimentos, tão chocantes que se fica paralisado até o término da exibição dos créditos. São provas disso as perguntas que nos vêm à cabeça logo depois do fim do filme, principalmente aquelas relacionadas à personagem mais enigmática, o Sem Rosto, cujas atitudes levam tempo para serem compreendidas.

Segundo Miyazaki, a história de A Viagem de Chihiro é para todos que tenham 10 anos e que já tiveram 10 anos. De fato, paira no filme uma atmosfera diferente, absolutamente inédita, como se reproduzisse as impressões de uma criança a respeito do mundo que a cerca. Não só os pequeninos se encantarão com o universo criado por Miyazaki, mas também os adolescentes e os adultos deixarão envolver-se pelo seu clima. É surpreendente como as atitudes de Chihiro tomam forma no decorrer do filme: a garota parece simplesmente amadurecer, graças às situações por que tem que passar. Na verdade, A Viagem de Chihiro nos mostra uma garota boba e irritante, mas que depois consegue tomar suas próprias decisões. Sozinha, ela deve enfrentar tudo o que lhe ocorrer, tirando de seu interior uma coragem que antes não existia, e cuja origem só foi possível graças à exposição a acontecimentos hostis.

Entre tais situações, vale destacar aquela em que o Deus Rio, exalando um aroma insuportável, adentra a casa de banhos da feiticeira Yu-baba, onde trabalha Chihiro. Os funcionários mais experientes, assustados, jogam nas costas da garota a tarefa de limpar o pobre Deus. Ela, já tendo preparado o ofurô, conduz a divindade até o local do banho. Porém, a água não é suficiente para limpar toda a sujeira, e a menina não sabe o que fazer - é aí que entra em cena o Sem Rosto, que lhe dá as chaves para a obtenção de mais água. Em meio a essa confusão, surge algo parecido com um espinho na pele do Deus, que Chihiro arranca com a ajuda dos outros funcionários. Então, sai uma quantidade considerável de lixo - e o Deus Rio, despoluído, pode voltar ao lugar de onde veio.

O enredo pode parecer um tanto complexo, mas este é o estilo de Miyazaki. No Japão, o diretor é famoso justamente pela qualidade das histórias dos filmes que produz. Para efeito de comparação, Meu Amigo Totoro (disponível no Brasil em algumas poucas locadoras) tem um de seus roteiros mais infantis: nele, duas irmãs devem encarar o risco de perder a mãe, mas o enfrentam graças à amizade que constroem com curiosas criaturas, que vivem nas proximidades de sua casa.

Quando se trata da parte técnica, o "Disney japonês" (apelido que Miyazaki detesta) e sua equipe dão um espetáculo. A maioria das cenas em A Viagem de Chihiro foi feita a pincel, com exceção de poucas computadorizadas (a que Chihiro corre entre as flores, por exemplo). Os cenários são baseados na arquitetura tipicamente japonesa, e receberam um colorido intenso justamente para acentuar a fantasia do filme. A trilha sonora, composta por Joe Hisaishi, é boa e variada, apresentando desde temas leves até aos mais carregados. Aqui vale um destaque para a música-tema do filme.

É assim, em seu universo complexo de criaturas fantásticas, que A Viagem de Chihiro nos chama a acompanhar uma garota em busca de seus ideais. E aí, viveremos a chocante jornada da Alice japonesa.

Comentários (4)

Aruan P. Mello | sábado, 15 de Outubro de 2011 - 01:58

Estava eu em pleno domingo, entediado...
passei por milhares de canais ate ver essa animação na TVE...
recomendo...

Allan Donnola Barreto | segunda-feira, 07 de Novembro de 2011 - 01:11

Não consigo entender essa fissura que nós brasileiros temos por animações japonesas, Digimon, Pokémon Dragon Ball, Naruto, Os cavaleiros do zodiaco e outros tantos, o que acho peculiar é que nunca liguei para esses desenhos japoneses na minha infância, embora adorava Spectreman e Ultraman seriados que passavam na TV brasileira na década de 70 e 80, mas gosto de criança é algo absurdo, acho que quando somos crianças nosso senso critico é limitadíssimo e qualquer coisa boba engraçada fazem elas pararem na TV e adorarem.
Possuo uma locadora e aposto com você, se eu mostrar a viagem de chihilo ou shrek para dez crianças as dez vão escolher Shrek.
O que quero passar aqui nesta crítica é que japoneses não são os tais em animação, faça um teste para ver ser o que elas preferem, claro que depende da idade das crianças, mas a faixa etária ideal é crianças acima de 10 ou 11 anos, Experimente alugue ou mostre para ver quais elas irão escolher e se escolher.

Luiz F. Vila Nova | segunda-feira, 11 de Junho de 2012 - 11:01

Concordo plenamente com a análise. Quanto ao comentário do Allan, bom percebi que ele não sabe diferenciar um anime para TV de uma obra-prima da Ghibli. Ambos, são similares, porém completamentes diferentes em suas propostas, técnicas e principalmente no conteúdo oferecido.🙄
Quanto a comparação com Shreck (que é uma ótima animação tbm, porém bem distinta de Chihiro) é injusta, visto que a divulgação no Brasil de uma é infinitamente maior do que outra, sem falar no fato que a televisão brasileira só transmite entretenimento sem conteúdo (para não dizer outra coisa), o que faz com que as crianças se acostumem a só assistir esse tipo de coisa, e criem um preconceito com filmes em animação de outras nacionalidades, a não ser a norte-americana, é claro...😕

Renan Fernandes | quinta-feira, 16 de Maio de 2013 - 14:21

Colocou qualquer animação que a Disney, com suas princesas cliches esperando o amor da vida dela, no chinelo.

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