Estereótipos e roteiro horrendo fazem de filme "pseudo-feminista" obra totalmente dispensável.
Confesso que tenho mais dificuldade em escrever sobre um filme como Vestida pra Casar do que sobre qualquer obra-prima do cinema. Não por ser este mais um filme feminista cujo único público-alvo seja o formado pelas jovens que sonham com um casamento ou recém entraram em um. A dificuldade é escrever sobre algo tão vazio, tão sem conteúdo quanto o apresentado aqui. É aquela velha história: o filme consegue fazer rir uma ou duas vezes; consegue, através de recursos baratos, emocionar um pouco lá pelo seu final... mas em um filme cujo tema principal seja a paixão, o amor, cadê a paixão na hora de produzir o filme? Por que a produção fica satisfeita com um resultado medíocre como esse? Seria culpa dos espectadores, que não exigem mais do que o ordinário para saírem de suas casas e irem ao cinema?
O espectador certamente tem sua parcela de culpa, mas em qualquer projeto o principal culpado sempre deve ser o cabeça. Em um filme, esta pessoa é o diretor (às vezes, porém, seria o produtor, que acaba dirigindo um filme pelo diretor). Aqui temos uma – não surpreendentemente – mulher atrás das câmeras: Anne Fletcher, que já havia dirigido o horrendo Ela Dança, Eu Danço em 2006, um filminho que junta dezenas de estereótipos raciais e sociais em um só filme. Apesar de tentar passar uma mensagem feminista (“a mulher pode ser independente, não precisa de um príncipe encantado”), o roteiro (que é de outra mulher), acaba traindo-se totalmente, e nossa protagonista Jane (a bela Katherine Heigl, que esteve recentemente no ótimo Ligeiramente Grávidos) vira a mesma mulher sonhadora que o cinema tanto já está acostumado a retratar.
O roteiro, aliás, é novamente o principal vilão de mais uma bomba vinda de Hollywood. Utilizando-se, como já foi comentado acima, de recursos baratos e manipuladores, o trabalho de Aline McKenna (que escreveu o roteiro fraquinho de O Diabo Veste Prada, mas lá o filme fora bem dirigido pelo menos) acaba insistindo em clichês e fórmulas já desgastadas para agradar espectadores nada exigentes. O filme não foi um mega-sucesso, mas rendeu um valor razoável e certamente os produtores estão satisfeitos. O exemplo mais desprezível do texto (que, aliás, foi utilizado recentemente também em P.S. Eu Te Amo): garota, após passar alguns anos de sua vida atrás do que acreditava ser o “homem dos seus sonhos”, quando tem a chance de beijá-lo, dispensa-o pelo simples motivo de não ter encontrado a “emoção” esperada no primeiro beijo. Que diabos é isso? Ficção científica, certamente! Como se uma relação de amor (ou mesmo uma paixão) necessitasse realmente de uma “ignição”, um primeiro passo especial e inesquecível.
Todo o elenco jovem e bonito (embora a irmã loira de Jane que é apresentada como uma deusa e mulher desejável pelo filme seja o estereótipo da loira burra, e seja muito mais sem graça que Jane) faz o possível para agradar ao público, mas a direção destrambelhada, sem gosto algum e totalmente convencional de Fletcher faz com que o trabalho dos atores seja banal ao máximo. É claro que um filme desse estilo (mesmo se fosse originado de um material mais caprichado e interessante) não precisa de invencionismos técnicos nem de uma direção diferenciada, mas Fletcher aparentemente fez um esforço tremendo para deixar cada cena totalmente sem graça. Pode ser que o público-alvo saia agradado de uma sessão de Vestida para Casar, mas se você realmente estiver afim de conferir cinema de verdade, evite a todo o custo.
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