Um filme que tem uma história absurdamente ruim, mas que diverte por causa dos personagens e de sua bela técnica.
Filmes e mais filmes de guerra são lançados a cada ano, mas Valiant – Um Herói que Vale a Pena, a nova aposta da Disney (e de mais um monte de produtoras inglesas) neste concorrido ramo da animação em 3D, é bem diferente do tradicionalismo bélico e cinematográfico. É engraçadinho, com bons personagens, mas que esbarra na própria barreira criativa pelo qual a empresa vem sofrendo ao longo dos anos. Com a chegada da Pixar em cargos decisivos, esperamos que essa a de coragem, de imaginação e, principalmente, de variedade nas histórias chegue ao fim e seus temas (quase sempre criativos) comecem a gerar novas obras-primas – afinal, já estamos com saudades dessa época.
O filme até que tem uma idéia legal: durante a Segunda Guerra Mundial, Valiant (Ewan McGregor) é um pequeno pombo, que decide se alistar no exército de pombos correios. Ele acaba levando junto Bugsy (Ricky Gervais), um malandro pombo, fedorento, que embarca nessa dureza toda só para não sair perdendo em mais um de seus golpes. Quando todo o exército de pombos-correio morrem em combate, resta aos novatos, juntos de outros inexperientes recrutas, entregarem uma mensagem essencial para a vitória no campo de batalha. Mas há um grande perigo cercando nossos heróis: os falcões, que farão de tudo para evitar o sucesso de nossa turminha.
A história, apesar de uma sacada ou outra engraçada (principalmente tiradinhas – que as crianças não irão entender – sobre a guerra, no melhor estilo M.A.S.H.), é absurda e chega a ser irritante. A simplicidade com que tudo acontece quase beira à idiotice, e os rumos que toda a trama toma só podem ter sido pensados por um estagiário mal humorado que resolveu sacanear a empresa. É tudo tão bobo, idiota, que você a todo momento se perguntará por que diabos está acontecendo aquelas coisas na tela. Um exemplo claro: se a missão era tão importante, porque não um dos líderes ainda vivos levar a mensagem para o seu destino? Por que deixar a mensagem, tão importante para a vitória dos aliados, na mão de idiotas que nem uma formação aérea conseguem fazer?
Fora a total falta de geografia que o longa apresenta. Em uma perseguição, nosso herói e um falcão voam, voam, voam, e acabam chegando na terra natal de Valiant! É simplesmente inadmissível que, só para criar mais emoção à cena, tenhamos que engolir algumas forçadas absurdas como essa, só para poder satisfazer o deleite dos mais aficionados por seqüências de ação. É tudo muito simples, falta algo mais. O romance soa artificial, assim como os ideais em sonho de Valiant. Nada convence.
Em contraponto a esses aspectos negativos, temos uma linda criação computadorizada, capaz de gerar belíssimos cenários e dar um espetáculo visual impressionante até para os mais exigente apreciadores do gênero. A qualidade das texturas é absurda, riquíssimas em detalhes, e faz com que a própria Disney se envergonhe de ter lançado um filme tão feio quanto O Galinho Chicken Little há tão pouco tempo atrás. A parte onde Valiant passa entre os navios, os gramados, cada mínimo arranhão em um piso é reproduzido de forma brilhante pela parte técnica do filme e compõe, sem sombra de dúvidas, o seu ponto mais forte. Se não acompanhamos o filme por sua história, pelo menos ele é um deleite visual quase único.
Acompanhando o aspecto técnico, está a criatividade na hora de criar os personagens. Todos são divertidos e até os inimigos conseguem chamar a atenção da criançada. Se todos são rasos, clichês e sem nenhum background para construir um filme melhor, pelo menos as situações são divertidas o suficiente graças ao carisma desses jovens soldados. Atrapalhados, farão de tudo não apenas para cumprir seus objetivos, mas também para arrancar as mais sinceras gargalhadas da garotada – e nem precisarão passar pelo tema “sexo” para isso, como a grande maioria das produções tem feito hoje em dia (inclusive as nacionais, né seu Didi?).
Enfim, um filme que é uma bomba em seu pilar central, mas que não se torna insuportável por suas qualidades que seguram as pontas. Lindo e divertido, será uma ótima opção para aqueles dias que não temos nada para fazer em casa. Com o Oscar chegando, deve ficar bem melhor se visto em DVD nas férias dos moleques da vizinhança.
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