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Críticas

Cineplayers

Alan Moore não aprovou mas eu gostei. V de Vingança chega às telas pelas mãos dos criadores de Matrix.

8,0

Li a graphic Novel de V de Vingança na época em que foi lançada, plenos anos 80. Para minha cabeça adolescente, as idéias anarquistas do anti-herói V eram incendiárias e a própria estrutura da história era algo radicalmente ousado para a época, que foi marcada por importantes lançamentos de quadrinhos, muitos deles de autoria do mesmo Alan Moore (como A Piada Mortal e Watchmen). As adaptações de suas histórias para o cinema não deram muito certo, vide o fraco e equivocado A Liga Extraordinária, e quando li que os irmãos Wachowski iriam adaptar e produzir V logo depois de concluída sua ambiciosa e pouco satisfatória trilogia Matrix, fiquei preocupado, não apenas porque uma adaptação de V para filme é algo quase impossível, visto que Moore utiliza o meio dos quadrinhos ao máximo, com narrativas paralelas e textos que, apesar de nem sempre relacionadas com a trama central, complementam as idéias de uma forma muito difícil de traduzir para a tela. Mas, assim como não devemos esperar que livros sejam adaptados à risca, o mesmo deve ser feito com quadrinhos e devo dizer que a adaptação dos irmãos Wachowski foi competente como cinema, e deve ser vista como uma visão pessoal da obra.

O filme abre com um breve resumo da história de Guy Fawkes, um personagem já quase folclórico da Inglaterra e que inspirou Moore, uma necessidade visto que quase ninguém fora do país conhece a história e como esse é um produto de massa, o praxe hollywoodiano diz que se deve mastigar um pouco as coisas para que o povo não engasgue com a pipoca. Passamos para a Inglaterra num futuro próximo onde um governo totalitário foi implantado, a personagem de Natalie Portman, Evey, aparece se arrumando pra sair ao mesmo tempo em que vemos V, vivido por Hugo Weaving (o inesquecível vilão Smith de Matrix), vestindo sua fantasia de Guy Fawkes. Esta justaposição estabelece claramente quem são os nossos protagonistas. Na graphic, Evey era apenas uma das personagens que V encontrava mas os Wachowskis decidiram torná-la o centro do filme, simplificando a história através de seus olhos. Logo em seguida V impede o estupro de Evey e a leva para assistir seu primeiro atentado, essa é uma das únicas cenas de ação do filme e estou dizendo isso de maneira positiva. Depois da festa de Kung Fu que foi Matrix e do trailer dar a idéia de que o filme era mais um de super-heróis, foi um alívio ver que eles se contiveram e o foco rapidamente passa a ser a trama que é uma história política, V é um terrorista que quer derrubar um governo, os Wachowskis eliminaram muitas das ambiguidades do personagem e o tornaram um guerreiro da liberdade pois provavelmente por serem americanos foi a conclusão que tiraram da graphic, não estão totalmente errados e nisso é que reside a complexidade da obra de Moore.

Hugo Weaving está perfeito, mesmo sem mostrar o rosto ele consegue fazer de V uma figura carismática e cativante, torna-o um personagem mais romântico que o da graphic e dá credibilidade a inevitável atração entre ele e Evey. A maneira como o governo foi retratada que achei a mais mal resolvida no filme, John Hurt faz um personagem obviamente inspirado em Hitler que acaba tornando meio ridículas as comparações com a atual situação Bush/Blair, essas comparações poderiam ser levadas mais a sério se tivessem mantido o tom menos caricato da graphic. Paralelo a isso, ainda temos um investigador do governo interpretado por Stephen Rea que tenta descobrir seu paradeiro. 

É um filme com muitos momentos, alguns realmente muito bons, em especial um que se refere à carta de Valerie e cujo texto é estritamente igual ao da obra original. V de Vingança pode não ser o filme político mais sofisticado, mas ao aliar o espetáculo de Hollywood a pelo menos um pouco da coragem e essência do texto de Moore, os irmãos Wachowski e o diretor estreante James McTeigue conseguiram criar uma obra que fica acima da média dos filmes de ação, por vezes me lembrou O Clube da Luta no que diz respeito a tentar aliar entretenimento e idéias. O resultado me agradou bem mais do que as filosofadas de Reloaded e Revolutions e pelo menos aumentou a procura pela Graphic Novel original. Se você, como eu quando era adolescente, também achou a anarquia de V contagiante, faça o mesmo.

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