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Críticas

Cineplayers

"Totalmente desnecessário" é um termo que serve bem a Underworld.

4,0

Vampiros e Lobisomens. Nenhuma outra criatura está mais associada ao gênero terror do que essas duas espécies. E nada poderia soar mais tentador aos ouvidos de qualquer fã do gênero do que um filme envolvendo uma guerra entre as duas raças. A idéia é muito boa, algo que se bem pensado atrairia tanto a atenção do público quanto uma luta entre Freddy Krueger e Jason Voorhees, ou entre as criaturas da série  Aliens versus os temíveis caçadores da série Predador. Enfim, uma oportunidade de ver os Lobisomens - criaturas poderosas mas que em todos os filmes e demais veículos sempre foram retratadas como serviçais de outras criaturas mais poderosas - descarregando toda sua selvageria em outro ser também absurdamente poderoso. No caso, os vampiros.

E se nesse enredo ainda for adicionado pitadas de Romeu e Julieta, outro clássico universalmente conhecido? Então certamente as possibilidades seriam ainda maiores. Afinal o clássico shakesperiano sempre teve o dom de agradar, ou ao menos dar uma carga dramática necessária à qualquer enredo limitado. Teríamos vampiros e lobisomens - criaturas tradicionalmente retratadas como levando uma vida amaldiçoada - tendo seus dramas ampliados pela maldição de um amor proibido, que envolveria raças tão distintas levando-as a uma guerra tão imortal e terrível quanto suas vidas.

As possibilidades são muitas. Mas, o que poderia fazer um filme desses dar errado? Simples, outra maldição conhecida como falta de criatividade. Infelizmente essa maldição recai sobre quase todos os elementos do filme. Do figurino e coreografias ao enredo e efeitos sonoros. Nada do que é visto parece inteiramente novo e, em  vários momentos, cenas, situações, equipamentos e movimentações lembrarão outros semelhantes já vistos em filmes como Blade, O Exterminador do Futuro 2, Um Lobisomem Americano em Londres e, principalmente, Matrix. Aliás, esse último certamente foi a maior fonte de inspiração aos responsáveis por Underworld. Seja no vestuário ou seja nas coreografias.

E essa inspiração é um dos responsáveis pela falta de brilho do filme, pois quem esperava uma luta clássica entre criaturas fantásticas como lobos gigantes (ou semi-humanos, o que seria melhor ainda) contra ágeis super-humanos morto-vivos, pode sair decepcionado, pois o sobrenatural é um recurso muito pouco usado no filme. Os vampiros raramente mostram os caninos afiados e quando o fazem é apenas para causar algum impacto visual, pois eles são de pouca serventia. No geral as lutas são na base do tiroteio mesmo. Balas com nitrato de prata para os lobisomens e balas com radiação ultravioleta para os vampiros, e na grande maioria das vezes tudo mostrado de forma tumultuada, ficando difícil identificar quem é quem ou de que lado está. Aliás, identificar os lados já é outra tarefa um tanto ingrata, pois até a segunda metade do filme não é apresentado nenhum motivo que justifique o fato dos lobisomens estarem sendo caçados e exterminados por criaturas tão terríveis quanto eles, e nenhum dos lados parece nem um pouco simpático, de modo a atrair a afinidade dos espectadores.

O enredo é pouco inspirado. Selene (Kate Beckinsale), é uma vampira que faz parte de um grupo que caça lobisomens (que no filme são chamados de "Lycans"), que após um confronto com alguns Lycans, percebe atitudes estranhas no modo de agir das criaturas. Primeiro, eles estariam portando munições ultra-violeta, coisa que eles não teriam conhecimento nem condições de desenvolver (fato que cai no esquecimento no decorrer do filme). Segundo, estavam seguindo um humano. O que é estranho, já que o único interesse que um humano poderia ter para um Lycan é servir de alimento. Inconformada com a pouca atenção que seu superior dá ao fato, Selene parte em busca do humano, que se chama Michael Corvin (Scott Speedman) para tentar descobrir qual o interesse dos Lycans por ele. E acaba descobrindo segredos tanto sobre a milenar guerra entre as duas raças quanto sobre seu próprio passado.

Com brechas abissais, o filme ainda peca em dar pouca atenção aos modelos clássicos do terror, como por exemplo o fato dos Lobisomens não dependerem da lua cheia para se transformarem (fato que é comentado, mas sem darem nenhuma explicação), ou os vampiros possuírem reflexo (fato que infelizmente parece estar se tornando característica dos vampiros. Vide últimos filmes sobre a espécie). Além do que o sol em momento algum é um elemento que deva ser levado em conta ou o fato dos vampiros terem alguma necessidade de se alimentarem. Inclusive, em determinado momento, Selene desmaia por ter perdido muito sangue, e algum tempo depois acorda, sem apresentar a mínima necessidade de sugar o sangue de alguma vítima, coisa tão corriqueira em filmes de vampiros. Mesmo que ainda seja apresentado o argumento do sangue clonado, esse exemplo demonstra ser no final das contas apenas mais um fator limitante, algo que acaba com a selvageria dos vampiros.

Underworld é um filme que poderia ficar na memória como um bom filme de ação. Ou talvez até mesmo o primeiro de uma boa série. Mas da forma que foi apresentado não passa de um filme pipoca que deve ser visto sem grandes pretensões. Sem nada a acrescentar além do mais do mesmo.

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