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Três Verões

(Três Verões, 2019)
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Críticas

Cineplayers

Alô, Regina!

6,5

Sandra Kogut nos acostumou mal. Quando você dirige Mutum e Campo Grande, gols muito superlativos do nosso cinema recente, os holofotes viram espaço de cobrança. E embora já tenha flertado com a leveza nas suas obras anteriores, nesse novo Três Verões a proposta cômica fala alto desde a cena inicial com Madá tentando fechar a compra de um terreno, e isso vai se desdobrar ao longo de todo o filme, que também trabalha com o registro de um drama mais denso, criando um equilíbrio de tom muito positivo e esperado dentro do que já entendemos ser o universo de criação de Sandra, que flui muito bem entre suas propostas. O trabalho de direção aqui é muito específico sobre a tonalidade de cada cena, que consegue ser firme mesmo no meio de um sem número de trocas desse mesmo tom.

A dinâmica do roteiro, no entanto, não é suficiente para preencher uma narrativa calcada nesse jogo espacial: acompanhar a história de uma família e seus empregados em três dezembros consecutivos, e assistir a derrocada moral e social dessa mesma família no geral, e de Madá em particular, que precisa rearranjar toda a sua vida pra equilibrar seus sonhos e obrigações. Como não acompanhamos as ações a respeito do ano, ficamos reféns de diálogos que vez por outra soam expositivos, e em outras ocasiões algumas falas parecem artificiais simplesmente, sem que o elenco possa fazer muita coisa pra mudar o quadro. O relevo de muitos personagens fica preso às cenas do primeiro Natal do filme, e não são desenvolvidos por mais que seus atores sejam superlativos.

Um elenco de fato imenso, em seu número e talentos: Rogério e Gisele Fróes, Otávio Müller, Carla Ribas, Jéssica Ellen, Paulo Verlings, Leonardo Neto, Charles Fricks, Edmilson Barros, Luciano Vidigal, Daniel Rangel, Gustavo Machado e muitos outros, absolutamente integrados e criando tipos com muita dimensão, mas infelizmente sem espaço pra aumentar sua proposta de leitura daquelas pessoas. Também parte dessas pessoas obedecem um padrão estabelecido pelo roteiro, de estrutura narrativa para ocupar a jogada proposta. Se no papel a ideia era muito promissora, na tela bate como redicionismo de vários micro núcleos ali, ao obedecer essa mesma estrutura.

Ainda assim, a fotografia de Ivo Lopes Araújo aprimora o naturalismo visual que é a marca de Sandra. Vemos, por exemplo, o personagem de Müller - um homem envolvido em escândalos de corrupção - quase sempre espremido nas laterais das cenas, explorando o conceito de pressão pelo qual aquele homem está passando, prestes a explodir. Ivo também explora a luminosidade careta daquele ambiente noveau riche em processo de demolição moral; o filme explode suas certezas de roteiro em um processo imagético fiel às origens da diretora, mas que também tira o glamour fake que poderia existir ali.

Mas se tem um gigantesco nome responsável pelo bom andamento de toda a produção, pelo interesse do público pelo filme, pela coesão estabelecida do início ao fim, esse nome é o de Regina Casé. Desde sua primeira aparição na tela, Regina não demonstra qualquer traço da Val de Que Horas Ela Volta?, mesmo vivendo em fatia de mercado próximo. Madá é o oposto de sua personagem anterior: explosiva, reativa, carioquíssima, agente de ação, Regina consegue revestir Três Verões de humanidade, sagacidade, e de um sucesso de brasilidade amplificado em seu assustador climax, quando ela vai de um polo emocional a outro, mais uma vez provando a imensa atriz que é. Sua química com Rogério Fróes é o talismã de um filme que precisa dela para se soltar de uma armadilha criada pra ser positiva, e que quase o condena. 

Crítica da cobertura da 43ª Mostra de São Paulo

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