Até mesmo Michael Bay já estava de saco cheio de Transformers. Depois da revitalização da franquia, que nasceu nos anos 80 como desenho animado de sucesso para promover uma nova linha de brinquedos, viu-se nos desenvolvidos efeitos especiais uma chance de reaproveitá-la e fazer o caminho inverso, das telas para os derivados. A fórmula de sucesso que gerou Transformers – O Filme (Transformers, 2007), de uma fita com muita explosão, história que apenas liga os pontos sem muito esforço e lógica, com dois astros jovens e em ascensão deu certo, gerou milhões de dólares, produtos oficiais e mais um filme, Transformers: A Vingança dos Derrotados (Transformers: Revenge of the Fallen, 2009), que desde o lançamento não foi muito bem visto pela crítica e pelo público em geral.
Só que a cine série tem que ser vista sob outra ótica: ela não tem compromisso com a realidade, com a coerência, com a história do cinema, nada disso; a arte de Transformers é justamente não ser arte. Quando cito que até mesmo Michael Bay já estava torrado, refiro-me às declarações que deu na época de lançamento do segundo filme, no hoje longínquo ano de 2009: “Se eles querem o filme para julho de 2011, não serei eu a dirigi-lo; não teremos um novo Transformers antes de 2012, preciso descansar o meu cérebro” (ok, sem piadas quanto a ‘desligar o cérebro’), ou então “o filme, definitivamente, não será em 3D”. Dois anos se passaram e ele se tornou vítima da indústria: estamos tendo um novo Transformers no dia 1º de julho. E em 3D.
Essa volta toda é necessária para entender um pouco do porquê Transformers: O Lado Oculto da Lua (Transformers: The Dark of the Moon, 2011) ser tão ruim. Deixando claro que não há birra com os filmes anteriores e muito menos com o cinema de Bay, fica óbvio que ele mesmo não estava com muita disposição para a direção, feita nas coxas apenas para atender as vontades de um estúdio de um segmento que não para nunca. Assusta dizer que a história é muito ruim, a ação está desbalanceada, há personagens demais e não há nada de muito interessante que aconteça durante toda a projeção; e isso comparando apenas com os filmes anteriores. E, quando comparado a um próprio Transformers, há explosão demais e interesse de menos, é porque alguma coisa saiu verdadeiramente errada.
Você não irá encontrar o de sempre. Há comédia, mas, no geral, ela é muito ruim (lembro de ter soltado risada apenas em uma cena, quando Bumblebee se transforma, luta e volta à forma de carro, enquanto Sam voa gritando igual a uma moça durante toda a ação). As demais tiradas já comprovam o sinal de cansaço da franquia, baseando-se em uma auto-paródia que soa diversas vezes ridícula, principalmente pela tentativa exagerada de fazer graça com tudo – até o subtítulo do longa faz referência ao clássico álbum da banda Pink Floyd. A ação continua confusa, principalmente pela semelhança entre os robôs, onde há poucas diferenças entre eles, seja por um amarelo, uma chapa vermelha aqui ou ali, ou então características instintivamente malignas, como caldas, ferrões e olhos vermelhos.
Sam (o carismático Shia LaBeouf), que ganhou uma medalha de Obama e teve sua faculdade toda financiada pelos EUA graças aos atos heróicos anteriores, hoje é desempregado e vive sustentado pela nova namorada Carly (Rosie Huntington-Whiteley), que trabalha como organizadora de uma coleção de carros de um riquinho local (Patrick Dempsey, da série Grey’s Anatomy). Quando Megatron (Hugo Weaving) consegue executar um plano para dominar a terra, Optimus Prime (Peter Cullen) e os demais autobots devem fazer de tudo para impedir que ele obtenha sucesso, com a ajuda de um dos principais robôs, que viveu adormecido por décadas na Lua.
Mesmo que a história focasse só nos personagens, sem nenhuma cena de ação, não haveria tempo para desenvolver uma narrativa satisfatória para todos eles. Inclua aí na equação todos os personagens dos filmes anteriores e mais algumas participações novas, como John Malkovich e Frances McDormand, e já dá para ter uma noção do tanto que acontece em Transformers 3 – mas, é um filme de Michael Bay, então isso é o de menos, correto? Não é bem assim. Apesar dos efeitos esplendorosos durante toda sua duração, até a computação gráfica escorrega ao digitalizar o rosto do presidente Kennedy de forma plástica e irreal.
Aliás, nem todos estão presentes: Megan Fox ficou de fora depois de ter sido demitida por Spielberg ao comparar o diretor Michael Bay a Hitler. Sobrou-nos uma nova musa, Rosie, que se limita a tentar imitar Fox, mas sem o mesmo apelo sexual, ou seja, tentando claramente ser o que não é ao invés de tentar se desprender da imagem que Fox trazia. Sendo assim, Rosie nunca convence, sendo sempre um espelho torto, ainda que absurdamente bonita e com curvas convincentes realçadas pelo generoso figurino, mas a todo momento deixando a impressão que ela não é aquilo e nós, deste lado da tela de cinema, percebemos isso claramente.
Algo que se encontra em filmes de ação em franquia é a tentativa de superar os anteriores em grandiosidade. Se já tínhamos robôs enormes no segundo Transformers e um problema que envolvia nações inteiras, neste terceiro há o exagero na tentativa de alcançar o épico: uma cidade inteira é destruída, há um robô minhoca gigantesco que tritura construções, há tele transporte de planetas e até mesmo uma releitura da corrida espacial entre Estados Unidos e União Soviética que ocorreu nos anos 60 – algo que, por sinal, Hollywood vem gostando de fazer, dar novas versões a fatos conhecidos da história.
Porém, não há um equilíbrio em tudo o que acontece: a última hora inteira é ação ininterrupta de explosões e mais nada, ou seja, toda a história acontece mesmo em pouco mais de uma hora e meia, deixando todo o resto da duração para esse tipo de acontecimento – e quando é contada, até mesmo tons de tragédia Shakesperiana entram no bolo, algo completamente deslocado. Na verdade, valentes serão aqueles que conseguirão chegar até o final sem pegar no sono, mesmo com tanto barulho em sala. Transformers já cansou e tomara que esse terceiro filme sirva para que os responsáveis pela franquia percebam isso.
Eu concordo, muito diferente do primeiro TRANSFORMERS que ao menos, possuía o aspecto novidade. Os dois ultimos exemplares da franquia são filmes ruins, pouco interessantes, onde nem o CGI consegue capturar o espectador como antigamente.