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Críticas

Cineplayers

Transformers chega para surpreender e ser o melhor filme de ação da temporada. No meio da concorrência, isso não é pouco.

5,0

Foram anos de luta por parte do feminismo até que os homens pudessem dizer sem constrangimento para as suas esposas: “Eu te amo”. Muita análise e umas duas décadas depois, estavam os homens dizendo “Eu te amo” para suas mães e até para os pais. Agora Hollywood foi além: os homens dizem “Eu te amo” também para seus carros. Pois Transformers – O Filme é isso, uma tentativa de mostrar que a relação entre um adolescente e seu carro pode ir além da masturbação.

Aviso 1: o autor desse texto era adolescente nos famigerados anos 80, colecionava os Transformers (tinha três, todos vilões) e ainda via o desenho animado. 

Transformers – O Filme é uma fantasia direitista. Reacionário e conservador, tem como um dos heróis o Secretário de Defesa dos EUA, interpretado por John Voight, que se baseou em Donald Rumsfeld, o grão-vizir de George Bush, nas roupas, nos trejeitos e até nos óculos. Faz apologia da guerra, da intervenção no Iraque, defende o neo-conservadorismo da era Bush. A pergunta é: isso atrapalha a ver o filme? Claro que não. Se o diretor tem suas crenças políticas, nada mais democrático do que deixá-lo expor – Steven Spielberg, produtor do filme, é democrata engajado, acaba de doar meio milhão de dólares para a campanha de Hillary Clinton à presidência.

Aviso 2: Transformers é um dos filmes mais machistas já feitos por Hollywood. Ao comprar seu primeiro automóvel, o rapaz diz para o amigo: “Agora tenho o carro, falta a garota”, e coisas do tipo.

Transformers – O Filme é a fábrica de sonhos de Hollywood: efeitos visuais (padrão Industrial Light & Magic) e uma experiência sonora realmente impressionante – a distribuidora exibiu os filmes para os jornalistas numa das três salas de São Paulo equipadas com aparelhagem THX, da própria Industrial Light & Magic. Quem for ver o filme, dá para ouvir até as rodas deslizando pela lataria dos Transformers quando eles mudam de carros para robôs.

O único robô construído para as filmagens, Bumblebee, tinha cinco metros de altura e pesava 3,7 toneladas. As fenomenais transformações do supervilão Megatron, líder dos Decepticons, em jato de caça custavam à equipe de efeitos até 38 horas para cada quadro (1/24 segundo) ser feito. Enfim, não economizaram para esse que se pretende ser o blockbuster do verão 2007.

A ação é praticamente ininterrupta, de forma que as duas horas e meia do filme passam passar rápido. Como o filme é dirigido por Michael Bay, os atores interpretam mal, os diálogos são ruins, há uma deliberada e nem um pouco sutil manipulação sentimentalóide de instintos básicos. Mas, sinceramente, isso importa pouco, pois não é essa a intenção do filme e fica claro desde o início: o que se espera é muita adrenalina, perseguições, batidas, efeitos, explosões. O diretor parece ter fetiche com essa violência toda, a um quê de sexual na maneira com ele filma suas máquinas, inclusive as de carne e osso. Sai roteiro e entra a marcação de movimentos, para os atores contracenarem com o nada.

Michael Bay fez antes (Pearl Harbor, Armageddon, A Ilha) e outras barulheiras e patriotadas. Nas cenas de luta (2/3 do filme), é uma utilização tamanha e tão feérica de câmera e edição que a sensação de vertigem chega a ser real. No contar a história, ele diminui o ritmo, mas nunca jamais faz um plano que demore mais de 15 segundos, todos empaturrados de efeitos de luz (na exagerada fotografia de Mitchel Amundsen), som e trilha sonora, ambos à beira do ensurdecedor.

Enfim, os blockbusters do verão 2007 deixam claro que o cinema americano está indo mais para os efeitos e exageros de Transformers do que para as delicadezas de Ratatouille. Já era tendência nos verões anteriores, quando X-Men 3 também desistiu da crítica social e partiu para a batalha da pipoca. Esse ano, foi a vez do Homem-Aranha sucumbir à simplificação. Todos os filmes estão ficando mais parecidos com Piratas do Caribe e sua sucessão de batalhas e cenários suntuosos. O topo desse tipo de cinema seria Transformers.

A revista Hollywood Reporter já havia antecipado isso em reportagem na edição do mês passado, dizendo que Transformers inauguraria uma nova forma de se ver cinema, em que as “antigas” formas de se analisar o cinema não deveriam ser usadas nesse filme.

Transformers não vai embaralhar a clara divisão que existe entre os que amam e os que odeiam Michael Bay: é fácil detestá-lo e menosprezar seu trabalho e seu partis-pris ideológico, pois era o diretor de patriotadas frágeis e inconvincentes. Transformers não acrescenta nada à sua carreira cheia de nulidades.

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