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Chalé, O

(The Lodge, 2019)
6,6
Média
40 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Gênero no conforto

6,5

O cinema de gênero voltou a ser qualificado como passível de análise crítica nessa última década, também mediante os esforços de realizadores em entregar material que oxigenasse a produção, através de filmes que conjugassem os artifícios preponderantes do gênero a valores narrativos e de produção que mudaram a visão de público e malha jornalística a respeito de seu caráter. Sem querer entrar na patética discussão a respeito de renomear suas características básicas ("pós-terror", "meta-horror", e outras bobagens do tipo), a década que caminha para o encerramento foi palco de uma vitrine rejuvenescida para o lugar onde o cinema de terror hoje está.

Graças a pessoas como Severin Fiala e Veronika Franz, realizadores do perturbador Boa Noite, Mamãe, existe hoje um novo debruçamento sobre a produção que vem sendo alimentada por novos e mais desafiadores diretores e projetos. Então, eis que estamos diante do novo filme exatamente dessa dupla, que realiza aqui um trabalho não muito diferente de alguns outros já lançados recentemente, mas que mantém nossa atenção a respeito de sua obra graças a uma feliz solução de elementos gráficos e a uma proposta de lidar com a culpa, a fé e outros valores difundidos pela religião através do olhar infanto-juvenil, e em como a reverberação desses valores, quando reprimidos, podem gerar um caminho de destruição.

O filme perfila planos de impacto visual (um suicídio em seu prólogo, um ritual de joelhos na neve, a queda de uma escada) que confirmam a excelência de Franz e Fiala em conceber um trabalho de decupagem propício aos seus propósitos. Filmado de maneira fria, com cores esmaecidas e uma constante manutenção da melancolia em cena, The Lodge não tenta mudar o clima para angariar viradas emocionais, e esse talvez seja um ponto de percepção negativo; o filme nunca muda de vibração enérgica, nos encarcerando em uma contínua experiência depressiva e dark. Quando tudo é sombrio e suspeito, logo nada será, certo?

Quando então o longa ameaça revelar novos dados a respeito da narrativa, o faz sem mudar nada em características de tom, visual, sonoro ou narrativo; logo, não há catarse, apenas um mergulho cada vez mais contínuo em uma realidade que nunca foi diferente. A protagonista vivida pela talentosa Riley Keough, por exemplo, não movimenta sua trajetória para lugares diferentes, então o público se posiciona de maneira segura em relação àquela mulher, que é apresentada por entre vidros, de costas, de longe, e quando se mostra frontal é pra reafirmar os signos que tinham sido plantados pela construção da direção. Coerente sim, surpreendente não.

Há sem dúvida os valores de produção adquiridos, mas narrativamente The Lodge não avança ou investiga nenhum lugar onde o gênero já não passeie eventualmente sem adquirir nada de novo, incluindo gatilhos narrativos antiquados (o pai precisa deixar os filhos com a madrasta e o trio fica assolado por uma nevasca, incomunicável) sem subverter nada deles, é só a boa e velha manutenção de códigos. Ainda que estejam conduzidos com certa elegância na mise-en-scène, de nada adianta o invólucro se o conteúdo só repisa temas e soluções já apresentados em lugares anteriores com alguma repetição. Fica então o produto para consumo rápido que não necessariamente inova em qualquer área, mas serve pra manter o interesse em um gênero redivivo.

Crítica da cobertura do 21º Festival do Rio

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