É particularmente prazeroso acompanhar longas que conseguem eficiência, mesmo não se levando lá muito a sério. Torna-se ainda mais aprazível quando notamos tal despretensão em gêneros mais específicos, dentre eles o subgênero slasher. É a partir dessa derivação do terror clássico que Todd Strauss-Schulson arquiteta esse Terror nos Bastidores, material audiovisual certamente irregular, mas que consegue projetar um mínimo frescor pra sua abordagem sobretudo satírica das ações de psicopatas que matam sem qualquer piedade.
A conexão com os cenários e personagens do filme será imediata para aqueles que já tiveram contato com Sexta-Feira 13 (1980), Acampamento Sinistro (1983) e Halloween (1978). Até mesmo Pânico, de 96, serve de referência aqui. Schulson maneja bem essas referências nas quais se inspira, não tornando-as um mero pastiche em seu filme. Ele as aglutina a partir da metalinguagem e cria uma divertida brincadeira ao mover sua trama dentro de outra já conhecida. Faz o famoso filme dentro do filme.
A personagem Max, interpretada pela ótima Taissa Farmiga, acaba entrando acidentalmente no filme slasher estrelado por sua mãe anos atrás. Ela não está sozinha, por motivos óbvios de uma trama que se inspira nos filmes de equipe buscando sobrevivência perante um indivíduo pervertido, e por isso o filme em seu primeiro ato consegue um bom efeito nessa sua dinâmica de grupo, composto de tipos bastante conhecidos.
É nessa primeira metade que o longa mais consegue nos puxar pelo braço pra se envolver com aquela perspectiva diferenciada, tanto do espectador, que se depara com uma boneca-russa cinematográfica, quanto dos personagens, que se encontram presos naquele loop de 92 minutos, duração do filme dentro do filme maior, o de Schulson. Até por sua própria ideia, sua premissa mesmo, o longa se mostra arrojado na montagem e até mesmo na condução de seu diretor, que encontra algumas soluções bastante descomplicadas pra decupar algo que seria complicado na teoria.
Compõe graficamente, por exemplo, alguns takes com um mínimo efeito visual para representar didaticamente o que seria um flashback, quando a personagem Vicki começa a narrá-lo para os personagens daquela trama em que caiu junto de Max. O quadro vai se distorcendo lentamente e o diretor aplica sobre aquela paleta de cores, que vinha bem diversificada por sinal, o bom e velho preto e branco pra voltar aos idos de 1950.
Quando está na trama do filme em que acabam “caindo”, o grupo interage nas situações mais clichês possíveis, sendo o personagem do Adam DeVine a maior exacerbação nesse sentido. A hipérbole que emana dele está até em suas expressões, algo que se mostra um exagero, não em um bom sentido. Outro ponto baixo aqui, à parte de toda boa construção de Schulson, a partir de escolhas estilísticas pra lá de justificáveis, é o encaminhamento do filme lá pro seu final, com um aprofundamento pouco empático para o espectador entre mãe e filha, algo que deixa pra ser trabalhado somente no terceiro ato sem uma melhor costura prévia e que, por isso, soa como algo jogado.
Dá também para apontar, como algo limitante, a previsibilidade no filme, que na prática é como uma caixa dentro de outra maior. Até por isso, o espectador já sabe para onde a história irá crescer e para onde suas poucas arestas irão se expandir. Faltou Terror nos Bastidores andar um pouco mais com as próprias pernas, uma vez que joga tantas cartas e personagens na mesa, mas parece satisfeito demais em apenas trucar. Certo é que esse efeito de tirada de sarro, de ótica metalinguística brincando com o que é o próprio cinema, deixa um gosto agradável, mas os rumos aqui evidenciam claramente que sustentar um longa, por mais enxuto que seja em sua duração, apenas nesse frescor de ironia passageira, deixa um olhar minimamente atento querendo mais.
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