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Críticas

Cineplayers

A melhor adaptação de um game já feita para o cinema. Simplesmente fantástico.

8,0

Os filmes baseados em games sempre foram vistos com maus olhos, uma vez que poucos têm a ver com sua obra de origem e dificilmente trazem algo de interessante para aqueles que não conheciam o material de origem. Isso até o dia 18 de Agosto de 2006. Chega aos cinemas Terror em Silent Hill, o filme que sempre foi visto como promessa de reverter esse paradigma. E, fico feliz em dizer, não apenas por ser fã do jogo da Konami que serviu como matéria-prima ao filme: eles conseguiram.

Lançado no início de 1999, Silent Hill chegou para concorrer diretamente com a clássica franquia da Capcom Resident Evil (que você já deve estar familiarizado; mas não se engane, o jogo é muito melhor que os dois filmes). Christophe Gans se inspirou nos dois primeiros jogos da franquia (que já conta com quatro) para realizar Terror em Silent Hill, um filme que não é apenas bom como horror, mas como transposição de dois diferentes tipos de mídia - a mais perfeita já feita até hoje.

A história é a seguinte: Rose (Radha Mitchell) e Christopher (Sean Bean) têm uma filha sonâmbula (Jodelle Ferland) que põe em risco a própria vida algumas vezes que vai dormir, pronunciando a palavra Silent Hill. Estudando, os pais acabam descobrindo que Silent Hill se trata de uma cidade fantasma, excluída do mapa depois que um terrível acidente aconteceu no lugar, anos atrás. Porém, decidida a acabar de vez com o que quer que afete sua filha, Rose procura o lugar. Ela só não imaginava que uma simples sirene seria apenas o início do pior de todos os seus pesadelos...

Terror em Silent Hill tem uma série de características que poderiam classificá-lo como um filme genérico: uma criança usada de forma monstruosa (você já viu isso em vários filmes japoneses; e Silent Hill tem origem nipônica), uma série de acontecimentos meio aleatórios que pretendem mais assustar do que levar o filme à frente, uma meia falta de lógica na sua conclusão que vai afetar, com a mais absoluta certeza, aqueles que não jogaram o game...

Porém, essas mesmas características, quando bem empregadas, podem servir como um belo polimento para a mais bela e pequena pedra preciosa - e é exatamente o que acontece por aqui. A menina realmente tem cara de pazuzu, a série de acontecimentos aleatórios vão levando o filme à frente de forma aterrorizante (realmente parecendo com um game) e o final é perfeito para todos aqueles que conhecem o material de origem. Ou seja, não se sinta culpado se você sair do cinema sem ter entendido um pingo do que aconteceu; pense nos vários momentos tensos que passou para perceber que realmente, no quesito assustar, Terror em Silent Hill é bastante eficiente.

Tudo remete ao jogo: a neblina característica da série (que nasceu pela limitação gráfica de processamento do Playstation, mas se tornou o ponto de referência do jogo), a corrida sozinha pelas ruas desertas, o mundo paralelo que se forma de tempos em tempos... Tudo foi perfeitamente adaptado por Christophe Gans ao filme. Cada caminho que Rose trilha está incrivelmente bem ambientado (impressionante como fizeram a ambientação IDÊNTICA ao game) e vai assustar estando claro ou escuro (com mais intensidade para a segunda opção). Gans chegou a inserir uma seqüência no trailer quase que 100% igual à abertura do primeiro game da série, só que no filme ela é bem diferente (um presente aos fãs o trailer , eu diria).

O cuidado foi tão grande que os monstros, que poderiam claramente ser motivos de piada dentro do cinema, fizeram até aqueles agitadores de final de semana ficarem quietinhos durante toda a projeção (sim, foi impressionante!). Andam tortos, cuspindo coisas estranhas, muito bem feitos mesmo, fazem barulhos horríveis (tanto os do dia, mal aproveitados, quanto os da noite, muito bem aproveitados, principalmente o sinistraço pyramid head). Os monstros eram dançarinos profissionais para poder conceder fluidez e verosimilhança à todos aqueles movimentos estranhos. Ponto altíssimo para o longa.

As reclamações gerais ficam por duas principais razões: o fato de terem substituído Harry (protagonista do primeiro jogo) por uma mulher e por terem inserido várias cenas desnecessárias de Christopher (Sean Benn). Quanto ao fato da substituição, não reclamo: no jogo, Harry toma diversas atitudes que estão mais relacionadas a uma mãe do que a um pai; só que explicar isso sem deixar dúvidas em dez horas de jogo é muito mais fácil do que em um filme de duas horas.

Já quanto às cenas de Christopher, entendo as reclamações e concordo que elas são realmente desnecessárias ao filme, mas cabe aqui uma explicação: Christophe Gans (o diretor do longa, não confunda) passou cinco anos de sua vida tentando fazer um filme sobre Silent Hill. Chegou a filmar, de seu próprio bolso, algumas passagens (assim como Robert Rodriguez fez com Sin City) e enviou para a Konami, junto de suas intenções, até conseguir a liberação final para realizar o longa. O personagem de Sean Benn surgiu a partir de uma exigência do estúdio, que queria que o filme tivesse um personagem masculino; exigência ridícula de ser conseguida perto de tantos anos de espera para a realização do longa; o diretor simplesmente atendeu à exigência do estúdio.

Terror em Silent Hill conta ainda com roteiro de Roger Avary (o mesmo que trabalhou com Quentin Tarantino em Pulp Fiction - Tempo de Violência), que completa bem (mas não tão perfeitamente por causa de algumas frases de efeito que odeio) a linda composição visual do longa e a trilha sonora inconfundível da série. Não é apenas um filme fantástico feito para fãs; é um terror que o deixará realmente incomodado e com uma angústia poucas vezes vistas esse ano no cinema. Não tem nada de novo como arte, mas como adaptação de um game para à tela grande, é um passo enorme. Tornou-se o ponto de referência a ser batido para qualquer outro filme baseado em um game que venha daqui para a frente.

Observação: a censura é 18 anos; acredite, algumas cenas de realismo extremo vão justificá-la. O filme é bem violento mesmo, um verdadeiro banho de sangue.

Comentários (1)

Douglas Rodrigues de Oliveira | quarta-feira, 25 de Janeiro de 2012 - 04:33

Adoro essas críticas nerds do Cunha, são tão sinceras e abrangentes, eu rio muito lendo, kkkk Vou conferir! 😉

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