Uma animação européia em computação gráfica tecnicamente muito boa, mas sem um roteiro decente.
Nascido na Europa, o que já o torna uma animação exótica (o primeiro longa alemão totalmente computadorizado, aliás), A Terra Encantada de Gaya é uma produção germano-hispano-britânica que chega ao Brasil com dois anos de atraso, já tendo sido indicada para a categoria de melhor filme no Festival Internacional de Cinema do Porto. Como as outras grandes produções ocidentais do gênero, ela vem construída por magníficos efeitos visuais e moderna computação gráfica, mesmo que sustentada por orçamento visivelmente menor.
Gaya é um programa de televisão, praticamente um universo paralelo, criado por Albert Drollinger e em que as personagens constroem uma trama acompanhada por milhões de espectadores. Em um dos episódios, o rei promove uma corrida automobilística e promete como prêmio um beijo da rebelde filha Alanta, a quem a idéia naturalmente causa revolta. Além disso, um grupo de vilões pretende atrapalhar a corrida, para dilapidar o sucesso dos prováveis vencedores, Zino e o amigo Boo.
Por trás deles, entretanto, existe um vilão maior. O professor N. Icely, irritado com a perda de audiência de seu programa perante o sucesso de Gaya, planeja vingar-se dos espectadores que o traíram: ele pretende trazer para o mundo real uma esfera energética existente apenas em Gaya, que poderia ser utilizada para fins muito maiores e cruéis. Entretanto, realizada a manobra, as personagens de Gaya acidentalmente vêm junto com a esfera.
Agora, enquanto lutam pela sobrevivência num mundo desconhecido, de imensas dimensões, devem resgatar a esfera e voltar a Gaya – e acabam encontrando o próprio criador do programa. A materialização das personagens no mundo real aciona questionamentos interessantes sobre, por exemplo, destino, intervenção divina e livre arbítrio, porque, no programa, devem seguir um destino inventado pelo criador; no mundo real, fazem suas próprias escolhas.
Com moldes gráficos que remontam ao videogame Jak & Daxter, especialmente na construção das personagens, a animação utiliza uma técnica que aproxima o desenho da realidade, mas não o deixa inteiramente real. Efeitos de luz, poeira, fumaça e sombra, além de diferentes texturas, como roupas e cabelo, são bem realistas, mas as cenas são naturalmente inverossímeis, e as personagens humanas parecem caricaturas. A técnica comete falhas na movimentação dos elementos em cena – a naturalidade que a Pixar consegue atingir é, aqui, pouquíssimo vista.
As cópias brasileiras, dubladas, aliam uma dublagem estranhíssima à movimentação irreal e atrapalham várias vezes o andamento das cenas. Há pouca emoção nas vozes, algumas não se encaixam na imagem, outras simplesmente não combinam com as personagens. É o caso de Sabrina Sato, que utilizou um sotaque caipira para a princesa Alanta; soa bizarro, às vezes desagradável, e especialmente chocante quando sua voz é ouvida pela primeira vez.
A Terra Encantada de Gaya marca a entrada da Alemanha no universo dos longas inteiramente computadorizados, mas é, ainda, mais do mesmo. Repleta de cenas tensas, um prato cheio para os que procuram diversão imediata, a película peca por personagens rasas e enredo muito linear, com poucas surpresas. Mas, agora que os alemães já provaram competência no que concerne ao técnico, falta apenas incrementar aquele conteúdo mais sutil, que os olhos não vêem.
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