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Críticas

Cineplayers

George Lucas finalmente se redime com um filme à altura do nome que carrega.

8,0

A espera finalmente chegou ao fim. Havia muito receio com relação a Star Wars: Episódio III - A Vingança dos Sith, afinal, os dois primeiros filmes desta nova trilogia foram recebidos de maneira bastante fria por muita gente. Só que George Lucas consegue resgatar a honra da série com um filme que não funciona apenas por si só, mas também dá uma nova diretriz a todos os episódios anteriores (incluindo a trilogia original) de forma absolutamente satisfatória, ao ligar todos os fios que ficaram soltos com o desenrolar da trilogia. Nada foi esquecido.

A história começa à toda, com Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) e Anakin Skywalker (Hayden Christensen) em meio a uma batalha espetacular - uma das melhores da série, por sinal. Os dois estão tentando resgatar o Chanceler Palpatine (Ian McDiarmid), que está em poder do maligno Conde Dooku (Christopher Lee). Com o desenrolar da trama, Anakin mantém total confiança no Chanceler, ao mesmo tempo em que desconfia dos Jedi e é seduzido pelo lado negro da força, com promessas de poderes infinitamente maiores do que ele tem como um 'simples' Jedi - forças que poderiam salvar Amidala (Natalie Portman) de um trágico futuro.

Tudo tem início logo após as Guerras Clônicas vistas na animação homônima que passou no Cartoon Network. Só que se você não acompanhou os episódios, não se preocupe. Apesar deles ajudarem a entender melhor as entrelinhas de muitas coisas, não são indispensáveis para o entendimento geral do que está acontecendo. Mais uma vez há muita política, mas que graças a Deus não ocupa mais do que meia hora de filme - a pior parte, por sinal. Se antes tudo era muito complicado, aqui fica fácil de se entender o que está passando, talvez pelo tom conclusivo que as coisas vêm tomando.

Quando disse que o Episódio III dá uma nova dimensão aos episódios anteriores, quis dizer que ele aproveita muito bem tudo o que a série já mostrou até hoje. Logicamente isso será um recurso aproveitado apenas por quem entende um pouco mais da saga, como algumas deixas ou presentes para os fãs - que, durante suas quase duas horas e meia, não irão faltar. Se antes Luke era o personagem principal dos filmes, com esta nova trilogia Darth Vader passa a ser a peça principal de tudo. Os filmes se iniciam e terminam com ele. Não que a importância dos demais personagens tenha sido ridicularizada, mas o trabalho em cima do vilão foi tão bem feito que até os outros dois filmes anteriores ganharam uma nova importância se pensados como um todo.

A seqüência com Chewbacca é totalmente gratuita, mas os fãs não reclamam nem um tiquinho por isso. É o perfeito exemplo de que o filme vai ser melhor aproveitado por esse público específico, que vai delirar com os elos sendo estabelecidos entre os trabalhos (outro exemplo é o sabre de luz usado por Ewan, idêntico ao que Guiness usara na trilogia original). Assim como diversas outras seqüências, que prefiro não comentar, para não estragar as surpresas para as pessoas que ainda irão assistir ao longa. Ah, como curiosidade, tentem achar o diretor George Lucas em uma das passagens. Uma dica: ele está todo de azul, parado, quando a câmera passa por ele. É fácil reconhecê-lo, apesar da maquiagem.

Uma grande característica da série, que havia inexplicavelmente ficado de fora dos dois primeiros filmes desta nova trilogia, está de volta com força total: o humor. Os dois principais personagens nesse sentido são Obi-Wan e um surpreendente R2-D2, tirando o lugar do sempre engraçado C-3PO (antes ele participava de situações onde claramente não se enquadrava). O pequenino robô azul rouba, inclusive, algumas cenas de ação, mostrando que ainda tem cartas na manga mesmo depois de tantos anos nas telas. Os atores que interpretam os personagens, Anthony Daniels (C-3PO) e Kenny Baker (R2-D2), são os únicos que participaram de todos os seis filmes, já que fizeram os mesmos papéis tanto nos antigos quanto nos novos longas.

Ewan McGregor se firma como o herói da nova trilogia e dá uma boa 'base' para o Obi-Wan mais velho do Sir Alec Guiness, aperfeiçoando o modo de se mover e falar do ator. Ewan foi um dos que mais teve problemas ao trabalhar com a totalidade de fundos verdes, chegando, inclusive, a ter problemas com bebidas por causa da falta de ânimo, durante as filmagens de O Ataque dos Clones. Problema superado, temos um Obi-Wan mais divertido e ativo nas cenas de ação, principalmente no tão esperado confronto entre ele e Anakin - aliás, parabéns para os coreógrafos do filme, as batalhas estão espetaculares!

Hayden Christensen, mesmo que não seja um espetáculo como ator, está melhor do que o de costume, e é outro que claramente se sentiu incomodado com o 'nada' dos sets. Seus melhores momentos são mesmo quando Anakin está se tornando Darth Vader, pois o conflito interno do personagem está sempre presente, de forma avassaladora. Os piores, mais uma vez, são as mal escritas seqüências de amor entre ele e Amidala, que não convencem nunca - principalmente pela importância que tem na história. Há uma constante sensação entre os dois que está faltando algo. E esse algo é emoção. Porém, o ator teve a honra de vestir a armadura de Darth Vader.

Na seqüência em que Vader ganha vida (o momento que antecede não é menos espetacular), com a respiração e tudo mais, é, provavelmente, um dos mais eufóricos momentos de todo o filme - e desde já uma das seqüências mais clássicas de toda a saga. É importante avisar que ele não entra em ação nem nada, apenas marca sua presença. É bom falar isso para que ninguém vá ao cinema pensando uma coisa e se decepcione ao ver outra. Apesar de David Prowse não repetir o papel do vilão como fizera na trilogia original (ele teve desavenças com Lucas), James Earl Jones foi convidado para reprisar a tão marcante e clássica voz do vilão. Sinceramente, foi algo verdadeiramente emocionante.

Natalie Portman teve sua participação significativamente reduzida, mas justificada por causa de certos gêmeos que carrega na barriga. Ela não chega nem a ter presença ativa no senado, para se ter uma idéia, mesmo que sua personagem seja peça chave para toda a história. Samuel L. Jackson demonstra ferocidade com o sabre de luz em uma das inúmeras batalhas com a arma que há no filme. Mesmo que ela se conclua rápido demais, a sensação que fica é positiva. Algo que não se repete no combate entre Obi-Wan e o espetacular General Grievous, que apesar de se mostrar um personagem fabuloso, acabou tendo sua participação prejudicada por um combate precoce demais, quando claramente havia potencial para mais.

Christopher Lee, depois de dar tanto trabalho aos heróis em O Ataque dos Clones, também aparece de maneira relâmpago em A Vingança dos Sith. Já Yoda, mais uma vez com a voz marcante de Frank Oz, aumenta ainda mais o que fora mostrado no episódio anterior e participa ativamente de diversas partes, tanto com seus diálogos característicos quanto com o seu agora conhecido potencial de luta. Chewbacca ficou por conta de Peter Mayhew, o gigante de dois metros e vinte e um, reprisando o seu papel da trilogia original. Pelo menos dessa vez a roupa do ator continha um avançado sistema de refrigeração...

É, sem dúvida, o filme mais sombrio de toda a série. Durante toda a destruição dos Jedis (isso é tão segredo quanto que Anakin irá se tornar Vader), algumas passagens não parecem nem ter vindo de Lucas, principalmente no que se refere ao destino dos jovens Jedis, que ainda estavam em treinamento. Todas as atitudes de Anakin vão se tornando gradativamente piores, cada vez mais cego pelo lado negro da força. Vai ser impossível, por exemplo, não sentir raiva do garoto quando este tomar uma atitude contra Mace Windu, o personagem do respeitoso Samuel L. Jackson. O Imperador aparece de maneira significativa, revelando-se o cruel homem que comandaria o ditador império nos episódios seguintes.

Apesar de toda a parte de efeitos especiais ser fantástica (há algumas passagens simplesmente inacreditáveis), tive a mesma sensação de falta de um cenário real em meio a tanta coisa criada por computador. Eu gosto de locações ou estúdios construídos. Tudo no computador, querendo ou não, fica artificial como um todo. A sensação de realismo do primeiro filme, por exemplo, só existe nos cinco minutos finais, quando toda a tecnologia é deixada de lado para dar uma 'sujadinha' nos equipamentos para que a conexão com o Episódio IV fique menos gritante, tecnologicamente falando - aliás, esse retrocesso também é justificado, de forma indireta, então preste atenção no contexto da história.

A religião da 'força' volta a funcionar porque o filme é divertido e contém sua mensagem. George Lucas se redime completamente com um longa que mistura bem o estilo antigo com o novo, filme importante e que liga de maneira tão perfeita os fios da meada, que deixa os outros dois trabalhos melhores do que eram antes. Ao final da sessão, a sensação ambígua que fica é normal. Afinal, estamos tristes por ter acabado a saga nos cinemas (ela trilhará os caminhos da televisão agora, apenas com supervisão de Lucas, mas com diversos outros autores), mas bastante felizes por ele ter nos presenteado novamente com um Star Wars digno do nome que carrega.

Só nos resta agradecer. Quem sabe, um resultado muito positivo não faça Lucas repensar a idéia de filmar os Episódios 7, 8 e 9? Não custa nada sonhar...

Comentários (5)

Felipe Caldeira | quinta-feira, 20 de Novembro de 2014 - 19:47

"Quem sabe, um resultado muito positivo não faça Lucas repensar a idéia de filmar os Episódios 7, 8 e 9? Não custa nada sonhar..."

Parabéns, Rodrigo! Você ganhou o "Prêmio Mãe Dináh" da rodada!

Lucas Souza | quinta-feira, 20 de Novembro de 2014 - 20:05

KKKKKKKKKKKK

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