Fatih Akin ficou famoso por abordar a diferença e a diversidade cultural em filmes como Contra a Parede e Do Outro Lado. A mão pesada, uma certa amargura e pessimismo viraram marcas registradas deste diretor alemão descendente de turcos, que resolveu experimentar algo novo e se aventurou pelo mundo da comédia com seu novo título.
Soul Kitchen também aborda a questão das diferenças culturais nas grandes cidades européias e passa por uma delicada questão: a relação entre os gregos e turcos na Europa atual mas, diferente dos títulos anteriores, é divertido e de uma leveza contagiante.
Zinos é dono de um restaurante meia-boca onde os clientes estão acostumados a beber sua cerveja e a comer congelados fritos na hora. Pressionado pelo governo pelos impostos devidos e pela vigilância sanitária pela inadequação de sua cozinha ele precisa decidir se vai vender o estabelecimento para o amigo mal intencionado ou se vai reformular todo o cardápio e mudar a cara do local ao contratar um novo e chefe de cozinha.
Além disso, ele ainda tem que lidar com a partida da namorada que acaba de ser transferida para Xangai, com uma dolorida hérnia de disco e com o irmão trapaceiro que acaba de ter sua liberdade condicional concedida.
O roteiro é uma parceria de Akin e o ator – que aqui também interpreta o protagonista – e dono de restaurante Adam Bousdoukos, e concilia bem tanto a vontade de mudar do primeiro com o “conhecimento de causa” do segundo.
O conjunto de eventos, ainda que por vezes aposte em situações extremas ou ingênuas, é divertido e naturalmente conquista o público com seu humor. A fórmula de usar tantas coisas acontecendo em tão pouco tempo é diferente da que se encontrada no cinema cômico europeu da atualidade, bem mais discreto e contido.
Os personagens são fundamentais para o filme. Zinos é tão encantadoramente fracassado que é quase impossível não torcer para que as coisas funcionem da melhor maneira com ele. E até os pequenos papéis são igualmente deliciosos, como o velho encostado que aluga a parte de trás do restaurante para construir um veleiro, a avó durona de sua namorada e o novo estressado e perfeccionista cozinheiro.
A trilha sonora conta com nomes como Kool & The Gang, Quincy Jones, Dyke and The Blazers, Burn Spear e dá um toque todo especial à mistura de sensações que é Soul Kitchen. E o conjunto de acontecimentos, por mais que não seja verossímil, está muito bem amarradinho, salvo alguns momentos desnecessários de prorrogação dos fatos, como na noite do banquete afrodisíaco.
O resultado final é um Akin bem diferente do que estamos acostumados a ver, mas ainda assim imperdivel. Com problemas menores e acertos maiores, o que mais impressiona no filme é como ele consegue mudar o astral das pessoas que o assistem que, por mais angustiadas que elas tenham ficado em uma cena ou outra, saem da sala de projeção com aquela sensação de felicidade difícil de ignorar.
Os créditos finais com cara de flyers de festas merecem ser assistidos até o final.
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