O clube mais vezes campeão brasileiro merecia uma homenagem mais rica.
Documentários sobre times de futebol são difíceis de serem criticados porque mexem com paixões – e essa emoção exacerbada faz com que os torcedores do clube em questão fiquem cegos para os defeitos da produção. Entretanto, por ser torcedor do São Paulo Futebol Clube, sinto-me à vontade para escrever – e principalmente criticar – este retrato dos seis títulos brasileiros do tricolor paulista.
Mesclando os depoimentos de torcedores com os de ídolos do clube, Soberano (idem, 2010) é dedicado exclusivamente às seis conquistas do principal campeonato nacional. O documentário começa equilibrado, contando de forma sucinta a forte ligação de alguns torcedores com o São Paulo e as imagens das primeiras conquistas do clube. O problema neste ponto é o foco quase exclusivo nas decisões, deixando de lado a jornada que levou o time até aquele momento. Mesmo assim, as partidas, disputadas pelo sistema eliminatório, são emocionantes por natureza – e a decisão contra o Guarani no final da década de 80, por exemplo, é capaz de deixar o espectador nervoso, tenso e, consequentemente, emocionado com o desfecho vitorioso.
Mas é a partir desse momento que os problemas começam a aparecer e se tornam cada vez mais presentes. A emoção começa a sumir e, sem elementos de maior interesse, a história das conquistas recentes – ainda frescas na memória– não acrescentam nenhuma experiência nova na relação clube-torcedor, já que os próprios depoimentos pouco contam de novo. Como não existe apelo emocional forte, o diretor Carlos Nader optou por recorrer à trilha sonora, elevando os acordes que transmitem tensão. O apelo excessivo ao som, com direito a aumento do volume, é uma opção tão barata quanto o uso da trilha para assustar a plateia em um filme de terror.
Além disso, o documentário peca por mostrar a história do clube sob a perspectiva dos torcedores. No papel, essa é mesmo a opção mais coerente, mas o resultado ficou frágil. Em outros trechos, as entrevistas com ídolos antecipam os momentos de clímax das partidas, em uma opção precipitada por colaborar com a perda da emoção. A lógica mais apropriada seria a inversa, primeiro a exibição do lance, depois o comentário do jogador, treinador ou torcedor.
Quando o filme entra na era dos pontos corridos, a graça praticamente se esvai. E a justificativa de que os títulos tiveram pouca emoção não é válida para esconder as escolhas equivocadas do roteirista Mauricio Arruda e do diretor Nader. A escalada do São Paulo até os títulos poderia ser narrada de forma a mostrar jogos emocionantes do clube dentro da competição, o constante sobe e desce na tabela de classificação, as derrotas dos times à frente, os tropeços do próprio São Paulo, a tentativa de outros clubes de se aproximarem, e assim por diante. Faltou tato para narrar e mostrar a angústia que existe dentro de um campeonato por pontos corridos – no de 2008, por exemplo, não faltou emoção, mas o documentário tratou de transformar a conquista em algo burocrático.
Soberano pouco consegue contar de diferente, não sai do lugar comum, e não serve como homenagem definitiva ao maior campeão brasileiro da história.
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