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Críticas

Cineplayers

Uma realidade crua e nua do submundo das drogas na Austrália.

7,0

Sob o Efeito da Água não é um filme agradável. Traz Cate Blanchett trabalhando como uma gerente de locadora de DVDs em Cabramatta, subúrbio de Sidney que tem o apelido de Little Saigon pela grande quantidade de vietnamitas que moram nele e por ser a capital da heroína na Austrália. A própria personagem de Cate é uma ex-drogada que acaba de sair de uma clínica de desintoxicação. Ela tenta reconstruir a vida ao lado namorado vietnamita, que voltou de Toronto, no Canadá, e vai trabalhar no mercado de ações de Sidney. Até aprendeu algumas palavras da língua dele. Seus esforços, porém, serão inúteis.

O filme mostra, como alguns outros, como a classe média baixa de países desenvolvidos se envolve com as drogas, basicamente pelos motivos que os nossos favelados. Sem dinheiro nem esperança de ascensão social, apelam para o que seria um caminho mais fácil. Acham que satisfazendo os viciados endinheirados conseguirão um futuro melhor. Geralmente vão se dar muito mal, seja por problemas com a polícia ou porque não vão resistir e se transformarão eles próprios em viciados que não têm condições de manter o vício.

Cate está fascinante, como sempre, no papel da trintona destruída. Seu irmão envolveu-se em um acidente de carro com o namorado (estavam ambos drogados) e perdeu a perna. A mãe vive em uma marcação cerrada. Na tentativa de ter um negócio próprio, pede empréstimos para os bancos locais, mas os bancos negam-lhe crédito por conta do seu currículo (até fraude de cartão de crédito ela andou metida).

O diretor não poupa nada nem ninguém. Faz quase um documentário sobre a tragédia pessoal dessa família. Entram em cena o melhor amigo da personagem, Hugo Weaving, antiga estrela do futebol hoje completamente viciado – foi ele quem a introduziu na droga – e Sam Neil, como o chefão local do tráfico – ele é casado, mas mantém casos homossexuais com adolescentes, que lhe custará um divórcio escandaloso. Os dois já foram amantes e trocam um beijo logo no início do filme. 

A Austrália apresentada no filme está bem longe da imagem de único país desenvolvido dos trópicos: suja, viciada e corrompida. A trama resumida acima ainda terá morte por overdose, suborno, roubo, extorsão e assassinato até que termine, tudo filmado precisamente, sem exageros. Tudo parece crível e, por isso, implacável.

O mérito do filme é esse: ser uma análise aterradora, desmistificante e plausível. Não é um filme para se apaixonar por ele, pois é impossível ante tamanha sordidez. É possível, sim, admirá-lo pela crueza, exatidão e honestidade em tocar em temas difíceis sem ser tendencioso (e, a bem da verdade, não muito criativo também).

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