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Críticas

Cineplayers

O filme que lançou a Dreamworks no mercado forte da animação é ainda hoje lindíssimo.

8,0

Shrek foi, em 2001, uma grande investida da Dreamworks frente ao domínio absoluto da parceria entre Pixar e Disney no mercado de filmes de animação em três dimensões. E a empresa de Spielberg não poderia ter iniciado a disputa de forma mais explícita: que tal um filme que detona com todos os estereótipos que a Disney vem propagando nas suas animações desde 1937, com o lançamento de  Branca de Neve e os Sete Anões? Pois Shrek é isso, desde a primeira cena ele tira sarro dos mundos de contos-de-fada improváveis de existirem na vida real, virando-os de cabeça pra baixo: nada de princesas ou príncipes lindos e castelos suntuosos, Shrek vive em um pântano e é considerado por todos os habitantes das redondezas como o ser mais feio e temido que há.

Mas na realidade não é bem assim, Shrek quer apenas paz e sossego em sua vida. Isso ele tem de sobra, pelo menos até que o impiedoso Lorde Farquaad resolve exilar todos os personagens de contos-de-fada que existem no seu reino para dentro da floresta... onde está localizado o pântano de Shrek. O sossego do ogro verde chegou ao fim! Agora ele deve tirar satisfações pessoalmente com Farquaad para rever sua floresta intacta. Shrek consegue um acordo: se resgatar para o Lorde uma princesa que está adormecida em um perigoso e longínquo castelo, Farquaad devolve a paz a ele. Então, ao lado do burro Donkey (na versão original), Shrek parte em uma aventura inesquecível, e obviamente cheia de referencias a desenhos clássicos da Disney, aproveitando por conta para parodiar também filmes populares, como Matrix, por exemplo.

Toda essa misturança fez um sucesso danado, rendendo centenas de milhões de dólares ao redor do mundo, somente nos cinemas. Em DVD, o filme foi um sucesso ainda maior, batendo todos os recordes na época de seu lançamento. E tem razões para o sucesso: Shrek conta com piadas engraçadíssimas, que misturam humor escatalógico com pegadinhas espertas, qualidade de animação espetacular (o filme fica magistral em DVD), com um dos coloridos mais vivos e visualmente encantadores já vistos no cinema e uma trilha sonora moderna e ousada para o gênero, que definitivamente não faria parte do repertório de um filme da Disney. Obviamente, parte das piadas tem um gosto especial para quem conhece as referências propostas, mas mesmo elas não se tornam necessárias para o aproveitamento do filme, já que as crianças dificilmente entendem tais referências, e o filme é também feito para elas.

Por falar em crianças, é claro que logo se passa pela cabeça da maior parte das pessoas que o filme é uma historinha infantil e ponto final. Mas não é bem assim: Shrek possui muitos detalhes que só os adultos vão pescar, e às vezes a gozação em cima das clássicas histórias da Disney é bem pesada. Nada, claro, para manter os pirralhos longe, já que seria uma decisão comercialmente terrível. No final das contas pode-se considerar o humor encontrado em Shrek, em comparação com os filmes rivais da Pixar, muito mais interessante, pelo menos no sentido de inteligente e ousado. Ponto para a Dreamworks, que se propôs a realizar algo diferente em um mercado já saturado (mas ainda sedento, vide o sucesso fenomenal de Procurando Nemo) por historinhas previsíveis clássico-clichês da Disney.

Mas Shrek também possui seus clichês. O filme pode ser visto como sendo um pouco hipócrita se analisado mesmo superficialmente. Afinal, se por um lado ele critica e vira de cabeça pra baixo as historias clássicas, ele acaba apenas as modificando, porém a estrutura é a mesma. Troque, apenas por exemplo, elementos como “mocinho bonito” por “mocinho feio”, “princesa educada” por “princesa bocuda”, e por aí vai. Porém o filme faz isso de maneira tão perfeita, com uma estrutura narrativa tão encantadora (a história flui sempre com interesse pelo acontecimento futuro), que é fácil se deixar ser enganado.

O filme possui vozes, no original, de um grande elenco, liderado por Mike Myers (Shrek), Eddie Murphy (Donkey) e Cameron Diaz (Princesa Fiona). Aqui no Brasil Shrek recebeu uma dublagem razoavelmente decente (embora nem sempre bem sincronizada) de Bussunda, do Casseta e Planeta. A trilha sonora é com certeza outro ponto que fez do filme um sucesso estrondoso. Com grandes sucessos, e faixas muito agitadas, os personagens têm até um showzinho especial no final do filme (e o DVD explora ainda mais essa parte sonora, apresentando clipes muito divertidos com todos os personagens de contos-de-fada que aparecem durante o filme). Abaixo está a lista de todas as músicas existentes no CD da trilha sonora do filme, que é recomendadíssimo:

    * All Star
    * On the Road Again
    * Friends
    * Whipped Cream
    * Escape
    * My Beloved Monster
    * You Belong to Me
    * Hallelujah
    * Try a Little Tenderness
    * I’m a Believer
    * Meditation
    * Welcome to Duloc
    * Bad Reputation
    * I’m On My Way
    * Merry Men
    * Stay Home
    * Best Years of Our Lives
    * Like Wow!
    * It is You (I Have Loved)

Shrek é para muitos, incluindo para mim, o melhor filme de animação em 3D já lançado, mesmo contando todos os filmes da Pixar (Toy Story 2 chega muito perto). É uma combinação muito bem realizada de visual e roteiro, que sai, pelo menos um pouquinho, do feijão-com-arroz dos filmes do gênero. É um filme que pode se ver e rever sem se enjoar, pois a animação é tão bela e a história tão divertida que fica difícil se chatear. Um desenho (embora “desenho” seja uma palavra vulgar para representar o que Shrek é) que traz conteúdo para crianças e adultos, e mesmo que tire com a cara dos clássicos da Disney, deve ser assistido por todos os amantes dessa empresa. Esse certamente eu recomendo!

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