Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

De boas intenções…

5,0
Famosa comediante stand-up, Amy Schumer já havia se destacado pela série de televisão Inside Amy Schumer, realizada desde 2013, e Descompensada, filme dirigido por Judd Apatow escrito e protagonizado por ela. Agora, além do humor ácido, também ataca no terreno das comédias mais família com Sexy Por Acidente, que embarca na popular temática atual de auto-imagem e aceitação do próprio corpo.

Ao contar a história de Renee, mulher de tamanho plus-size e com um emprego ingrato que um dia se acidenta na academia e passa a se ver como bela, sensual e empoderada, o filme tem em sua estrutura uma referência óbvia, assumida inclusive em uma das cenas: o clássico infanto-juvenil com Tom Hanks Quero Ser Grande. A história do protagonista que passa a viver em uma realidade diferente daquela com a qual sente-se insatisfeito não é nada inédito, e o filme já chegou a ser comparado, por exemplo, com O Amor é Cego, dos irmãos Farrelly - com a diferença de que não é o protagonista fútil que tem de aprender a aceitar os outros, mas sim livrar-se das pressões sociais para aprender a se aceitar. 

Dirigida pelo casal de parceiros roteiristas Abby Kohn e Marc Silverstein, responsável pelo clássico das comédias românticas Nunca Fui Beijada, o filme realmente tenta soar o mais simpático possível na escalada da protagonista, que vai de uma pessoa envergonhada e tensa a alguém confiante, que galga posições na sua empresa e arruma um namorado sensível e apaixonado. Dá sinais também que em seu “delírio sensual” cobrará seu preço, pois a protagonista passa a desenvolver uma arrogância cada vez maior no dia-a-dia, desprezando amigas e desconhecidos que ela julga não se encaixarem nos padrões.

O principal motivo de riso de Sexy Por Acidente é bem simples: Renee se julga alguém dentro dos padrões quando não o é, bem como se sente novamente inadequada e incapaz se em algum momento o seu pacto “faustiano” for embora. Sobre empoderamento da auto-imagem, bem, temos pouco: a protagonista demora para se tocar e aceitar como ela mesma é, em um elemento final e repentino. O supracitado O Amor é Cego, por exemplo, construía ao longo da história como Hal, personagem de Jack Black, era um sujeito fútil, cheio de preconceitos, e passava a amar a namorada acima do peso, lutando para ser digno do seu amor assim que o perdia. Para Sexy Por Acidente basta um par de cenas de conclusão onde a protagonista quase perde um mea culpa.

Faltou algo de confrontação do filme. Quando os personagens, inclusive potenciais antagonistas deixam para Schumer toda a construção da piada, o filme todo passa a revolver nela mesma, como se o preconceito com pessoas acima do peso e manequins maiores fosse puramente interno e a grande maioria não se incomodasse de verdade. Renee não deveria esquecer quem é por tanto tempo, pois é algo que trai as boas intenções do filme.

Do jeito que está, o que temos é uma comédia romântica comum e ordinária do século 21, onde a protagonista feminina balanceia de maneira atrapalhada trabalho e amor e seu principal interesse fica um tanto fugidio ao longo da trama. Falta também mais personagens como a perua excelentemente estereotipada de Michelle Williams como a herdeira de império de moda Avery LeClaire, que até aparece pouco. O recado nesse sentido é claro: Schumer é a estrela principal e ninguém pode competir por seu palco, o que é uma pena, já que uma competição saudável com certeza não faria um resto de elenco tão morno, inofensivo e pouco memorável.

Bem-intencionado e simpático até dizer chega, Sexy Por Acidente não arrisca muito para sair do terreno do água-com-açúcar esquecível, onde a fórmula de Quero Ser Grande se revela batida após tantos filmes utilizarem da mesma prerrogativa sem conseguir construir um caminho argumentativo realmente funcional para o que pretende comunicar ao seu público. Resta um recado final expositivo, em forma de discurso com palco, que até emociona de maneira isolada (não há dúvidas que cairá nas redes sociais como momento motivacional), mas como obra em si é muito pouco, restando um filme tímido e inofensivo que jamais faz questão de sair do “zero a zero”.

Comentários (0)

Faça login para comentar.