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Críticas

Cineplayers

Nas esquinas dos encontros.

8,0
Qualquer cinéfilo já acompanhou o processo desde o início do cinema, até antes de surgir o termo cinéfilo: de uma premissa extremamente simples, pode surgir um grande filme, e até um complexo. Felipe Hirsch é um artista que já não se fecha mais em uma via. Ultra premiado no teatro com montagens como a de Avenida Dropsie, estreou nos cinemas há alguns anos com um filme que hoje está esquecido para o bem de todos, inclusive dele mesmo. 

Mas se Insolação era uma experiência tão pretensiosa que fez todos ignorarem o projeto, encontrando exclusivamente o Hirsch teatral, lá a matéria prima simplificada dava origem a uma tentativa de rebuscamento estético que mais repelia do que aproximava. A partir desse episódio, conseguimos observar o reajuste de foco do diretor e a tentativa de absorver algo verdadeiramente frugal. Como se o cinema fosse uma arte mais intrusiva que o teatro e a necessidade de buscar o menor fosse a meta.

Baseado num conto de Rodrigo Rey Rosa, Hirsch foi atrás de uma simplicidade estética e narrativa que não está nos seus espetáculos teatrais ou na sua estreia cinematográfica. O pulo do gato aqui é observar esse cotidiano de conquistador e sua conquista, tão simples quanto possível. Com ainda pouca experiência nesse formato, é louvável o avanço entre um projeto e outro. A fotografia de Rui Poças é imponente e compõe muito bem a proposta do diretor desse universo que mistura lirismo e casualidade, transmutando uma cenografia real em algo fantasmagórico vez por outra. Unidos, fotografia e direção moldam não apenas o filme, mas a nossa percepção sobre o que ver e como ver, e embora o paternalismo no cinema não me agrade per se, a viagem climática de Hirsch esbanja sedução.

O protagonista vivido por Javier Drolas tenta se manter senhor das ações, mas o máximo que consegue é ser títere do destino que o arremessa. Manipulado pelo desejo e por outros personagens, conseguimos entender o cansaço inerente do mesmo e sua clara vontade de fugir de uma realidade maior que ele e que não o interessa mais. A melhor via para isso seria de fato o sonho, a possibilidade do real construída na areia movediça, um herói trágico por excelência. A chegada em cena de sua partner Carla Quevedo possibilita a desestabilização dele e do filme enquanto estrutura, e a partir daí o caráter do mesmo passa a seguir o dessa figura ambígua.

A pegada instintiva da trama aumenta com o aparecimento do monstro Alfredo Castro, que interpreta o mantenedor do todo. Sua presença aumenta o olhar para o gênero que Hirsch sutilmente lança, se aproximando das amarras que Tomás Alfredson lançou em Deixe Ela Entrar e propondo nova ressignificação nesse longa que tenta e alcança quanto mais direto e carinhoso, num jogo erótico de voltagem calibrada e influência da literatura em sua gênese, em uma forma de amalgamar artes e promover um passeio livre entre o cinema (e suas muitas vertentes), a literatura (e a poesia mergulhada) e o teatro (dentro do jogo de máscaras sem fim que o filme apresenta - ou não). 

Visto no Festival do Rio 2017

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