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Críticas

Cineplayers

O faroeste da diversidade.

6,5
É difícil encarar algumas refilmagens, mas é bom ver westerns no cinema. É tão raro, especialmente longe dos grandes centros. Esse Sete Homens e Um Destino não é bem uma refilmagem, mas uma obra baseada no filme homônimo de 1960, que por sua vez fora baseado em Os Sete Samurais (Shichinin no Samurai, 1954), de Akira Kurosawa. O clássico japonês se passa durante o Japão feudal do século XVI e trazia um samurai convencido a defender uma aldeia constantemente saqueada por bandidos. A versão de 1960 se apropriou da ideia e a contextualizou na fronteira entre o México e o Texas, em uma pequena cidade oprimida por um implacável pistoleiro. Nessa nova versão, um rico criminoso latifundiário, Bartholomew Bogue (vivido por um Peter Sarsgaard pouco ameaçador), assola uma cidadezinha do velho Oeste, fazendo seus moradores abandonarem suas casas, deixando rastros de violência e a ira nos olhos de uma mulher.

O competente diretor Antoine Fuqua, de Dia de Treinamento (Training Day, 2001) e do recente Nocaute (Southpaw, 2015), tem aqui nova parceria com Denzel Washington, ator que carrega um prestígio de bom-moço no imaginário americano, de maneira similar e bem menos heroica e emblemática que John Wayne, à época, carregava. Aliás, perceba que a presença de seu personagem, o inclemente tenente Sam Chisolm, remonta a presença de Wayne sobre um cavalo, com seu figurino alinhado e feição letal quando vê um alvo sob a mira. Sam Chisolm, que só veste preto num possível luto simbólico, carrega motivações enigmáticas e se responsabiliza pela convocação do grupo de magníficos que rumarão juntos até um destino em comum.

Juntam-se homens renegados seduzidos por alguma bonificação e têm-se uma premissa para a concepção de um roteiro. Já a história, ligeiramente comentada anteriormente, abarca uma linha bastante curiosa, dedicada à diversidade étnica de seus personagens. É um interessante ponto até o momento que soa exagerado nesta reprodução da globalização no meio western. São sete homens, entre eles um negro, um asiático, um mexicano e um índio. O humor pouco requintado – na maior parte do tempo sob responsabilidade de Chris Pratt – funciona ora ou outra. Entre duelos e piadas, acompanhamos a origem de cada um juntamente às justificativas de suas existências ali no meio. Boa parte do filme é introdutória e cozinha as relações entre subtramas particulares para finalmente chegar ao que interessa, aos seus 40 minutos finais: o aguardado embate.

Fuqua privilegia a subjetividade de cada um de seus sete homens, envolvendo-os num recinto de particularidades, como sete heróis que precisam vencer a sujeição de suas existências. Somam-se aos quatro mencionados três caucasianos: o velho gordo, o apostador mulherengo piadista e o supersticioso que teme fazer o que faz de melhor. E há uma oitava presença, a mulher vingativa. São elementos que contribuem com a construção de toda a história, alçando as individualidades a fim de proporcionar identificações que se naturalizarão pelo leque de arquétipos sugeridos. A ação incrementa tudo fazendo com que o filme se desenrole leve, dosado e abarrotado de tiradas – em certo instante até parece uma versão de Os Jovens Pistoleiros (Young Guns, 1988). É uma obra para todos e não somente para fãs do gênero. Antoine Fuqua está tratando de tempos contemporâneos em seu faroeste da diversidade, sendo o vilão o capital.

Nesta versão, fãs do gênero irão encontrar citações ou referências perdidas, especialmente nos instantes em que a câmera procura reprisar planos visando aliança com obras-primas do passado. Entre eles, o plano aberto que demarca fronteiras enquanto o sol brilha sobre campos descoloridos; o insistente e indispensável close up nas armas em punho prestes a ação; a expectativa frente às ameaças em torno de muitos, estando oponentes frente a frente esperando para sacar suas armas, entre olhares duvidosos e inseguros, típicos de Leone; e também a condução narrativa que implica em locais comuns do western, como o saloon e o silêncio após um estranho entrar e caminhar para o bar a fim de pedir uma bebida forte, ocupando território. São demarcações do faroeste que ambientam Sete Homens e um Destino tematicamente.

Pouquíssimo acrescenta ao antigo. Traz elaborações distintas e visa outras finalidades narrativas, além de ser um entretenimento funcional até mesmo para o público que torce o nariz para os filmes do velho oeste. E ainda tem uma interessante personagem que vive as amarguras que considerável parte das personagens femininas dos faroestes vivem: a dor da perda e o desejo por vingança. Haley Bennett com sua Emma Cullen, apesar do pouco tempo em cena e sendo salva pelos homens, tem créditos e se desenvolve em tempos de protagonismo feminino em filmes os quais geralmente são meras coadjuvantes. Sua mira é precisa e ela é um dos mais consideráveis acertos da produção.

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